sábado, 9 de junho de 2018

Os favoritos, as possíveis surpresas e as tradições. Quem ultrapassará a fase de grupos do Mundial 2018?

Tudo a postos na Rússia para o 21.º Campeonato do Mundo
A espera está prestes a terminar. Quatro anos depois, o Campeonato do Mundo está de regresso. Ao longo das últimas semanas, sobretudo após a conclusão das competições de clubes, os feitos de jogadores e seleções de outrora foram relembrados vezes sem conta. Os Mundiais que consagraram Pelé (1958 e 1970) e Maradona (1986) lideram o leque de recordações, onde não faltam os elogios aos desempenhos da Holanda de 1974 e ao Brasil de 1982 ou das peripécias das vitórias caseiras de Inglaterra (1966), Argentina (1978) e França (1998).


Contudo, não deixo de reparar que essas grandes memórias de Mundiais são cada vez mais longínquas, o que me faz pensar que os últimas edições foram uma desilusão – ou então, ainda não houve distanciamento temporal suficiente para as avaliar. Talvez desde Ronaldo em 2002 que uma grande estrela do futebol não brilha de forma cintilante no grande palco. Ainda não houve o Mundial de Cristiano Ronaldo ou de Lionel Messi, ainda que o argentino já tivesse chegado a uma final (2014) e sido eleito (de forma controversa) o melhor jogador do torneio.

Os grandes jogos, aqueles que são recordados sempre que se fala em Mundiais, também são lembranças cada vez mais antigas. É verdade que há quatro anos, no Brasil, a goleada por 7-1 imposta pela Alemanha à seleção anfitriã foi um marco muito importante, mas mais pela expressão dos números. As equipas têm chegado às fases finais já algo cansadas e optado cada vez mais por um estilo pragmático, fazendo das partidas espetaculares uma raridade.

Ainda assim, o entusiasmo mantém-se, as bandeiras voltam a agitar-se e tudo o resto vai ser esquecido durante o mês da competição, que se inicia já na quinta-feira, com o encontro inaugural da fase de grupos. Uma fase de grupos que terá como principais ausências Itália e Holanda, ainda que também seja de lamentar a não participação de seleções que se apresentaram a um bom nível em 2014, como Chile ou Estados Unidos.


Grupo A: O favoritismo uruguaio e os fatores casa e… Salah

O valor de mercado (segundo o portal transfermarkt), o ranking FIFA e a perceção dos amantes de futebol não escondem o favoritismo do Uruguai em passar à fase seguinte. A seleção celeste foi também a segunda melhor da sempre muito competitiva zona de qualificação sul-americana, em que o avançado Edinson Cavani mostrou a veia goleadora exibida semanalmente ao serviço do PSG. Cavani, tal como o companheiro Luis Suárez, têm neste grupo uma boa oportunidade de começar a ganhar alguma vantagem na corrida ao troféu de melhor marcador do Mundial.

Campeão em 1930 e 1950, o Uruguai é favorito ao primeiro lugar do grupo 
A grande incerteza, à primeira vista, é perceber quem vai acompanhar o conjunto uruguaio. A Rússia tem desiludido nos últimos anos e também na preparação, pois não triunfou em qualquer um dos sete últimos jogos. No entanto, a tradição favorece a seleção anfitriã: só por uma vez é que os da casa não passaram da fase de grupos, em 2010, quando a África do Sul organizou o torneio. E quem tem um plantel composto quase na totalidade por jogadores que alinham nos principais emblemas do campeonato russo tem que ter alguma qualidade. Outro fator a ter em conta é o calendário: defrontar primeiro a Arábia Saudita poderá ser positivo, pois somar três pontos no encontro inaugural permitirá jogar com a pontuação e a classificação nas rondas seguintes. Tudo isto faz-me aposta na Rússia.
Por outro lado, a seleção do leste europeu não tem um jogador em tão boa forma como Mohamed Salah, a grande estrela do Egito. Desde 1986, há sempre pelo menos uma equipa africana a ultrapassar a fase de grupos. Quem está incluído num dos grupos aparentemente menos fortes do Mundial e tem um candidato a estar no pódio da Bola de Ouro, tem direito a sonhar. Em termos de valor de mercado e de ranking FIFA, os faraós estão melhor colocados do que a Rússia.
Com menos expetativas está a Arábia Saudita, provavelmente a seleção mais frágil do Campeonato do Mundo. Um ponto somado já será motivo de orgulho.


