sexta-feira, 11 de junho de 2021

A minha primeira memória de… um Campeonato da Europa

Geração de ouro portuguesa atingiu meias-finais do Euro 2000
12 de junho de 2000. Ainda dava eu os primeiros passos como adepto do futebol. A época de clubes já tinha terminado, com o Sporting a sagrar-se campeão 18 anos depois, mas a perder a final da Taça de Portugal para o FC Porto. Mas havia ainda mais futebol para ver no mês que se seguiu.
 
Lembro-me perfeitamente de ligar a televisão nesse final de tarde e verificar que Portugal, cuja maior parte dos jogadores eu desconhecia, perdia por 2-1 frente a Inglaterra a meio da primeira parte. Poucos minutos depois, João Vieira Pinto empatou o encontro através de um cabeceamento fantástico, na sequência de um mergulho na área que surpreendeu a defesa inglesa.
 
Depois, na segunda parte, Nuno Gomes marcou o golo da vitória portuguesa – e, se bem me lembro, ainda viu um outro remate certeiro ser-lhe anulado. Só depois do encontro – não sei frisar se horas, dias, meses ou anos depois – é que tive conhecimento que a equipa das quinas tinha estado a perder por 0-2. E também só algum tempo depois é que tive real noção do valor da seleção inglesa, composta por craques como David Seaman, Sol Campbell, Tony Adams, Paul Ince, Paul Scholes, David Beckham, Michael Owen e Alan Shearer.
 
 
 
Seguiu-se a Roménia, que aos meus olhos acabou por parecer um dos ossos mais duros de roer naquele Campeonato da Europa. Lembro-me de o meu pai dizer várias vezes que admirava um jogador romeno que dava pelo nome de Hagi, de uma excelente defesa de Vítor Baía a atirar a bola por cima da trave (que me conquistou como seu eterno fã) e do golo de Costinha a acabar.
 
 
Já com o apuramento para os quartos de final, o selecionador Humberto Coelho promoveu algumas alterações para o terceiro e último jogo da fase de grupos, frente a Alemanha. Naquela altura, eu não sabia quem eram Oliver Kahn, Michael Ballack ou Lothar Matthäus, eu fiquei foi a saber quem era Sérgio Conceição, autor de um hat trick nessa noite memorável em Roterdão. 3-0, ganhou Portugal.
 
 
Nos quartos de final, Portugal encontrou pela frente a Turquia e venceu por 2-0, com dois golos de Nuno Gomes, ambos com assistência de Luís Figo. Pelo meio, Vitor Baía ganhou mais a minha admiração ao defender uma grande penalidade, uma situação que, naquela altura, era bastante mais improvável do que é hoje.
 
 
Próxima etapa: meias-finais. Portugal tinha um dos melhores jogadores do mundo, Luís Figo, e outros a atuar num nível bastante elevado, como Fernando Couto e Sérgio Conceição (ambos da Lazio), Paulo Sousa (Parma), Rui Costa (Fiorentina), Abel Xavier (Everton), Ricardo Sá Pinto (Real Sociedad), Paulo Bento (Oviedo) e Pauleta (Deportivo da Corunha). Mas no futebol português também estavam grandes figuras, como os benfiquistas João Vieira Pinto e Nuno Gomes ou os portistas Vítor Baía e Jorge Costa.
 
No entanto, França e Holanda reuniam nas suas comitivas alguns dos melhores jogadores de algumas das melhores equipas do planeta. E Itália reuniam uma autêntica seleção do campeonato italiano, que na altura era o mais competitivo do mundo, com os tradicionais Juventus, AC Milan e Inter de Milão sempre fortes e AS Roma, Lazio, Parma e Fiorentina a atravessar períodos fantásticos.
 
França, adversária de Portugal, tinha nomes como Fabien Barthez e David Trezeguet (Mónaco), Bixente Lizarazu (Bayern), Laurent Blanc (Inter de Milão), Lilian Thuram (Parma), Marcel Desailly e Didier Deschamps (Chelsea), Patrick Vieira, Emmanuel Petit e Thierry Henry (Arsenal), Zinédine Zidane (Juventus) e Nicolas Anelka (Real Madrid).
 
