A minha primeira memória de… um dérbi entre Atlético e Real Madrid

Simão protagonista no dérbi apesar da derrota colchonera

Nos anos que antecederam a chegada de Diego Simeone ao comando técnico do Atlético Madrid, os colchoneros pautavam precisamente por um estilo totalmente contrastante ao que o treinador argentino haveria de impor. No final da década de 2000, os rojiblancos marcavam, mas também sofriam muitos golos. É verdade que el cholo haveria de trazer organização defensiva, mas não é mentira que no ataque a equipa tinha uma dupla como Kun Agüero e Diego Forlán e na defesa jogadores banais como Tomáš Ujfaluši, Luís Perea, Mariano Pernía e John Heitinga.

 

Para se ter a noção, o Atlético de Javier Aguirre partiu para o encontro da 7.ª jornada da Liga Espanhola de 2008-09, a 18 de outubro de 2008, em 7.º lugar no campeonato, com três vitórias e outras tantas derrotas e um saldo de 12 golos marcados (quarto melhor ataque, atrás de Real Madrid, Barcelona e Valência) e 10 sofridos (terceira pior defesa, atrás de Sporting Gijón e Recreativo de Huelva).

 

Por outro lado, o Real Madrid era bicampeão espanhol e vivia uma fase de algum fulgor doméstico, mas de falta de dimensão europeia, uma vez que vinha de quatro épocas consecutivas em que não tinha conseguido ultrapassar os oitavos de final da Liga dos Campeões. Os galácticos Figo, Zidane, Ronaldo e Beckham já não moravam no Bernabéu, mas não era por isso que os merengues não tinham futebolistas de renome mundial, como Iker Casillas, Sergio Ramos, Fabio Cannavaro, Wesley Sneijder, Rafael van der Vaart, Ruud Van Nistelrooy e Raúl. Pepe, Marcelo, Fernando Gago, Rubén de la Red, Gonzalo Higuaín e Royston Drenthe eram na altura aspirantes a chegar ao estatuto dos companheiros de equipa citados na frase anterior – uns conseguiram, outros nem tanto.

 

Recordo-me deste jogo devido a um golo de livre direto de Simão Sabrosa, aos 89 minutos, que na altura tinha dado o empate ao Atlético Madrid. Antes, Ruud van Nistelrooy tinha inaugurado o marcador logo aos 35 minutos e recebido ordem de expulsão aos 39’, tal como o colchonero Perea. Depois, na conversão de uma grande penalidade Gonzalo Higuaín deu a vitória aos blancos, então orientados pelo alemão Bernd Schuster, já ao cair do pano (90+5’).

 

O resultado permitiu ao Real Madrid continuar no pelotão da frente, com 16 pontos, os mesmos do Barcelona de Pep Guardiola. À frente dos dois colossos estavam Valência (19), Sevilha e Villarreal (ambos com 16). O Atlético, que continuava sem ganhar ao vizinho e rival desde 1999, caiu para oitavo lugar, mantendo os nove pontos.

 

 

“Depois da humilhação sofrida diante do Barcelona, há duas semanas, em Camp Nou (1-6) o Atlético Madrid voltou a dar um desgosto aos seus adeptos, perdendo em casa o derby madrileno com o Real (1-2). Foi uma derrota duplamente amarga para os colchoneros, pela forma como foi consentida: com um golo a abrir o jogo e outro no último lance. Van Nistelrooy abriu o marcador logo aos 35 segundos, gelando os espectadores no Vicente Calderón com um vistoso remate de fora da área. Ao longo de um derby marcado pela dureza, Perea e Van Nistelrooy viram o cartão vermelho ainda na primeira parte e, com as equipas reduzidas a dez, foram dos merengues as melhores ocasiões para sentenciar a partida. Com Pepe (Real) e Maniche (Atlético) a titulares, acabou por ser um terceiro internacional português a conseguir maior evidência: Simão saiu do banco ao intervalo, rendendo Pernía, e assinou 45 minutos de muito bom nível. A um minuto do fim, o extremo português marcou um livre direto de forma exemplar, batendo Casillas e fixando a igualdade, que parecia definitiva. Mas no quinto minuto de descontos, outro suplente, Drenthe, que entrara pouco antes para o lugar de Raúl, entrou na área e foi derrubado pelo seu colega de seleção, Heitinga. Penalty, que Higuaín converteu com classe, dando a vitória ao Real Madrid, que assim se chega provisoriamente à frente, esperando pelos resultados de Villarreal e Valência. O Atlético somou a quarta derrota em sete jogos e pode ter descolado, de forma irremediável, do pelotão da frente”, escreveu o Maisfutebol.

 

“Simão colocou o Vicente Calderón a sonhar com a reviravolta no marcador quando, a um minuto do termo do tempo regulamentar, apontou de forma irrepreensível um livre que igualou o marcador. Porém, o show do extremo começou logo no começo da segunda parte, quando Javier Aguirre o colocou em campo. Higuaín, contudo, aos 95’ deu corpo à tradição que dura desde 1999 e deu a vitória ao Real Madrid”, resumiu o jornal O Jogo.