Grupo B: Portugal e Espanha, mas sem direito a excessos de confiança

Portugal e Espanha são claríssimos favoritos, não só em passar à fase seguinte mas também em ultrapassar o adversário que se seguir nos oitavos de final, pois vão cruzar-se com os primeiros do Grupo A. São duas seleções recheadas de bons jogadores, variadíssimas opções para cada posição e têm confirmado o poderio nos encontros a doer.

Mundial 2018 poderá ser o último da carreira para Cristiano Ronaldo
Contudo, os vizinhos ibéricos medem forças logo no primeiro jogo, o que poderá significar que um entrará na segunda jornada com três pontos e outro com zero. E o que poderá significar também que Marrocos ou Irão poderão entrar nessa mesma segunda ronda com três pontos, cenário que permitirá a um underdog jogar com a classificação nas derradeiras duas partidas.
Os marroquinos vão apresentar-se na Rússia com nove jogadores que atuam nas cinco principais ligas europeias e outros nove que competem noutros campeonatos europeus muito competitivos. Aparentemente, Marrocos é a seleção africana que melhor consegue fazer coabitar o talento individual e a organização coletiva, graças a um selecionador, Hervé Renard, bastante conhecedor do futebol do continente negro.
Já o Irão não tem qualquer jogador nos cinco principais europeus, mas tem o melhor marcador da liga holandesa, Alireza Jahanbakhsh, e outros futebolistas que competem a um nível bastante aceitável. Em relação a 2014, nota-se um upgrade no contexto competitivo do selecionado iraniano, que parece apostar tudo no know-how do selecionador Carlos Queiroz, na força do coletivo e na organização – foram a primeira seleção a chegar à Rússia.


Grupo C: França e… mais um

Face a uma geração recheada de grandes futebolistas em todas as posições, França surge como principal candidata à vitória no grupo e como uma das favoritas a conquistar o Mundial.

Seleção gaulesa é uma das principais favoritas à vitória final
Confirmando-se o poderio gaulês, resta saber quem vai acompanhar a seleção de Didier Deschamps no apuramento para os oitavos de final. Ao contrário dos dois primeiros grupos, este contempla a presença de três seleções das principais confederações: UEFA e CONMEBOL. Ao olharmos para o valor de mercado dos 23 convocados, a Dinamarca tem clara vantagem sobre Peru e Austrália. Contudo, os peruanos têm ligeira vantagem no que ao ranking FIFA diz respeito – estão na 11.ª posição, uma acima dos nórdicos. No entanto, a grande aposta de José Mourinho é… a Austrália.
Embora o Peru tenha ultrapassado um desafio bem mais exigente na qualificação, prevejo a qualificação da promissora Dinamarca, que estará representada por uma geração de futebolistas muito interessante.


Grupo D: Argentina gera dúvidas e há potenciais surpresas à espreita

Olhando rapidamente para os nomes das seleções deste grupo e para os jogadores que as compõem, a Croácia e sobretudo a Argentina são as grandes favoritas em seguir em frente. Se tivesse de apostar o meu dinheiro, era nelas que apostaria. Contudo, ao recolher e juntar alguma informação, o grupo que aparentemente tem duas seleções bem mais fortes do que as restantes poderá tornar-se no… grupo da morte.
A Argentina foi duas vezes campeã (1978 e 1986) e finalista do último Mundial, mas chega a Rússia após uma qualificação bastante sofrida, apenas garantida na última jornada e com a ajuda de terceiros, pois já não dependia apenas de si. A seleção que tem Messi, Higuaín e Dybala para o ataque, tem opções não muito convincentes para a baliza e para a defesa – ao ponto de Salvio e Acuña serem os laterais de serviço - e o terceiro conjunto mais envelhecido, apenas superado por México e Costa Rica. Da albiceleste, é de esperar o 8 e o 80…

Argentina teve fase de qualificação bastante sofrida
Já a Croácia chega ao Mundial com uma segunda geração de ouro, depois da que brilhou no final dos anos 1990 e era composta por craques como Suker, Boban, Stanic, Tudor ou Vlaovic. Agora, há Modric, Rakitic, Mandzukic ou Kovacic. No entanto, a seleção croata necessitou de ir ao play-off para se qualificar para o Campeonato do Mundo, depois de no seu grupo ter ficado atrás da… Islândia, precisamente uma das adversárias na Rússia e que há dois anos atingiu os quartos de final do Euro 2016.
Resta a Nigéria, que na fase de apuramento venceu um grupo que incluía algumas das principais seleções do continente negro: Zâmbia, Camarões e Argélia. Embora os grandes futebolistas africanos habitualmente sejam oriundos de outros países, as super águias aparentam reinar na produção de talentos em quantidade. Assim se explica a participação em seis dos últimos sete Campeonatos do Mundo, a presença nos oitavos de final do último torneio e o recorde de títulos mundiais em sub-17: cinco, três dos quais nos últimos 11 anos. Em recente previsão à RT Sports, José Mourinho escolheu mesmo o selecionado de Gernot Rohr como o acompanhante da Argentina na passagem à fase seguinte.


