quarta-feira, 14 de junho de 2023

Miguel Matos: “Sentimos a mudança de treinador. O Olímpico tem mais do que condições para subir”

Miguel Matos passou as duas últimas épocas no Olímpico Montijo
Fez parte da formação no Sporting, chegou a ser convocado à seleção nacional de sub-15, contribuiu para duas das cinco subidas de divisão na viagem do Belenenses desde a III Divisão Distrital à II Liga e nas últimas duas épocas tentou ajudar o Olímpico do Montijo a regressar ao Campeonato de Portugal.
 
Numa altura em que ainda não sabe onde vai jogar na próxima temporada, Miguel Matos passa a carreira em revista, explica porque preferiu o Sporting ao Benfica e ao FC Porto e fala sobre o período difícil “tanto a nível financeiro como desportivo” que a formação leonina vivia quando lá esteve.
 
DAVID PEREIRA - Começo por te pedir um balanço da temporada tanto a nível individual como coletivo. O Olímpico do Montijo não alcançou o objetivo da subida de divisão nem sequer assegurou uma vaga na Taça de Portugal da próxima época, mas foste quase sempre titular e somaste uma quantidade de minutos e de jogos superior ao das últimas épocas…
MIGUEL MATOS - A nível coletivo a época não correu como queríamos, como é óbvio. O objetivo era subir de divisão. Até meio da época estávamos perfeitamente dentro do objetivo, oscilávamos entre o 1.º e o 2.º lugar, mas o grupo sentiu muito a mudança de treinador em janeiro, mais a nível psicológico, e a equipa perdeu muito fulgor e começámos a ter maus resultados. Até ao final da época já não fomos mais a equipa constante e eficaz como tínhamos sido até então.
A nível individual, consegui ter muitos minutos e jogos realizados, mais do que nas últimas épocas. Infelizmente, tenho tido algumas lesões que me impossibilitam de estar mais vezes disponível, mas nesta época tive apenas uma lesão, daí este maior número de minutos e jogos.
 
O que falhou ao Olímpico para não ter conseguido, pelo menos, dar mais luta na corrida pelo primeiro lugar? Visto de fora, tendo em conta as mudanças no comando técnico e na direção desportiva, o Olímpico passa a imagem de um clube algo problemático…
Esses problemas, sinceramente, passam-me um bocado ao lado. Não foram saudáveis para a equipa essas mudanças, isso é um facto. Tentámos dar a volta por cima e infelizmente não foi possível. Agora é esperar que os erros do passado não sejam cometidos no futuro. O Olímpico Montijo tem mais do que condições para subir de divisão, faltou apenas um bocado mais de estabilidade. As mudanças não trouxeram as melhorias desejadas pela direção.
 
Recentemente representaste o Barreirense e até te sagraste campeão distrital (em 2020-21). Quais foram as principais diferenças que encontraste entre um clube e outro no que concerne à organização interna e condições de trabalho?
Formas de trabalhar diferentes, com as pessoas que estão à frente dos clubes com maneiras distintas de executar as tarefas, no entanto, ambos os clubes tinham os mesmos objetivos. Em termos de condições de trabalho, diria que ambos estão equiparados, seja pelos campos, condições financeiras, massa adepta, etc.

 
Nesta temporada foste orientado por dois ex-futebolistas que jogaram na I Liga e que estão a dar os primeiros passos como treinador principal, Nuno Pinto e Marco Tábuas. O que achaste dos métodos e das ideias de jogo de cada um deles?
Tinham formas de trabalhar diferentes. O mister Nuno esteve muito mais tempo connosco, tínhamos uma ligação mais forte por essa mesma razão. Tentou e conseguiu implementar as suas ideias de jogo e as coisas estavam a correr bem até à sua saída, mas após voltar já foi mais difícil. Não tenho dúvidas que em Serpa conseguirá transmitir as suas ideias de jogo e ensinamentos.
O mister Marco esteve menos tempo connosco, portanto a ligação não era tão forte e não teve tanto tempo para implementar as suas ideias. Por uma ou outra razão, as coisas não estavam a sair como queríamos. Foi a altura em que perdemos mais pontos. Depois voltou o mister Nuno.
 
