Dia de sonho para a Bolívia e de pesadelo para a Argentina |
1 de abril de 2009. O que parecia
ser uma piada do dia das mentiras tornou-se mesmo realidade. Uma Argentina
com Diego Maradona no comando técnico e Lionel
Messi em campo não teve oxigénio suficiente para travar aquela que foi
conhecido como o Massacre de La Paz, a mais de 3600 metros de altitude: 6-1
para a Bolívia.
Curiosamente, cerca de dois anos
antes a FIFA decidiu proibir jogos internacionais em locais com altitude superior
a 2500 metros, por considerar desleal e desumano. No entanto, a comunidade
andina e o governo da Bolívia levaram a cabo várias ações de protesto, às quais
se juntou Maradona, que defendeu a ideia de que o povo boliviano tinha que ter
a possibilidade de a sua seleção jogar verdadeiramente em casa. Em maio de
2008, após pressão da CONMEBOL e da Federação Boliviana, a entidade que tutela
o futebol mundial anunciou a suspensão da medida.
Quando a Argentina
de Maradona foi jogar à Bolívia na qualificação para o Mundial 2010, nesse dia
das mentiras de 2009, fê-lo precisamente no Estádio Olímpico Hernando Siles, em
La Paz, numa altitude que correspondia ao dobro do ponto mais alto da serra da
Estrela. Não serve de justificação, porque os bolivianos raramente conseguiram
aproveitar o fator casa para fugir aos últimos lugares da zona de apuramento da
CONMEBOL para Campeonatos do Mundo, mas nesse dia terá ajudado la verde a dizimar uma das seleções mais
poderosas do mundo.
O avançado Marcelo Moreno
(Shakhtar Donetsk) era o jogador mais mediático da seleção boliviana. O defesa
central Juan Manuel Peña (Celta
de Vigo) e o médio ofensivo Ronald García (Aris, ex-Alverca
e ex-Benfica)
completavam o trio que atuava na Europa. O selecionador era Erwin Sánchez,
antigo jogador de Benfica
e Boavista.
A seleção boliviana adiantou-se
ao minuto 11, por Marcelo Moreno, a passe de Joaquín Botero. A Argentina
ainda chegou ao empate aos 25’, através de um disparo do então médio
portista Lucho González, num lance em que o guarda-redes Carlos Arias ficou
bastante mal na fotografia.
No entanto, a partir daí só deu
Bolívia. Botero devolveu a vantagem aos tiahuanacos
na conversão de uma grande penalidade (34’) e à beira do intervalo assistiu Alex
da Rosa para o 3-1, numa jogada de contra-ataque.
No segundo tempo, o resultado
ganhou contornos de goleada. Aos 53 minutos, Botero fez de cabeça o quarto golo
de la verde, após cruzamento na
direita de Moreno. Aos 65’, numa altura em que a expulsão do então extremo benfiquista
Di María tinha deixado a Argentina
reduzida a dez unidades, Botero completou o hat-trick
após passe em profundidade de Ronald García. E aos 87’, o mesmo Botero bisou
nas assistências ao servir Didí Torrico, que fechou as contas através de um
disparo de fora da área.
“Nem nos piores pesadelos
Maradona poderia imaginar que veria a sua Argentina
perder contra a Bolívia por números tão dilatados, como aqueles ontem
alcançados: 6- 1. Lucho
González ainda marcou o golo argentino, ao passo que Di María se fez
expulsar após apenas sete minutos em campo, ajudando ao desastre. No quinto
jogo como selecionador da albiceleste,
Maradona sofreu a primeira derrota. A goleada perante os bolivianos só encontra
paralelo na história argentina
com a derrota sofrida diante da Checoslováquia no Mundial 1958 (também por
6-1). Uma coincidência nas duas páginas negras do futebol das pampas:
em 1958 o guarda-redes foi Amadeo Carrizo; ontem foi Juan Pablo Carrizo”,
escreveu o jornal O Jogo.
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