Grupo E: O favorito-mor no grupo da morte

Imparável desde a chegada de Tite para selecionador, o Brasil é apontado pelas casas de apostas como o principal favorito ao título – algo que, a confirmar-se, seria apenas o segundo de um conjunto sul-americano em solo europeu. Com uma seleção francamente melhor do que a de 2014 em praticamente todos os setores, o escrete mistura criatividade e equilíbrio, um pouco à imagem de 1994 e 2002. Neymar já deu sinais de que está totalmente recuperado da lesão, mas pelo sim pelo não há Gabriel Jesus, Roberto Firmino, Coutinho ou Willian a assegurarem qualidade no ataque. Bem diferente de ter Fred, Oscar ou Hulk, como foi o caso de há quatro anos.

Neymar está a ganhar ritmo após lesão sofrida no início do ano
Contudo, o grupo da seleção canarinha é, em teoria, o mais complicado. A Suíça ganhou 10 dos 12 jogos da qualificação, perdendo apenas um dos duelos com Portugal e empatando a zero com a Irlanda do Norte na segunda mão do play-off. Tem vindo a crescer e a consolidar-se, de tal forma que está em 6.º lugar no ranking FIFA. O cenário mais provável é que seja a acompanhante do Brasil na passagem aos oitavos.
No entanto, se o ranking FIFA dá favoritismo à Suíça, é a Sérvia a segunda seleção mais valiosa do grupo – 267,45 milhões de euros, contra os 218,1 M dos helvéticos e os 40,98 M da Costa Rica. Individualmente, os sérvios sempre contaram com jogadores muito talentosos, que agora aparentam funcionar como equipa, depois de terem superado três equipas que estiveram no Euro 2016 durante a qualificação: República da Irlanda, País de Gales e Áustria. Matic, Zivkovic e companhia poderão beneficiar do duelo entre brasileiros e suíços na primeira jornada.
Resta a Costa Rica, que não pode ser excluída da equação. Há quatro anos, era vista como saco de pancada de Uruguai, Inglaterra e Itália, mas foi primeira classificada do grupo e só foi afastada da competições num desempate por grandes penalidades diante da Holanda, nos quartos de final.


Grupo F: A maldição do campeão, a tradição mexicana e o carrasco de Holanda e Itália

A Alemanha é campeã do mundo, foi implacável durante a qualificação e pelo meio ainda venceu a Taça das Confederações com uma espécie de equipa B, mas curiosamente não é apontada como a grande favorita a vencer o torneio. Talvez por não ter uma grande individualidade, penso eu. Mas precisamente por não estar dependente de um ou dois jogadores é que devia ser levada (ainda) mais a sério. Ainda assim, a formação de Joachim Low tem uma espécie de maldição para se ver livre, uma vez que em três dos últimos quatro Mundiais, o campeão em título não passou da fase de grupos – foi assim com a França em 2002, a Itália em 2010 e a Espanha em 2014. Também há a maldição de nenhuma seleção ainda ter juntado o Campeonato do Mundo à Taça das Confederações, mas isso é lá mais para a frente, na fase das decisões.

Alemanha e México defrontaram-se há um ano, para a Taça das Confederações
Claramente favoritos a seguir em frente, a dúvida de muitos é saber quem vai acompanhar os germânicos. O ranking FIFA, o valor de mercado do lote de convocados e as casas de apostas apontam o México como principal candidato, algo que iria ao encontro do que tem sido a tradição da tricolor – desde 1994 que a eliminação mexicana ocorre nos oitavos de final. É o que vejo a acontecer.
Contudo, a Suécia que pode parecer banal sem Zlatan Ibrahimovic é a mesma que derrubou Holanda e Itália para marcar presença na Rússia, conta com 14 jogadores que atuam nas cinco principais ligas europeias e seis campeões da Europa de sub-21 em 2005 – sim, os que bateram Portugal na final. Jogar primeiro com a Coreia do Sul, enquanto o México enfrenta a Alemanha, poderá ser favorável.
Para completar o grupo, uma Coreia do Sul que já viveu melhores dias. Tem apenas cinco jogadores a atuar na Europa, e quatro nas cinco principais ligas, dois dos quais despromovidos na temporada que agora findou.


