terça-feira, 27 de setembro de 2022

Do desastre de Chamartín às fases finais. Recorde todos os jogos oficiais entre Portugal e Espanha

Nuno Gomes deu a Portugal a única vitória oficial sobre Espanha
O histórico de confrontos (oficiais e amigáveis) entre Portugal e Espanha é francamente favorável a nuestros hermanos, mas há várias décadas que a equipa das quinas tem vindo a dar cada vez mais luta à seleção do país vizinho.

No total, Espanha soma 16 vitórias contra seis de Portugal – e 17 empates –, mas no que concerne a jogos oficiais la roja tem quatro triunfos contra um da armada lusitana, numa contabilidade em que também constam cinco igualdades.

O primeiro duelo entre portugueses e espanhóis, que também foi o primeiro jogo da história da seleção lusa, remonta a 18 de dezembro de 1921, com Espanha a vencer por 3-1 no Campo de O`Donnell, em Madrid. Já os dois primeiros compromissos oficiais entre as duas seleções foram disputados em 1934, ambos relativos à fase de qualificação para o Campeonato do Mundo desse ano.

Vale por isso a pena recordar os 10 jogos oficiais entre Portugal e Espanha.

11 de março de 1934 – Fase de qualificação para o Mundial 1934
Espanha 9-0 Portugal
Depois de não ter sido convidado para participar no Mundial 1930 – o único que não teve fase de qualificação –, Portugal disputou com Espanha uma espécie de playoff de apuramento para o Campeonato do Mundo de 1934, que haveria de se realizar em Itália.
No primeiro jogo, no Estádio Chamartín – que antecedeu o Santiago Bernabéu como palco dos jogos em casa do Real Madrid –, la roja atropelou a seleção lusa então orientada por Ribeiro dos Reis, que até ficou em Lisboa por motivos de saúde da mãe, com um expressivo 9-0. Chacho (cinco minutos), Isidro Lángara (10', 12 g.p.', 47', 79' e 85'), Luis Regueiro (68' e 76') e Ventolrà (77').
De nada valeu o apoio dado pela multidão na estação de Santa Apolónia antes da viagem de comboio entre Lisboa e Madrid.
Em Portugal, a goleada foi alvo de chacota, tendo ganhado fama uma canção chamada Trevo de Quatro Folhas, de Nascimento Fernandes, que mofava: “Quando a seleção trabalha/ Como eu quero/ Então é que não falha/ Nove a zero!


18 de março de 1934 – Fase de qualificação para o Mundial 1934
Portugal 1-2 Espanha
Apesar da derrota pesada sofrida em Madrid, uma vitória portuguesa em Lisboa (independentemente dos números) levaria as duas seleções para um jogo de desempate.
Já com Ribeiro dos Reis no banco, Portugal até se colocou em vantagem logo aos onze minutos, por Vítor Silva. No entanto, Espanha reagiu rapidamente e aos 25' já tinha dado a volta ao resultado, graças a dois golos de Isidro Lángara (13' e 25').
Apesar da derrota, a luta dada à equipa de nuestros hermanos restaurou o orgulho nacional.



2 de abril de 1950 – Fase de qualificação para o Mundial 1950
Espanha 5-1 Portugal
16 anos depois, as duas seleções voltaram a defrontar-se numa fase de qualificação para um Campeonato do Mundo. Pelo meio, tinham medido forças em oito jogos de caráter particular, com Portugal a conseguir a primeira vitória de sempre sobre a vizinha Espanha em 1947 (4-1).
Apesar das esperanças renovadas, a armada lusitana orientada por Salvador do Carmo saiu do Estádio Nuevo Chamartín – assim designado até 1955, quando passou a adotar o nome Santiago Bernabéu – goleada por 1-5.
Telmo Zarra, que até novembro de 2014 era o melhor marcador de sempre da liga espanhola, bisou (18 e 58 minutos). Estanislao Basora (19'), Jose Panizo (20') e Luis Molowny (65') marcaram os restantes golos espanhóis, ao passo que Fernando Cabrita foi o autor do tento de honra português (38').