Nesta época foste pela primeira vez companheiro de equipa de um internacional A por Portugal, o Edinho. Como é que ele é no balneário e que principais ilações tiraste da convivência com o experiente avançado de 40 anos?
Uma pessoa que dispensa apresentações, no entanto, há um Edinho que as pessoas não conhecem. Para nós foi um orgulho ele ter ido para a nossa equipa. Além da experiência que trouxe à equipa, era alguém que tentava sempre puxar pelos mais novos, seja com palavras de incentivo ou até mesmo com conselhos da sua vasta experiência no futebol profissional. Era também o primeiro a ajudar os seus colegas de posição. Fora de campo, é uma pessoa cinco estrelas, super brincalhão e amigo. Só tenho coisas boas para falar dele, dentro e fora dos relvados.

 
Já sabes onde vais jogar na próxima temporada? Já falaram contigo da parte do Olímpico? Ou acreditas que será em 2023-24 que te vais estrear no Campeonato de Portugal?
Neste momento ainda não sei de nada, nem da parte do Olímpico nem de outro clube. A época acabou há sensivelmente duas semanas, portanto ainda há bastante tempo para futuras conversas. Para ser sincero, todos os anos tenho convites do Campeonato de Portugal, só que muitos dos convites são para longe de casa e não são muito atrativos em termos financeiros, além de que o Campeonato de Portugal implica mais viagens e mais treinos, pelo teria de ser algo que valesse a pena para compensar. Sendo assim, opto por permanecer na distrital, se possível numa equipa que tente subir de divisão, porque a motivação é outra e dá para conciliar com o trabalho.
 
Falando um pouco do teu percurso formativo, que importância teve para ti os primeiros anos no CRI e a tua primeira passagem pelo Barreirense e como é que te tornaste defesa central?
O CRI foi o primeiro clube que conheci, fica ao lado de casa. Tinha já lá vários amigos a jogar, inclusivamente o meu irmão dois escalões acima do meu. Foi muito importante, foi aí que começou o gosto e o prazer de jogar futebol, onde só importava ser feliz a praticar futebol, principalmente com os meus amigos. No Barreirense, já levava as coisas um pouco a sério, apesar de naquelas idades o importante é ser feliz.
No CRI jogava maioritariamente a médio e no Barreirense passei a jogar como central, mas por vezes também jogava a médio.
 

Passou pelo Sporting, mas “se fosse hoje, talvez escolhesse o Benfica por ser benfiquista”

Miguel Matos esteve no Sporting entre 2010-11 e 2013-14
Em 2010 deste o salto para o Sporting. Como é que surgiu o interesse, como é que foste abordado e quais foram as primeiras impressões da Academia de Alcochete?
Antes de ir para o Sporting, já tinha ido fazer treinos ao Benfica, tanto quando jogava no CRI como no Barreirense, e após os primeiros treinos eles não me quiseram. No entanto, no último treino quiseram ficar comigo. No Sporting fiz apenas um treino e quiseram logo assinar comigo. O FC Porto ainda ligou aos meus pais, mas não queria ir viver para longe de casa, então descartámos logo essa hipótese.
O Benfica, na altura, não oferecia transporte para os treinos. Ou os pais nos transportavam ou tínhamos de ir viver no centro de estágios, enquanto o Sporting tinha uma carrinha que nos vinha buscar e trazer, o que era ótimo para os pais dos atletas. O Sporting foi quem demonstrou mais vontade em ficar comigo, então aceitei o convite deles. Na altura, o único clube que apostava em produtos da formação na equipa principal era o Sporting, o que também pesou na decisão.
Hoje em dia já todos o fazem, e se fosse hoje, talvez escolhesse o Benfica por ser benfiquista, mas não me arrependo da minha decisão, pois passei momentos únicos e muitos felizes na Academia. Tínhamos todas as condições para fazer o que mais gostávamos. Passar de um contexto de CRI e de Barreirense para o Sporting foi um choque de realidade, mas foi uma experiência para a vida. Fiz muitas amizades, algumas que perduram até hoje e são das melhores que tenho.
 