Grupo G: Abram alas para Bélgica e Inglaterra

Só uma hecatombe poderá impedir o apuramento de Bélgica e Inglaterra, ficando apenas por saber quem será primeiro e segundo. E como apenas se defrontam na última jornada, o mais provável até é irem para esse jogo já com a passagem aos oitavos de final garantida. Perante estas previsíveis facilidades, os belgas terão a oportunidade de consolidar em competição o 3x4x3 de sempre difícil implementação.

Bélgica em 3x4x3 para que os craques coabitem em campo
De acordo com o portal transfermarkt, o Panamá é a seleção mundialista com o valor de mercado mais baixo: 8,43 M €. Segundo a mesma fonte, o valor médio de um jogador de Inglaterra e Bélgica supera os 30 M €.
Pelo meio, mas bem mais próximo dos norte-americanos do que dos europeus, anda a Tunísia, que tem o 7.º plantel menos valioso do Mundial, apesar do 14.º lugar no ranking FIFA.


Grupo H: Equilíbrio como nota dominante

Quatro continentes estão representados naquele que é, em perspetiva, o grupo mais equilibrado. A seleção mais valiosa, segundo o transfermarkt, é o Senegal. E a melhor classificada no ranking FIFA é a Polónia. Mas de acordo com as casas de apostas, a Colômbia é a favorita a passar aos oitavos de final. O Japão aparece como underdog, mas ainda assim como o mais assíduo nestas andanças: vai para o sexto Mundial consecutivo.
Olhando para a composição dos plantéis de cada seleção, os polacos são os que têm mais jogadores nas cinco principais ligas europeias (16), mas apenas com ligeira vantagem para colombianos (15) e senegaleses (também 15), e com os nipónicos a morder os calcanhares (11).

Colômbia e Japão vão repetir duelo do Mundial 2014

A escolha é difícil, mas voto na Polónia de Lewandowski e no Senegal de Sadio Mané, com o palpite de que sairá deste grupo a grande surpresa deste Campeonato do Mundo.


Portugal a cair nos quartos e estrelas a sair da sombra

Olhando para os possíveis adversários em caso qualificação para os oitavos de final, Portugal acaba por ter a obrigação de atingir os quartos de final. Tudo o que for aquém dessa meta, será um fracasso. E tudo o que for além dessa fase, será um êxito. A equipa das quinas tem todas as condições para ultrapassar não só o seu grupo como o oponente que se seguir: Uruguai, Rússia, Egito ou Arábia Saudita. Depois, poderá aparecer a França ou o Brasil, e aí a música é outra.
Por falar em Brasil, reconheço o enorme upgrade em relação a 2014, mas quando olho para o desfecho dos últimos Campeonatos do Mundo, vejo que levou a melhor uma seleção com vários titulares do mesmo clube. Foi assim com a Alemanha em 2014 (Bayern), a Espanha em 2010 (Barcelona e Real Madrid) e a Itália em 2006 (Juventus). E talvez não seja apenas por mero acaso que apenas uma seleção não europeia tenha vencido um Mundial na Europa - precisamente o Brasil, no longínquo ano de 1958, em solo sueco. Por esta linha de raciocínio, prevejo a Alemanha a sagrar-se bicampeã mundial.
No plano individual, não espero que seja este, finalmente, o Mundial de Cristiano Ronaldo ou de Lionel Messi. Acredito que serão jogadores que habitualmente vivem na sombra destes dois que vão brilhar de forma mais cintilante. O alemão Thomas Muller já mostrou que tem apetência para desatar a marcar em Campeonatos do Mundo, o francês Antoine Griezmann fez saber no Euro 2016 que pode guiar a sua seleção à final, o inglês Harry Kane e o uruguaio Edinson Cavani estão incluídos em grupos cujo graus de dificuldade baixos convidam a golos em catadupa, Eden Hazard e Neymar são os homens certos para desatar os nós com que Bélgica e Brasil se poderão vir a deparar e a camisola da seleção espanhola poderá ser o traje perfeito para Isco e Marco Asensio mostrarem o que valem ao novo treinador do Real Madrid.





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