O holandês que jogou “no Arsenal, no Benfica e no Casino”. Quem se lembra de Glenn Helder?
Glenn Helder disputou 12 jogos pelo Benfica em 1996-97
Mais uma viagem ao período “Vietname”
do Benfica.
Quando chega um jogador de um grande clube ao futebol português automaticamente
se pensa: ‘vem dali, tem de ser bom’. O problema é que essa teoria tantas e tantas
vezes não bate certo. Se calhar, até bate mais vezes errado do que certo.
Neste caso, o veloz extremo
neerlandês – na altura dizia-se holandês – Glenn Helder reforçou as águias
em setembro de 1996 por empréstimo do Arsenal.
Após ter despontado no Sparta Roterdão e no Vitesse e se ter tornado
internacional pelos Países
Baixos, assinou pelos gunners
em fevereiro de 1995, por indicação do treinador George Graham, que acabou por
deixar o cargo apenas uma semana depois de ter sido consumada contratação. Começou por ser bastante
utilizado nos londrinos
e continuou a brilhar na seleção,
ao ponto de ter sido titular no jogo contra a República
da Irlanda que apurou a laranja
mecânica para o Euro 1996, mas foi perdendo espaço em Highbury até ser cedido
aos encarnados,
então comandados por Paulo Autuori. Assim que chegou a Lisboa sofreu uma lesão
grave, o que lhe adiou a estreia para 22 de dezembro. Até deixou água na boca quando
fez duas assistências logo no segundo jogo, ambas para Pringle numa goleada no
terreno do Leça
(1-5), mas acabou por só cumprir 12 jogos pelo Benfica,
tendo apontado somente um golo, numa visita ao Sp.
Braga (1-1), já com Manuel José no comando técnico. Depois lesionou-se em
março e não voltou a jogar pelo Benfica. “Quando penso no Benfica
recordo o tempo em que lá joguei, o que foi uma honra. Joguei no Arsenal
e o Benfica
está ao mesmo nível, é um grande clube. Conheci Eusébio
quando estive no Benfica
e foi uma grande honra. O Benfica
tem muita história e foi um orgulho ter lá estado”, afirmou à BTV em
abril de 2014.
Por altura da passagem pela Luz,
Helder já atravessava um grave problema provocado com a obsessão por apostas e
vida noturna. “Dou muitas palestras, tento inspirar as pessoas. Estive no lado
negro da vida, sabe? Costumo dizer: ‘joguei no Arsenal,
no Benfica
e no Casino. Nos dois primeiros ganhei muito, no terceiro perdi tudo’”, contou
ao Maisfutebol
em novembro de 2018. “Sofri muito, nem sempre por
culpa própria. Perdi tudo nas apostas e num divórcio horrível. E ajudei muita gente,
aproveitaram-se de mim, desbaratei dinheiro”, prosseguiu o antigo atacante, que
tentou suicidar-se em 1998, esteve preso e foi diagnosticado com problemas
psiquiátricos em 2007. A tentativa de suicídio aconteceu
numa fase em que Glenn Helder já nem pertencia aos quadros do Arsenal,
de onde tinha saído após ter sido substituído pelo compatriota Marc Overmars.
Estava no NAC Breda, tendo pedido ao médico do clube analgésicos para combater
dores no tornozelo esquerdo. “Conduzi até um parque de estacionamento, quase
deserto. Peguei no frasco dos medicamentos e engoli-os. Todos. Perdi os
sentidos e acordei já no hospital. Fui salvo a tempo por alguém que passou no
local e me viu”, contou à revista Vrij. A esses erros juntou-se um divórcio
catastrófico, que em 1999 o deixou na miséria, sem família e sem vontade de
jogar futebol: “Descobri que a minha mulher me traía. E agora? Tive de sair de
casa e deixar o meu filho. E o meu filho tem de conviver com o homem por quem
fui trocado. C’est La Vie.”
Em 2007, numa fase em que já
tinha pendurado as botas, chegou a dormir na rua e foi detido por posse ilegal
de arma, tendo sido diagnosticado com “personalidade narcisista e psicótica”. Entretanto reabilitou-se e construiu
uma nova vida: passou a fazer comentários para rádios e televisões, protagonizou
espetáculos de stand up comedy, regressou aos relvados para participar em jogos
de antigas estrelas e voltou a tocar bateria e a ser pai.
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