O Cassius Clay, o Napoleão e o filho. O que disse Bölöni sobre os “artistas” do Sporting campeão em 2001-02
Jardel marcou 42 golos na I Liga às ordens de Bölöni em 2001-02
László
Bölöni era um dos homens do momento em Portugal em meados de 2002. O treinador
romeno havia guiado o Sporting
ao segundo campeonato nacional e à primeira dobradinha em duas décadas e tirava
o melhor partido de Mário
Jardel, Bota de Ouro dessa época com 42 golos.
Foi, por isso, com toda a
pertinência que lançou em abril desse ano o livro O Bloco de Notas de Laszlo
Bölöni, da autoria de Luís Miguel Carvalho, um título alusivo ao famoso
bloco de notas que o acompanhava durante treinos e jogos. Na obra, que resumiu essa bem-sucedida,
mas também algo turbulenta temporada de 2001-02, Bölöni
dedicou umas páginas para falar dos “artistas” que colocaram em prática, no
relvado, as suas ideias, descrevendo-os e colocando-lhes rótulos. Sobre o goleador-mor da equipa, Mário
Jardel, o romeno
falou do avançado
brasileiro como “uma pessoa que vive na fronteira da regra, no limite da
irregularidade, mas muito amigo e muito simpático”. “É um indisciplinado com
disciplina, um desordenado com ordem. Jardel
vive com uma ‘desordem ordenada’ permanente à sua volta. Aquilo que ele sabe
fazer, fá-lo de forma genial e melhor que ninguém, e com isso faz-nos esquecer
aquilo que ele não sabe fazer. Tal como uma criança, precisa de ser amado,
ajudado e disciplinado. É um provocador nato, um brincalhão”, prosseguiu. O treinador
comparou mesmo “Super
Mário” ao pugilista norte-americano Muhammad Ali, considerado um dos
melhores desportistas de sempre: “Para mim, ele é o Cassius Clay do futebol.
Era uma figura que eu admirava imenso por tudo aquilo que fez. Adoro o Mário
por tudo aquilo que ele representa. Ah, já me ia esquecendo, e também porque
marca golos!”
Nessa equipa do Sporting,
Jardel
chamava de “pai” a João Vieira Pinto, que para Bölöni
é “o Napoleão do futebol”. “As suas armas são os passes, as desmarcações, as
aparições na grande área… tudo isso funciona maravilhosamente”, justificou. “Ele já disse que a época 2001-02
foi a melhor da sua carreira. Senti-me muito orgulhoso por isso. Se eu não
quiser ter discussões em casa com a minha mulher e a minha filha, sou obrigado
a utilizá-lo em todos os jogos, porque ambas são verdadeiramente ‘apaixonadas’
pelo seu jogo. Por isso, acho que é melhor não arranjar discussões com a minha
família”, acrescentou, com sentido de humor.
Também o compatriota Marius
Niculae teve direito a uma menção especial no livro. “É como se fosse
meu ‘filho’! Levei-o à seleção
romena, fui responsável pela sua vinda para o Sporting
e conheço-o como a palma das minhas mãos. Tenho um grande carinho por ele!”,
começou por dizer. “É o tipo de jogador que não
obtém nada com facilidade. Jogue bem ou jogue mal, uma pequena parte do seu
coração fica sempre em campo depois do jogo terminar. Foi por isso que ele
entrou e conquistou rapidamente a simpatia dos adeptos”, prosseguiu, tendo
referido depois a grave lesão que afastou o jovem atacante dos relvados durante
a segunda metade da época: “Após a sua lesão, quando estava estendido na
marquesa de massagens, olhei para aquela cara de criança e vi um misto de dor e
de tristeza tão profundas como um oceano. Dava para adivinhar que ele seria
capaz de abdicar de cinco anos da sua vida para poder ter o seu joelho intacto
novamente.” “Sei que está desejoso por
mostrar todo o seu talento aos adeptos do Sporting
e vai consegui-lo! Tem uma força de vontade extraordinária e um talento muito
acima da média. Tudo isto com apenas 21 anos de idade”, concluiu.
Igualmente referido de forma
especial foi Rui
Jorge, “um jogador muito atento às críticas” e também ele muito
crítico: “Ouve tudo com muita atenção, mas depois encontra sempre uma forma
delicada de dizer ‘sim, mas…’.” “A determinada altura da época falámos
sobre a importância do trabalho físico. Como sempre, Rui
Jorge ouviu atentamente e depois saiu-se com o tal ‘sim, mas… olhe que
quando regamos demais uma planta ela morre’. Por outras palavras, ele queria dizer que eu não
devia exagerar na preparação física da equipa”, contou. “Expliquei-lhe de forma
igualmente mais ou menos séria, os meus dois grandes princípios básicos de
funcionamento: 1.º O treinador tem sempre razão; 2.º Quando o treinador não tem
razão aplica-se o princípio n.º 1”, acrescentou.
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