Que não haja dúvidas: o talento
futebolístico de Everton
Cebolinha vale os 20 milhões de euros que o Benfica
pagou por ele – atendendo aos valores bizarros que se praticam na bolha
económica em que a indústria futebolística vive.
O agora ex-extremo do Grêmio
tem talento de sobra e chega ao futebol europeu já algo polido, aos 24 anos,
conseguindo associar a irreverência e o açúcar tão típicos dos atacantes
brasileiros com maturidade na tomada de decisão. No tricolor
gaúcho mostrou
ser um fantasista que samba perante os defesas como se estivesse a jogar na rua
com os amigos, uma característica que se faz sentir sobretudo no drible,
exibindo daqueles rasgos individuais que fazem levantar o estádio.
Destro,
jogava habitualmente na ala esquerda dos gremistas,
tal como Neymar
nos clubes por onde tem passado, mas
com tendência para se mover para zonas interiores, nomeadamente para o chamado espaço
entre linhas, a zona cinzenta entre as linhas média e defensiva da equipa
adversária, um local privilegiado para o último passe e até para o remate.
Um pouco à imagem do craque
do Paris Saint-Germain, Cebolinha
é
rápido, forte no um contra um, tem recursos técnicos para dar e vender e é
imprevisível com a bola nos pés, sendo capaz de tirar adversários do caminho
com relativa facilidade.
Porém,
como qualquer futebolista genial, também tem os seus defeitos, e não falo só no
momento defensivo habitualmente descurado pelos grandes craques. Ainda na hora
de atacar, chega a alhear-se do jogo durante largos minutos ou a abusar dos
lances individuais, procurando resolver tudo sozinho. Um problema para Jorge
Jesus resolver.
Ainda assim, é um dos novos jogadores
com os quais o selecionador brasileiro Tite tem contado no pós-Mundial 2018,
tendo somado já 14 internacionalizações e três golos pelo escrete. Antes da pandemia,
vários colossos europeus mostraram-se atentos e dispostos a cometer uma loucura
por Everton,
que foi apontado a clubes como Manchester United, Manchester City e AC
Milan. Porém, o covid-19
tornou-o mais acessível. E aí está ele no Benfica,
blindado com uma cláusula de rescisão recorde de 150 milhões de euros e contrato
até 2025.
Se o talento bastar, Everton
Cebolinha vai vingar na Luz.
Mas há a questão da adaptação, que deve ser levada em conta e acompanhada de perto
pelos dirigentes encarnados.
Essa não é apenas uma desculpa para justificar flops, é uma questão real. Basta recordar que jogadores canarinhos como
Thiago Silva, Diego e Luís Fabiano fizeram grandes carreiras no futebol europeu
depois de não terem vingado no FC
Porto. E, por outro lado, existem inúmeros exemplos de futebolistas
provenientes das divisões secundárias brasileiras – alguns até dos estaduais -
que aterram em Portugal como anónimos, fazem um trajeto ascendente, chegam aos
grandes clubes portugueses e impõem-se, como Isaías, William, Marco Aurélio, Derlei,
Pepe,
Maicon e Jardel
(o central).
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