9 de abril de 1950 – Fase de qualificação para o Mundial 1950
Portugal 2-2 Espanha
Ao quarto jogo, Portugal saiu de um dérbi ibérico sem ser com uma derrota.
No Estádio Nacional, o inevitável Telmo Zarra colocou Espanha em vantagem aos 25 minutos. No início da segunda parte a seleção lusa então orientada por Salvador do Carmo mostrou-se afinada, com os violinos Travassos (52') e Jesus Correia (54') a darem a volta ao resultado. No entanto, Agustín Gainza igualou o encontro já na reta final (82') e colocou um ponto final nas aspirações portuguesas.
Ainda assim, Portugal foi convidado (tal como França) a marcar presença no Campeonato do Mundo, em substituição das desistentes Escócia e Turquia, mas acabou por recusar. Se tivesse aceitado o convite, teria ficado integrado o grupo 4, ao lado de Uruguai (que viria a sagrar-se campeão mundial) e Bolívia.



17 de junho de 1984 – Euro 1984 (2.ª jornada da fase de grupos)
A estreia portuguesa em Europeus começou com um empate a zero diante da detentora do título europeu, a Alemanha (0-0). Também na jornada inaugural do Grupo 2, Espanha e Roménia também não foram além de uma igualdade (1-1).
No dérbi ibérico da segunda jornada, António Sousa inaugurou o marcador no Estádio Vélodrome, em Marselha, através de um remate colocadíssimo que não deu qualquer hipótese de defesa ao mítico guarda-redes Luis Arconada (52 minutos). Contudo, Santillana deu o empate à la roja cerca de 20 minutos depois (73'), na sequência de um pontapé de canto e de uma série de ressaltos.



20 de junho de 2004 – Euro 2004 (3.ª jornada da fase de grupos)
Ao sexto encontro oficial, a primeira vitória para Portugal.
Um jogo que será recordado para sempre por quem o viveu. Portugal organizava o Euro 2004, mas corria o sério risco de pela primeira vez não ir além da fase de grupos. Após a derrota na estreia às mãos da Grécia e de uma vitória sobre a Rússia na segunda jornada, a seleção nacional estava obrigada a ganhar à vizinha Espanha, que nunca tinha vencido em jogos oficiais, para seguir em frente na competição. Iker Casillas, Carles Puyol, Xabi Alonso, Raúl e Fernando Torres eram algumas das figuras de la roja.
Ao intervalo, com o resultado empatado a zero, o selecionador Luiz Felipe Scolari decide substituir Pauleta, que tinha marcado golos atrás de golos durante a fase de preparação, mas que ainda estava em branco no torneio, por Nuno Gomes, um avançado com menos olhos para a baliza, mas com mais vocação para combinar com os companheiros.
Porém, ao minuto 57 Nuno Gomes decidiu esquecer os companheiros e meter os olhos na baliza adversária. “Eu respeitava demasiadas vezes os movimentos dos companheiros. Alguns críticos apontavam-me o facto de não ser egoísta como um defeito para um ponta de lança, e em parte concordo com eles. Por isso, quando o Figo inicia o lance, a lógica diz-me para fazer o 1-2 com ele. Acontece que já naquela altura se analisavam os adversários em pormenor, e acredito que os defesas espanhóis sabiam perfeitamente as diferenças entre a minha forma de jogar e a do Pauleta. Quando o Figo corre para o meio vê-se que dois deles [Juanito e Albelda] acompanham o movimento para fechar. É nesse momento que hesito e me lembro de fugir, por uma vez, aos meus princípios como jogador. Muitas vezes quando recebemos de costas para a baliza nem temos tempo para dominar, sentimos logo o central nos calcanhares. Mas nesse caso percebi que ele [Helguera] não tinha acompanhado e estava à espera da entrada do Figo. Por isso, uma vez tomada a decisão, tenho tempo para dominar, rodar e preparar o remate. Muitas vezes o defesa que sai ao remate levanta uma perna, para aumentar o volume do corpo. Os avançados sabem que se a bola passar aí o guarda-redes não a vê logo. Acho que foi isso que aconteceu: quando rematei a bola passou muito perto das pernas do Juanito, primeiro, e do Helguera, depois, e o Casillas não a viu partir. Quando viu, já não podia chegar a tempo”, descreveu o marcador do golo ao Maisfutebol.
Depois Portugal resistiu durante a última meia hora e carimbou o passaporte para os quartos de final.



