É verdade. A 5 de novembro de
2000, após uma derrota em casa ante o Tenerife (1-2), o Atleti
caiu para a 19.ª posição, ao cabo de onze jornadas. Se o campeonato terminasse
naquele dia, desceria para a II Divisão B. No dia seguinte, Paulo
Futre iniciou funções como diretor desportivo e começou a arrumar a casa.
Já depois de ter mostrado os testículos a todo o plantel, para pedir tomates
aos jogadores para saírem daquela situação, e de gerir a contestação ao
presidente Gil y Gil, começou a analisar o mercado à procura de um lateral
esquerdo, um trinco e um extremo. Certo dia, recebeu uma chamada
daquele que era o principal agente português na altura, José Veiga, que lhe
propôs a contratação de Dani,
um talentoso esquerdino capaz de jogar nas alas ou atrás do ponta de lança, mas
que estava completamente queimado no futebol devido à sua vida boémia. Tinha contrato com o Benfica,
mas as águias
queriam ver-se livres dele a todo o custo. Futre
mostrou-se reticente, mas surpreendeu Veiga ao questionar as condições
financeiras, pois já meio mundo haviam recusado o internacional português, e
levou a estrutura do Atlético
Madrid à loucura quando explicou a situação, recordou no livro El
Portugués, publicado em 2011. “Fazemos um contrato por objetivos com uma
cláusula para nos protegermos. À mínima que faça, rescindimos contrato”,
propôs. A resposta de Gil y Gil, que ainda se recordava do golaço que Dani
marcou ao Atleti
pelo Ajax
nos quartos de final da Champions
em 1996-97, foi explícita: “Mas tu estás louco? Queres transformar o Calderón
numa casa de putas?!” Mas como o presidente colchonero
não tinha dinheiro para trazer um jogador “tão bom ou melhor” do que Dani,
Futre
avançou para a missão de recuperar o compatriota para o futebol, assumindo a “inteira
responsabilidade” da contratação, apesar da ameaça de Gil y Gil: “À mínima
ocasião em que este playboy manchar a imagem do clube, corto a cabeça
aos dois.” Não houve decapitação, mas na
passagem de Dani
pela capital espanhola houve pistolas metidas ao barulho. O jogador
disse estar ciente da responsabilidade e prometeu portar-se como um
profissional: “Paulo, como és o único maluco que acredita em mim no mundo do
futebol, eu, aqui à frente do meu pai e do meu agente, autorizo-te a dares-me
um tiro no joelho caso falhe a ti ou aos teus filhos ou se não cumprir as
regras que me vais impor a partir de amanhã, quando eu chegar a Madrid.”
E assim que chegou à capital
espanhola, Dani
foi, como manda a tradição do Atlético,
apresentado à maioria dos funcionários dos clubes, gerando logo aí suspiros
entre as mulheres que trabalham no clube. Nessa mesma noite, Futre
definiu que o futebolista
tinha de lhe ligar todas as noites às 0:00 e à 1:00, dormir com o telefone de
casa ao lado da orelha e de ter um telemóvel só para falar com o diretor
desportivo. Depois de algumas semanas de
trabalho específico para perder quilos a mais e recuperar a forma física,
chegou o dia da estreia de Dani,
numa quarta-feira à noite. Nesse dia, Futre
recebeu uma chamada de uma amiga a informá-lo que “no sábado, às seis da manhã,
o Dani
estava a dançar em cima de uma mesa, com uma grande bebedeira, na melhor discoteca
de moda de Madrid”. Horas antes do jogo, o diretor
desportivo foi até ao balneário, chamou o compatriota
à porta e fechou-se com ele dentro de uma casa de banho para que ninguém ouvisse a
bronca: “Filho de uma grande puta, cabrão de merda. Falhaste aos meus filhos.
Vai ser a primeira e última vez que jogas. Vou buscar uma pistola durante o
jogo, seu filho da puta. E quando terminares não te vou dar um tiro no joelho.
Vou dar-te um tiro nos dois joelhos e nos dois pés. Cabrão de merda. Passaste
todos os limites. Brincaste com a vida dos meus filhos. Vais pagar bem caro por
isso. Vais recordar aquela noite de sábado para sempre. Porque foi a última
noite em que dançaste numa discoteca.” Contudo, Dani
brilhou nesse jogo de estreia e tornou-se no novo herói do Atlético, com Futre
a receber os parabéns de Gil y Gil e um pedido de desculpas do compatriota. Entretanto, o jogador
português deu continuidade à boa exibição do primeiro encontro e guiou em
campo os colchoneros
até perto da zona de promoção. Já na reta final do campeonato, na véspera de
uma visita ao Eibar, no País Basco, Futre
recebeu nova chamada de um amigo a dar tristes notícias sobre Dani:
“Ontem à noite, bêbedo. A dançar nas mesas. Para lá das 6:30.” Depois de confirmar mais uma
noitada do futebolista,
Futre
inventou uma história de um chantagista que tinha fotografado Dani
na discoteca e ameaçou rescindir-lhe o contrato para o colocar sob pressão e,
paralelamente, foi a casa de um amigo colecionador de pistolas e pediu-lhe um
revólver emprestado. Posteriormente, Futre
voltou a chamar Dani.
“Sabes o que eu disse que te acontecia se voltasses a fazer isso, não sabes?”, questionou
o dirigente. “Sim, davas-me um tiro nos joelhos”, ripostou Dani,
com grande descontração. Assim que Dani
respondeu, Futre
levantou-se, meteu a pistola na mão e desatou aos gritos enquanto ia encostando
o cano do revólver aos joelhos do jogador:
“Qual é o joelho que queres, cabrão? O direito ou o esquerdo? Diz-me, filho da
puta.” O talentoso
futebolista “chorava baba e ranho”: “Ai, ai, ai, ai, Paulo. Não faças isso.
Por favor. Ai, ai, ai, ai. A minha vida, Paulo. Por favor!” “É a última, Dani.
A última. Para a próxima disparo, sabes que disparo. O autocarro está à tua
espera. Pira-te”, respondeu Futre,
que revelou no livro El Portugués que no dia seguinte Dani
ainda tinha o cano da pistola marcado na rótula por causa da força que fez. O susto serviu de lição a Dani,
que não voltou a fazer das suas… até à subida de divisão ficar consumada, já na
época seguinte, 2001-02. O treinador Luis Aragonés havia dado dois dias de
folga aos jogadores, mas o craque
português só chegou três dias depois do previsto. Depois de levar uma
bronca de Futre
só para o resto do plantel pensar que o futebolista
luso seria castigado, Dani
contou ao diretor
desportivo que tinha passado a semana com uma beldade espanhola, uma figura
pública, e que só apareceu para treinar nesse dia porque a mulher precisou de
ir trabalhar: “Senão ainda lá estava.”
História inédita e hilariante de Dani com Paulo Futre , que remonta à época 2001/02, num momento que marcou o regresso do Atlético de Madrid à Primeira Liga espanhola, após 2 épocas no segundo escalão. De recordar que Futre, naquela altura, desempenhava as funções de diretor desportivo dos Colchoneros, tendo sido o grande responsável pela vinda de Dani para o clube de Madrid. Não percas a 2ª parte do episódio 18 de 90+3 by Fora.de.Jogo c/ @dani14oficial 🏆 Já disponível no YouTube e Spotify. LINK NA BIO! 👉🏼
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