Durante a tua passagem pelo Sporting apanhaste as direções de José Eduardo Bettencourt, Godinho Lopes e Bruno de Carvalho. Que mudanças foste observando na Academia durante esse período?
Não foram os melhores anos do Sporting, de todo… tanto a nível financeiro como desportivo. Notávamos isso em comparação com os miúdos de Benfica e FC Porto, pois muitos já ganhavam dinheiro e nós não, inclusivamente havia um subsídio que eles davam mensalmente a quem não tinha contrato, ou de formação ou profissional, e a cada ano que passava o subsídio descia. Lembro-me que, quando entrei, o subsídio de um juvenil B era de 150 euros, se não estou em erro, e quando cheguei a esse escalão já era de 25 euros. Nós não estávamos muito bem dentro do assunto, pois a Academia tem uma parte para o futebol sénior e outra para a formação, então muitas das vezes nem víamos nada do que lá se passava. Mas felizmente o Sporting ultrapassou isso tudo e vive claramente dias muito melhores.

 
Quando estavas no Sporting foste chamado à seleção nacional de sub-15, em dezembro de 2011. Naquela altura, tinhas tu 14 anos, onde esperavas estar com 26 anos?
Claramente não esperava estar no patamar em que estou. Tinha sonhos, como qualquer miúdo daquela idade, e passavam por ser um profissional de futebol. Muitos colegas meus daquela altura já nem sequer jogam futebol, mas outros são profissionais. Fico contente pelo sucesso dos que conseguiram, não guardo mágoas, embora também quisesse estar como eles estão, sempre foi esse o sonho. Hoje em dia fico apenas feliz pelos meus amigos que felizmente estão bem na vida graças ao futebol, porque o sucesso dele também é o meu.
 
Como é que lidaste com a tua saída do Sporting? Foi um choque ou acabou por ser o culminar de um processo gradual, na sequência de uma utilização cada vez menor?
Custou-me bastante ter saído do Sporting. Não queria ter saído, mas naquela época só tinha feito um jogo até dezembro e andava triste, sem vontade de ir aos treinos. Custou-me mais ainda porque senti, de certa forma, que a minha não utilização não era justificada, não me sentia em nada inferior a quem jogava. Não tinha uma boa ligação com o treinador da altura [Telmo Costa], nunca me deu uma única justificação por não jogar. Senti que precisava de ser feliz novamente e optei por sair, mas foi o dia em que me despedi dos meus colegas e amigos foi um dia em que chorei bastante.
 

“Rúben Dias, Renato Sanches e Rúben Neves já eram diferenciados”

Miguel Matos na seleção nacional sub-15
Entretanto prosseguiste a formação no Barreirense e no Belenenses, continuando a disputar os campeonatos nacionais. Nasceste em janeiro de 1997, mas também jogaste ao lado e defrontaste jogadores também de 1996, 1998 e da famosa geração de 1999. Olhando para onde estão agora todos esses ex-companheiros de equipa e adversários, quais foram os que mais te surpreenderam por atingir um nível tão elevado no futebol profissional e quais é que julgavas que iam fazer uma carreira melhor do que aquela que estão a fazer?
Joguei com e contra imensos craques, uns que vingaram e outros que ficaram pelo caminho. Os que mais destaco são Rúben Dias, Renato Sanches e Rúben Neves. Esses três atingiram níveis bastante altos e desde cedo se percebeu que iriam chegar longe. Eram e são jogadores diferenciados, tanto na qualidade como na maturidade que tinham na formação.
No lado inverso da moeda, há alguns que achei realmente que fossem ter uma carreira bastante superior àquela que atualmente têm. Os dois casos mais gritantes, para mim, são Fábio Novo [formado no Benfica, atualmente no Fiães] e Zé Gomes [formado no Benfica, atualmente no Cluj].
 
