quarta-feira, 22 de abril de 2020

A chico-espertice de alguns e o perigo dos jogos à porta fechada

Sporting voltou aos treinos esta semana com distanciamento social
Foi notícia esta segunda-feira o regresso do Sporting aos treinos. Não foi o primeiro clube a fazê-lo após a paragem das competições devido ao covid-19, porque uma semana antes o Nacional da Madeira, líder da II Liga, já tinha feito o mesmo. Não colocando em causa as condições de segurança que os dois clubes tenham garantido aos seus atletas, a decisão de ambos no cenário atual não passa de uma chico-espertice para obter alguma vantagem desportiva.


Num cenário como este, em que todos são afetados, mas todos estão inocentes, exigia-se mais união e medidas concertadas para enfrentar a paragem e estipular o regresso aos treinos. Em teoria, Sporting e Nacional poderão aparecer melhor preparados quando o futebol voltar em virtude de terem mais semanas de trabalho, o que poderá provocar uma espécie de efeito dominó que arriscará apressar o regresso aos treinos de outras equipas, mesmo aquelas cujos responsáveis sintam que ainda não terá chegado o momento para retomar a atividade. Afinal, é legítimo que concorrentes diretos dos leões aos lugares europeus, como Sp. Braga, Rio Ave, Vitória de Guimarães ou Famalicão, se sintam pressionados a voltar precocemente aos aprontos, assim como as equipas que pretendam ultrapassar os nacionalistas na II Liga.

Para quem tinha esperança que o covid-19 melhorasse o ambiente do futebol português, aqui está a prova de que não vale a pena acreditar em impossíveis. A pandemia do mau dirigismo e da falta de cultura desportiva tão cedo não encontrará vacina.

Por falar em regressos precoces, a Liga Portugal equaciona retomar os campeonatos no final de maio/início de junho com jogos à porta fechada ou, quanto muito, abrindo o estádio apenas aos donos dos lugares cativos. Como já alertei num artigo anterior, é bastante perigoso procurar um meio termo para encontrar solução para o regresso ao futebol.

Os jogos até poderão decorrer sem público, mas será que Pedro Proença e seus pares estão à espera que, com a luta ao título ao rubro, adeptos de FC Porto e Benfica se limitem a ficar em casa a roer as unhas enquanto acompanham os jogos das suas equipas pela televisão? E as receções aos autocarros? E as idas aos hotéis e/ou centros de estágios para transmitir apoio? Haverá capacidade e/ou disponibilidade das autoridades para impedir grandes concentrações de adeptos junto aos locais por onde as equipas vão passar ao longo das últimas semanas dos campeonatos?

Recorde-se que, antes da interrupção das competições, a UEFA decidiu que o Valencia-Atalanta dos quartos de final da Liga dos Campeões fosse disputado à porta fechada. Mas os adeptos che, crentes de que a sua equipa poderia dar a volta à derrota em Itália (1-4) e passar a eliminatória, aglomeraram-se nas imediações do Mestalla para protagonizarem uma receção apoteótica ao autocarro da equipa e para se fazerem ouvir em campo. Será possível evitar algo semelhante em Portugal em todos os 180 jogos das ligas profissionais que faltam disputar até ao final da temporada? Eis a questão.
























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