sábado, 18 de abril de 2020

E se não se jogar mais? Cinco possibilidades para decidir subidas à II Liga

Fórmula para apurar promoções à II Liga está em aceso debate
A esperança de todos os agentes do futebol é que ainda se jogue esta época. No Campeonato de Portugal, a Federação Portuguesa de Futebol já anunciou que “analisará e comunicará com a maior brevidade possível de que forma serão indicados os dois clubes que acedem à II Liga”.

Manter o playoff de oito equipas, com os dois primeiros classificados de cada série, continua em cima da mesa. Mas há mais pontos de vista: os terceiros e quartos classificados de cada série pedem um playoff a 16 e também há quem peça um playoff em que apenas participem os quatro líderes.


E se não for possível jogar? Cada um puxa a brasa à sua sardinha, mas, por muito que os catedráticos do cheiro do balneário queiram fechar o futebol e todos os debates que o desporto-rei envolve neles mesmos, é indispensável a visão mais distanciada, isenta, imparcial e analítica dos jornalistas. Por isso, exponho aqui cinco possibilidades para apurar quem sobe do Campeonato de Portugal à II Liga.


1. Mais pontos à data da paragem (25.ª jornada)

À primeira vista, seria o critério mais palpável e meritocrático, uma vez que cerca de 75 por cento da fase regular do Campeonato de Portugal já decorreu. Se avançar esta possibilidade, serão promovidos Vizela (60 pontos na Série A) e Arouca (58 pontos na Série B), dois clubes que, como não poderia deixar de ser, já defenderam esta ideia.
Porém, é preciso não esquecer duas assimetrias essenciais: não se defrontaram todos o mesmo número de vezes e nem todas as séries têm o mesmo nível competitivo. Embora seja muito propagada a alegada maior competitividade que existe a norte, a verdade é que residem nas Série A e B as duas únicas equipas que à 25.ª jornada tinham menos de dez pontos: Câmara de Lobos (A) e Ginásio Figueirense (B).
Na Série C, por exemplo, apenas 14 pontos separaram as zonas de acesso ao playoff e de despromoção, quase metade do que se regista nas restantes séries. E, curiosamente, os clubes promovidos nos últimos anos à II Liga são das séries mais a sul: Vilafranquense e Casa Pia na época passada, Mafra e Farense na anterior e Real SC (e Oliveirense) em 2016-17.


2. Mais pontos no final da primeira volta (17.ª jornada)

Em relação à primeira hipótese, estaríamos a valorizar apenas 50% da época e não 75%, mas por outro lado esse mérito parcial seria menos assimétrico, uma vez que refletiria uma série de jornadas em que todos se defrontaram por uma vez.
Se este critério for tido em conta, subirá Olhanense (40 pontos) e Real SC (39), ambos da Série D. Embora os realistas tivessem virado o campeonato com os mesmos pontos que Vizela e Arouca, tinham na altura um saldo melhor entre golos marcados e sofridos (+29 contra +27 dos minhotos e +14 dos beirões).
Porém, continuaria a ser válido que existem assimetrias (difíceis de medir…) entre séries.


3. Promover quatro ou oito equipas

Este seria o critério menos injusto tendo em conta o mérito dos clubes durante 75% da época. Caso sejam promovidos os quatro líderes das séries, Vizela, Arouca, Praiense e Olhanense, a II Liga passaria a ter 20 equipas, algo que até se verificou há bem pouco tempo, em 2017-18. E se também subirem os quatro segundos classificados de cada série, Fafe, Lusitânia de Lourosa, Benfica Castelo Branco e Real SC, o número de equipas na II Liga aumentaria para 24, algo que também aconteceu recentemente, em 2014-15 e 2015-16. Se tal vier a acontecer, teria obrigatoriamente de implicar a descida de quatro a seis equipas nas próximas temporadas.
Porém, há duas notas a reter. Primeira: essas épocas com tantas equipas reforçaram a insustentabilidade da competição em termos de patrocínios, percentagem de jogos televisionados e bilhética, uma vez que abundavam os encontros disputados às 15.00 de quarta-feira.  Segunda: a FPF pareceu ser bem explícita quando referiu “analisará e comunicará com a maior brevidade possível de que forma serão indicados os dois clubes que acedem à II Liga”.


4. Ter o histórico recente em conta

Qualquer decisão que venha a ser tomada será sempre injusta, porque as equipas não se defrontaram todas duas vezes. O que está no regulamento não será cumprido, pelo que de uma parte ou de outra vão surgir queixas.
Perante este cenário, a Federação Portuguesa de Futebol pode analisar o histórico desportivo recente dos clubes para decidir quem sobe à II Liga. Se tivermos em conta as últimas épocas, o Vizela foi o primeiro classificado da sua série tanto em 2017-18 e 2018-19, mas foi vítima da crueldade do mata-mata. O mesmo se aplica ao Praiense, que em duas das três últimas temporadas tem sido extremamente regular e assegurado o apuramento para a fase de promoção, mas tem batido com o nariz na porta nos últimos jogos do playoff.
Por outro lado, o Arouca passou as últimas temporadas nas ligas profissionais e em 2016-17 até participou na Liga Europa, ainda que tenha descido duas vezes de divisão em três anos. E é necessário não esquecer que o Real SC competiu na II Liga em 2017-18.


5. Analisar pressupostos financeiros, infraestruturais e formação

Há um ano, o FC Andorra, cujo dono é o jogador do Barcelona Gerard Piqué, pagou os mais de 450 mil euros necessários para preencher uma vaga em aberto na II Divisão B espanhola, subindo assim duas divisões numa só temporada.
Fazer algo semelhante na II Liga portuguesa seria altamente injusto, tendo em conta as circunstâncias especiais em que este impasse está envolvido, mas uma das formas para decidir quem sobe pode passar por um processo que incluísse envio de candidaturas e consequente análise por parte da FPF.
Perante esta revolucionária e remota possibilidade, pressupostos financeiros, infraestruturais e certificação de entidade formadora seriam os itens a ter em conta. É verdade que cada clube é obrigado a criar uma SAD ou uma SDUQ em caso de promoção às ligas profissionais, mas premiar as boas práticas talvez não seja descabido de todo num cenário desta natureza e numa altura em que se fala tanto da bolha em que o futebol vive e de fair play financeiro.






























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