Concluíste a formação a disputar até perto do fim a fase de apuramento de campeão nacional ao serviço do Belenenses, em 2015-16, e na época seguinte foste jogar para o Banheirense, da I Divisão Distrital da AF Setúbal. Custou-te dar esse passo? Em que medida o teu trajeto teria sido diferente caso os azuis do Restelo dispusessem de equipa B naquela altura ou já existisse a Liga Revelação?
Foi um ano de transição complicado. Sem dúvida que a Liga Revelação e as equipas B vieram ajudar, e muito, nessa mesma transição. Teria sido bom se já existissem na altura.
Eu estava a um bom nível até ser operado ao joelho a meio da época do segundo ano de júnior, e a recuperação foi muito mais complicada do que o previsto, pois eu supostamente ainda iria apanhar os últimos jogos da fase de apuramento de campeão e a verdade é que a época seguinte começou e eu ainda estava a recuperar.
Quase todos ou praticamente todos os jogadores que o Belenenses SAD (ainda sem a separação) queriam para o ano seguinte, primeiro ano de sénior, são profissionais e alguns inclusivamente em grandes patamares, exceto eu e talvez um ou outro.
Na altura, o meu empresário só me arranjou equipas em que eu não queria ir jogar, quer fosse por serem longe ou por pagarem mal, então não aceitei nenhuma. Tive uma única boa proposta, que foi o Gafanha da Nazaré, que na altura era como se fosse a equipa B do Feirense. Emprestavam os jogadores para irem rodando lá, por isso ficava mais perto de chegar ao patamar da I Liga através do Gafanha, porque na altura o Feirense estava na I Liga, e era a única que realmente eu queria aceitar. No entanto, como demorei bastante tempo a recuperar da lesão, mais do que o previsto, eles acabaram por não esperar e foram buscar outros jogadores.
Nesse momento fiquei sem saber o que fazer. O Campeonato de Portugal já estava quase a começar e eu ainda não tinha alta médica. Senti-me sem chão, pois tinha zero propostas que realmente fossem boas para mim e para o meu futuro.
Entretanto começou o Campeonato de Portugal e eu sem nada. O mister Rui Fonseca, alguém que até hoje tenho de agradecer pois não só me deu a mão uma vez, mas sim duas vezes, precisamente nas duas fases mais complicadas que tive – na saída do Sporting e na transição para sénior, e que me tinha treinado nos juniores do Barreirense –, ligou-me para me juntar a ele ao Banheirense. Ao início não aceitei, disse que não queria ir para a distrital, porque vinha de uma boa época, apesar de estar sem jogar há mais de seis meses, e achava que ali não era o meu lugar.
Adiei, adiei, e continuava a não aparecer nada. Cheguei inclusivamente a ponderar deixar de jogar futebol, fosse por um tempo indeterminado ou mesmo para sempre, pois a minha vida mudou completamente de um ano para o outro, pois passei de um ano em que sonhava jogar na I Liga para acabar a ponderar jogar na distrital.
Contudo, o meu gosto pelo futebol foi maior e a minha relação com o mister Rui Fonseca e o adjunto Bita, com quem ainda hoje tenho uma excelente relação, foi determinante para ir para o pé deles, pois não quis ficar parado. Além disso, tinha já muitos amigos e conhecidos na equipa, por isso a alegria de jogar rapidamente voltou e senti-me feliz de novo, mesmo tendo “atirado a toalha ao chão”, porque a partir daí comecei a dar mais prioridade aos estudos do que ao futebol, até porque coincidiu com a minha entrada na faculdade.
 

“O apoio que o Belenenses tinha na última divisão distrital era surreal”

Miguel Matos passou pelos seniores do Belenenses entre 2018 e 2020
Já depois de passagens por Fabril e Palmelense, fizeste parte do renascimento da equipa sénior do Belenenses e subiste duas vezes de divisão, começando na III Divisão Distrital da AF Lisboa e acabando com a promoção à I Distrital. O que te fez baixar até à última divisão do futebol português para abraçares essa missão e quais foram os principais momentos e peripécias que viveste ao longo desses três anos?
Foi uma travessia incrível. Eu já tinha jogado no Belenenses, mas só descobri o verdadeiro Belenenses na segunda passagem por lá. O apoio que tínhamos na última divisão distrital era uma coisa surreal! A alegria de treinar diariamente num estádio como é o do Restelo, sentir que estava a jogar num clube enorme, em que os adeptos nos idolatravam e que éramos os seus heróis pela jornada que nos propusemos a ultrapassar com eles, foi realmente algo que guardo na memória com muito carinho.
Tive a sorte de apanhar grupos de trabalho em que a qualidade era tanto humana como futebolística. Fiz amigos para a vida lá. O futebol nisso proporcionou-me momentos e amizades que levo para sempre. As horas e dias que se passam num balneário faz com que isto aconteça. Deixamos de falar a uns e outros passam a ser meramente conhecidos, mas em todos os balneários fiz amigos para a vida e tive vivências inesquecíveis.
 
