sábado, 29 de maio de 2021

Do Barreiro à final da Champions. Os antecessores de João Cancelo

Quatro barreirenses que atingiram finais europeias
A estatística que verdadeiramente interessa, não é? O lateral do Manchester City, João Cancelo, vai este sábado juntar-se ao restrito lote de futebolistas barreirenses que jogaram – ou que pelo menos estiveram na caminhada até lá – na final da Taça/Liga dos Campeões Europeus.
 
A sul do Tejo, em boa parte rodeado por rio (Tejo e Coina) e vista para Lisboa, o Barreiro já teve representado na final da Champions por três futebolistas – Cancelo poderá ser o quarto, caso seja utilizado por Pep Guardiola no duelo inglês com o Chelsea – e ainda teve outro que, embora não tivesse sido utilizado no jogo de atribuição do troféu, contribuiu para duas caminhadas até à final.
 
Mário João
Os primeiros barreirenses a chegar à final da então designada por Taça dos Campeões europeus foram Mário João e José Augusto, que estiveram na primeira presença de uma equipa portuguesa no jogo decisivo, o Benfica-Barcelona de 1961, em Berna. Tanto o primeiro, um defesa lateral oriundo da CUF em 1955, como o segundo, um virtuoso extremo direito proveniente do Barreirense em 1959, atuaram os 90 minutos na final, até porque nessa altura ainda não existiam substituições. Nessa final, as águias triunfaram por 3-2.
 
Com seis golos, José Augusto foi o segundo melhor marcador da competição – a par do brasileiro Evaristo, do Barcelona –, sendo apenas superado pelo companheiro de equipa José Águas, que apontou onze. O extremo, também conhecido como o Garrincha português, foi decisivo para a eliminação dos escoceses do Hearts na ronda preliminar e dos dinamarqueses do AGF nos quartos de final.
 
 
José Augusto
Um ano depois, a dupla barreirense voltou a marcar presença na final da Taça dos Campeões Europeus, desta vez frente ao Real Madrid de Puskás, Gento e Di Stéfano. Mais uma vez com o húngaro Béla Guttmann no comando técnico, mas desta feita com Eusébio como companheiro de equipa, Mário João e José Augusto voltaram a sagrar-se campeões europeus, tendo ajudado o Benfica a bater o Real Madrid por 5-3, em Amesterdão.
 
José Augusto voltou a estar em evidência nas eliminatórias, bisando frente ao Nuremberga nos quartos de final e diante do Tottenham nas meias.
 
 
Entretanto Mário João voltou à CUF por motivos financeiros – outros tempos… –, mas José Augusto continuou a somar finais europeias. Em 1963 o extremo voltou a marcar presença no encontro de atribuição do troféu, uma derrota às mãos do AC Milan de Cesare Maldini, Giovanni Trapattoni, José Altafini e Gianni Rivera em Wembley (1-2). Mas antes marcou um golo decisivo ao Feyenoord na segunda-mão das meias-finais. Nessa época, o Benfica era orientado pelo romeno Elek Schwartz.
 
 
Em 1965, José Augusto voltou a estar presente na final, desta feita perdida para o Inter de Milão de Facchetti, Sandro Mazzola e Luis Suárez em San Siro (0-1), e a estar em plano de evidência durante as eliminatórias. O magriço marcou frente aos luxemburgueses do Aris na ronda preliminar, bisou aos suíços do La Chaux-de-Fonds na primeira eliminatória e voltou a faturar diante do Real Madrid nos quartos de final e ante os húngaros do Vasas ETO Győr nas meias-finais. No comando técnico benfiquista estava o chileno Fernando Riera.
 
 
Adolfo Calisto
Haveria ainda tempo para mais uma final para José Augusto, em 1968, quando já tinha 31 anos. Mais uma vez em Wembley, houve derrota para o Manchester United de Bobby Charlton, George Best e Matt Busby por 1-4 (após prolongamento). Na caminhada até ao encontro decisivo, o extremo barreirense marcou aos franceses do Saint-Étienne na 2.ª eliminatória.
 
No entanto, houve mais um jogador natural do Barreiro no onze de Otto Glória nessa final em Londres, o lateral esquerdo Adolfo Calisto, que tinha chegado ao Benfica em 1966, proveniente do Barreirense.
 
 
Fernando Chalana
Adolfo Calisto e José Augusto foram os últimos jogadores barreirenses a marcar presença numa final da Taça/Liga dos Campeões Europeus, mas houve um outro que, não tendo jogado a final, participou numa caminhada até ao encontro decisivo. Falamos do extremo Fernando Chalana, que em 1987-88 foi utilizado em três jogos, entre os quais as duas meias-finais frente ao Steaua Bucareste; e em 1989-90 voltou a disputar três encontros. Nessa fase, Chalanix vivia já uma fase de menor fulgor na carreira.
 
João Cancelo
Agora, mais de três décadas depois, é a vez do lateral João Cancelo surgir no maior palco do futebol português. Na caminhada do Manchester City até à final participou em nove encontros (sete a titular) e marcou ao Olympiacos             ainda na fase de grupos. É o primeiro barreirense a atingir a final na era Liga dos Campeões e tem em José Augusto um admirador confesso. “Hoje já não se veem muitos jovens a jogarem na rua, mas creio que o Cancelo é talvez o último exemplo deste tipo de jogador. Já esteve na formação do Benfica, mas a jogar na rua ganha-se uma irreverência que é muito importante para desenvolver a personalidade”, afirmou o magriço ao Record em fevereiro de 2014.
 
 
Resta saber se João Cancelo vai repetir os feitos dos conterrâneos José Augusto e Mário João, que conseguiram levantar a orelhuda.










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