Holanda, cuja base era composta pelos jovens que a meio da década de 1990 venceu uma Liga dos Campeões e atingiu outra final pelo Ajax, não ficava muito atrás: Edwin van der Sar e Edgar Davids (Juventus), Michael Reiziger, Frank de Boer, Boudewijn Zenden, Phillip Cocu, Ronald de Boer e Patrick Kluivert (Barcelona), Jaap Stam (Manchester United), Clarence Seedorf (Inter de Milão), Dennis Bergkamp e Marc Overmars (Arsenal) e Roy Makaay (Deportivo da Corunha).
 
Por fim, uma grande Itália, ainda com alguns nomes do grande AC Milan que dominou o futebol europeu no início da década de 1990, como Paolo Maldini e Demetrio Albertini; algumas jogadores de uma Juventus que na segunda metade dos anos 1990 atingiu por três vezes a final da Liga dos Campeões, como Ciro Ferrara, Gianluca Pessotto, Alessandro Del Piero, Angelo Di Livio, Mark Iuliano, Pippo Inzaghi e Antonio Conte; uma das figuras Lazio campeã italiana em 1999-00, Alessandro Nesta; um dos esteios do Parma vencedor da Taça UEFA em 1998-99, Fabio Cannavaro; e três atacantes que viriam a ajudar a AS Roma a conquistar o título italiano em 2000-01, Vincenzo Montella, Francesco Totti e Marco Delvecchio.
 
 
 
 
 
Na final, Itália esteve em vantagem desde o minuto 55 até ao 90. Francesco Toldo – um guarda-redes que passei a admirar desde então e que na minha opinião tem sido extremamente subvalorizado quando o tema é grandes guardiões do futebol mundial das últimas décadas – defendeu quase tudo, mas não travou um remate de Sylvain Wiltord que atirou a decisão para prolongamento. Em novo Golo de Ouro, David Trezeguet foi o herói que permitiu a França juntar o título europeu ao mundial (conquistado dois anos antes).
 
 
Não sei se foi por ter sido o primeiro Campeonato da Europa que acompanhei, mas arrisco dizer que o Euro 2000 foi o grande torneio de seleções em que senti estavam presentes seleções na verdadeira aceção da palavra, a nata do futebol europeu, com vários conjuntos de sonho de craques, os melhores que o velho continente tinha para oferecer.
 
A partir daí, e com a chegada dos Galácticos ao Real Madrid de Florentino Pérez, fui começando a sentir que os melhores clubes europeus é que eram verdadeiras seleções mundiais. Foi como se a partir daí passasse a existir a seleção do Real Madrid, a seleção do AC Milan, a seleção do Barcelona, a seleção do Manchester United ou a seleção do Chelsea e, por outro lado, a equipa de França, a equipa da Holanda e a equipa de Itália.
 
Recentemente, li uma entrevista em que o autor do livro Sueños de la Euro, Miguel Lourenço Pereira, corrobora e resume este meu sentimento. “O Euro 2000 resume em sintonia tudo aquilo que devia ser uma competição de elite de seleções de verão”, começou por dizer à Tribuna Expresso. “Eu acho que [o Euro 2000] resume o que eram as competições de seleções e o que deixaram de ser. A Liga dos Campeões, de certa maneira, matou aquilo que era a ideia das competições das seleções, que era juntar os melhores do mundo, ou neste caso do Continente, num cenário cíclico e durante gerações os adeptos de futebol só podiam ver os melhores do mundo juntos quando viam Mundial ou Europeu. Quando aparece a Liga dos Campeões isso desaparece porque eles estão lá a cada 15 dias. Os jogos são cada vez mais cíclicos entre os melhores e esses duelos míticos que se esperavam de quatro em quatro anos para ganhar forma ou de dois em dois passam a acontecer a cada semana, a cada quinzena, a cada trimestre. Isso tira um pouco de lustro à ideia das competições de seleções que também tinham outra coisa muito importante que a Internet destruiu: o desconhecimento”, acrescentou, numa outra resposta.
 




 





1 comentário: