quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

A minha primeira memória de… um jogo entre Benfica e equipas belgas

Luisão em disputa de bola com norte-americano Onyewu
A minha primeira memória de um jogo entre o Benfica e uma equipa belga remonta a 2003, numa altura em que as águias vinham de dois anos seguidos sem competir nas competições europeias. Em 2003-04, os encarnados começaram por disputar o acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões, mas sucumbiram perante a Lazio, perdendo tanto em Roma como no… Bessa. Sim, Bessa, porque a nova Luz estava a ser construída e o Jamor supostamente não teria condições para receber o jogo europeu.

Relegada para a Taça UEFA, a formação benfiquista teve pela primeira vez os belgas do La Louvière, um clube modesto que não tinha somado mais do que meia dúzia de presenças na I Liga Belga até então. Na época anterior les loups [os lobos] estiveram perto de descer de divisão, porém, venceram a Taça da Bélgica e por isso asseguraram o primeiro apuramento europeu de sempre.
 
Na equipa belga, ainda assim, militavam alguns jogadores que ainda fizeram uma carreira minimamente interessante, como o guarda-redes belga Silvio Proto, o central norte-americano Oguchi Onyewu (que viria a representar o Sporting) e o atacante nigeriano Peter Odemwingie. No comando técnico estava Ariël Jacobs, antigo selecionador sub-21 da Bélgica e que anos depois viria a orientar Anderlecht e Copenhaga.
 
Já o Benfica começava a construir a equipa que na época seguinte viria a tornar-se campeã nacional. Com José Antonio Camacho no banco, havia Moreira na baliza, Miguel, Luisão, Argel e Ricardo Rocha na defesa, Petit (e Tiago no meio-campo), Geovanni e Simão nas alas e Nuno Gomes no ataque. Porém, o avançado internacional português começou a época como suplente, face à boa forma da dupla composta pelo croata Tomo Sokota e o húngaro Miki Fehér.

 
Na primeira-mão, em Charleroi, houve empate a um golo. Marcou primeiro o La Louvière, à passagem do primeiro quarto de hora, por Odemwingie, na sequência de um passe errado de Sokota e de uma fífia de Luisão, que deixou o avançado nigeriano na cara de Moreira.
 
As águias chegaram à igualdade no início da segunda parte, por Simão Sabrosa, que apareceu ao segundo poste para desviar um cruzamento de Miguel, que combinou bem com Geovanni no corredor direito (53’).
 
No dia seguinte, o Record mostrou-se bastante crítico para com a exibição do Benfica. “Um Benfica com tendências suicidas, a viver com permanente tentação pelo precipício, salvou o essencial de uma noite surpreendentemente tormentosa e na qual chegou a estar muito próxima do colapso total. E salvar o essencial neste caso significa não ter perdido, ou seja, levar a decisão da eliminatória para um segundo confronto. A primeira parte da atuação encarnada no relvado de Charleroi foi simplesmente inacreditável, a rondar a vergonha pura e simples. Esta é a verdade. O Benfica foi uma equipa macia, sem alma, que perdeu em todos os capítulos do jogo para um adversário entusiasmado e ciente, a cada minuto que passava, de que podia estrear-se a ganhar nas competições europeias”, referia a crónica do jogo.
 
 
Na segunda-mão, no Bessa, o Benfica também não deslumbrou, mas conseguiu uma vitória que lhe permitiu seguir em frente na competição. Camacho só operou uma alteração no onze, colocando em campo Hélder no lugar de Luisão, mas foi o malogrado Miki Fehér quem resolveu o jogo, com um fantástico remate de pé esquerdo. Sempre que o húngaro é recordado em algum vídeo, são passadas as imagens deste golo. Aconteceu ao minuto 58 e bastou para apurar os encarnados para a segunda eliminatória. 
 
“Vinte minutos de um empolgamento sempre recalcado e só descoberto no balneário, ao intervalo, foram suficientes ao Benfica para bater o La Louvière, passar a eliminatória e, não menos importante, dar uma satisfação aos adeptos. Tudo surpreendente: a entrada displicente e desinspirada, por um lado; a revolta posterior transformada em assalto à baliza belga, por outro. Na noite em que o Benfica voltou a ter alegrias na Europa, Nuno Gomes regressou aos relvados após cinco meses de ausência”, escreveu o Record.
 
[O golo de Fehér a partir dos 3:13]
 
O La Louvière não voltou a participar nas competições europeias. Em 2006 foi despromovido, num ano em que foi protagonista de um dos maiores escândalos de sempre do futebol belga, devido a manipulação de resultados. E em 2009 fundiu-se com o RACS Couillet para formar o Football Couillet La Louvière, que em 2011 mudou o nome para UR La Louvière Centre. Porém, ainda não conseguiu voltar à ribalta. 














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