quarta-feira, 6 de julho de 2022

Latón no Varzim. Poveiros pescam um polvo em reabilitação

Hélder Martins vai jogar pelo Varzim em 2022-23
À procura de voltar ao alto-mar que são as ligas profissionais, o Varzim pescou na Amadora um polvo que foi uma das espinhas dorsais de um Estrela que há apenas pouco mais de um ano alcançou a promoção à II Liga, batendo a concorrência de Sporting B na fase regular e de Torreense, União de Leiria e Vitória de Setúbal na fase de subida.

O médio defensivo Hélder Martins, mais conhecido por Latón, era o homem que nos tricolores travava (sem falta) os contra-ataques à nascença, recuperava bolas a meio-campo, surgia sucessivamente a dar cobertura à linha defensiva e criava superioridade numérica na zona da bola.

Poucas semanas antes de morrer, o saudoso treinador Vítor Oliveira disse que “uma equipa de futebol é como uma orquestra em que uns tocam violino, violoncelo e outros tambor” e que “é preciso sapato de verniz, tamancos e jogadores que se possam complementar”. E na orquestra que era esse Estrela da Amadora 2020-21, orientado por Rui Santos, uns tocavam violino e violoncelo, mas a sinfonia dificilmente soaria tão bem sem Latón no tambor.

Embora jogasse quase de igual forma com os dois pés e fosse criterioso e assertivo no passe, o jovem centrocampista, que em agosto comemora o 24.º aniversário, sentia dificuldades em verticalizar o jogo, preferindo quase sempre jogar pela certa, lateralizando, colocando a bola num companheiro pouco pressionado.

Pelo que mostrava ofensivamente, talvez fosse difícil encaixá-lo numa equipa com uma filosofia demasiado romântica, que estimula e é estimulada pela relação de cada jogador com a bola. Porém, era pelo que oferecia à equipa no plano defensivo que Latón se destacava.

Um autêntico polvo à frente da defesa, onde costuma atuar em cunha com outro médio no 4x2x3x1 de Rui Santos, oferecia uma excelente cobertura à linha mais recuada durante o processo defensivo, basculando a toda a largura do campo à procura de criar superioridade numérica e cortar linhas de passe. E no momento da perda da bola assumia um papel fundamental para funcionar como tampão às transições ofensivas da equipa adversária.

Além de um posicionamento bastante assertivo, o possante futebolista de 1,85 m também mostrava o que valia nos duelos, quase que aparentando ter uma terceira perna, tal a forma como somava desarmes atrás de desarmes e ganhava bolas divididas ao longo de cada jogo.


O pior veio depois. No penúltimo jogo da fase de promoção dessa temporada, com o objetivo da subida à II Liga ali tão perto, Latón sofreu uma rotura no ligamento cruzado anterior do joelho direito que o afastou dos relvados durante cerca de dez meses. E quando voltou, jogou apenas pela equipa B do Estrela na III Divisão Distrital da AF Lisboa, caindo por terra a possibilidade de o ver a colocar em prática, num contexto de II Liga, tudo o que tinha mostrado no Campeonato de Portugal em 2020-21.

Depois de quase uma época em branco, foi esta terça-feira anunciado como contratação do Varzim, que, tal como o Estrela da Amadora há duas temporadas, também procura a subida à II Liga. O risco desta aquisição está bem patente, mas se correr bem os poveiros vão conseguir reabilitar um atleta ainda bastante jovem e que, se recuperar a confiança e os índices físicos de há pouco mais de um ano e juntar-lhe o que sabe fazer em campo, terá todas as condições para ser uma peça importantíssima na equipa nortenha.





 




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