Quando ingressaste na equipa principal do Belenenses, em 2018, esperavas que cinco anos depois os azuis do Restelo já estivessem na II Liga?
Sendo sincero, não. Sabia que iriam chegar sem problemas ao Campeonato de Portugal e com mais ou menos dificuldades à Liga 3 também, mas nunca pensei que fosse possível cinco subidas em cinco anos. Inédito! Fico super feliz e espero que, para colocar a cereja no topo do bolo e fazer-se história novamente, a sexta subida seguida seja já para a próxima época. Caso não consigam, que seja o mais breve possível. O Belenenses é um clube de I Liga, por tudo: títulos, adeptos, estádio, etc.

 
Como é que ao longo dos anos tens conseguido conciliar o futebol e a vida profissional. Treinar à noite depois de um dia de trabalho é um escape ou um sacrifício?
Depende do dia para ser sincero. Há dias em que é um escape, caso o grupo de trabalho seja bom e o ambiente no balneário e nos treinos também o for. Aí os problemas são esquecidos e é uma forma de alegrar o dia ou de desanuviar.
Há outros dias em que custa mais. Quando é após um dia mais cansativo de trabalho ou mais stressante, ainda ir treinar, por vezes com chuva ou frio, não é fácil pois a vontade é ir para casa descansar. Mas, como se diz, quem corre por gosto não cansa, e todos os que jogam na distrital, independentemente de ganhar 0 ou 800 euros, têm o gosto de jogar futebol, pois só quem tem o bichinho do futebol é que tem forças para ir treinar após um dia de trabalho. Todos adoram jogar futebol, portanto é algo que considero mais um escape ou o momento do dia em que somos felizes a fazer o que gostamos, muito mais do que um sacrifício. A verdade é que a partir do momento que começar a ver as idas para os treinos como um sacrifício, é sinal que já não devia estar a jogar futebol pois já não me sinto feliz a fazê-lo.
 
Miguel Matos foi campeão distrital pelo Barreirense em 2020-21
Na última década e meia a posição de defesa central tem sido das que mais tem evoluído. Hoje, tanto ou mais que competências defensivas, procuram-se centrais tenham qualidade com a bola nos pés. Em relação ao que te é pedido em campo e ao que te é estimulado nos treinos, o que sentes que tem mais mudado ao longo dos anos? 
Na formação do Sporting era obrigatório sair a jogar e com qualidade, sempre foi algo natural para mim. Nunca fui o típico central de bater a bola para a frente, embora às vezes tenha de o fazer, claro. Acho que, hoje em dia, um central sem qualidade com a bola nos pés dificilmente chega lá acima, sobretudo com os sistemas de três centrais, que fazem com que os centrais tenham mais posse de bola, mais decisão e que sejam eles muitas vezes a desbloquear o jogo com passes longos ou entre linhas.
Para mim, a grande diferença começou a existir quando a altura e a força dos centrais deixou de serem requisitos obrigatórios, dando lugar a características como posicionamento, qualidade com a bola nos pés ou capacidade de conduzir a bola. Jogadores como Ricardo Carvalho, Fabio Cannavaro e Puyol, entre outros, eram dos defesas centrais que mais gostava de ver jogar. Há mais, mas os outros não vi jogar. Eles eram tudo menos o protótipo de um defesa central ideal. Depois, treinadores como Pep Guardiola começaram cada vez mais a querer jogadores com qualidade na saída de bola, não querendo saber da sua altura e força, mas sim do que produziam com a bola nos pés.
 
Quem são os defesas centrais do futebol mundial que mais admiras e que características mais aprecias neles?
O meu ídolo no futebol sempre foi o Sérgio Ramos, que, na minha opinião, foi o melhor defesa central nesta nova geração de futebol moderno. Tinha algumas lacunas e distrações, levava muitos vermelhos, mas marcava mais golos que muitos médios durante as épocas, inclusivamente golos decisivos como na final da Liga dos Campeões. Além disso, tinha uma qualidade incrível nos passes longos e raramente perdia um duelo, tanto no chão como no ar.
Além dele, e como português, adorava o Pepe, para mim o melhor central português de sempre e com uma longevidade que faz inveja, que aos 40 anos ainda corre atrás de jogadores com quase metade da sua idade e ainda com muita qualidade.
Atualmente, talvez o que esteja mais em forma seja o John Stones, que tem uma versatilidade fora do normal: tem qualidade com bola nos pés, é rápido, inteligente e integra-se nos ataques com facilidade. Mas, mais uma vez, sem o cunho pessoal de Guardiola e da sua filosofia de jogo, dificilmente estaríamos a ver este John Stones. 



 








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