29 de junho de 2010 – Mundial 2010 (oitavos de final)
O Green Point Stadium, na Cidade do Cabo, na África do Sul, foi palco do primeiro dérbi ibérico num Campeonato do Mundo. Desta feita, houve espaço para as duas seleções num Mundial.
Após superar um grupo onde também constavam Brasil, Costa do Marfim e Coreia do Norte, a seleção portuguesa orientada por Carlos Queiroz encontrou pela frente a campeão europeia, comandada por Vicente del Bosque e com cinco jogadores da melhor equipa mundial da altura, o Barcelona de Pep Guardiola, no onze inicial (Puyol, Piqué, Busquets, Xavi e Iniesta).
Apesar do favoritismo de la roja, Portugal conseguiu equilibrar a partida, saindo derrotado devido a um golo obtido de forma irregular, uma vez que o seu autor, David Villa, se encontrava em posição de fora de jogo (63 minutos).
Ainda assim, as opções táticas de Queiroz deram que falar: Ricardo Costa, um central de raiz, foi escolhido para o lado direito da defesa, enquanto os laterais Miguel e Paulo Ferreira não saíram do banco; Pepe foi utilizado como médio defensivo e foi convocado para o Mundial apesar de não jogar desde dezembro do ano anterior; minutos antes do golo, o ponta de lança Hugo Almeida foi rendido por Danny; João Moutinho, que tinha sido sempre convocado para os jogos da fase de qualificação e que vinha de uma época positiva no Sporting, não foi chamado para o Mundial; e Nani, que tinha sofrido uma lesão no ombro, foi cortado da lista dos convocados apesar de vaticinar um período de recuperação de... uma semana.
Após o encontro, Cristiano Ronaldo recusou prestar declarações aos jornalistas, mas ainda assim proferiu uma declaração que fez correr muita tinta: “perguntem ao Carlos Queiroz porque Portugal foi eliminado.”
Por outro lado, Queiroz justificou a saída de Hugo Almeida por cansaço, mas o próprio avançado desmentiu essa ideia: “Não estava esgotado. É óbvio que fiquei chateado. Queria jogar mais.”
Também Deco, que tinha feito nesse dia o seu último jogo pela seleção, proferiu uma frase polémica. Questionado sobre se havia bom ambiente no balneário, o médio respondeu: "Entre os jogadores... sim."



27 de junho de 2012 – Euro 2012 (meias-finais)
Paulo Bento sucedeu a Carlos Queiroz como selecionador nacional após o Mundial 2010 e levou Portugal às meias-finais do Campeonato da Europa de 2012, após superar um grupo onde também estavam integradas as seleções de Alemanha, Dinamarca e Holanda e depois de eliminar a República Checa nos quartos de final.



15 de junho de 2018 – Mundial 2018 (1.ª jornada da fase de grupos)
Portugal 3-3 Espanha
No arranque do Mundial 2018 houve duelo ibérico, numa altura em que ambas as seleções viviam momentos algo conturbados: Rui Patrício, William Carvalho, Bruno Fernandes e Gelson Martins tinham acabado de rescindir unilateralmente com o Sporting como consequência da invasão à Academia do clube; e Fernando Hierro tinha sucedido a Julen Lopetegui no comando da seleção espanhola em vésperas do início do torneio após Lopetegui ter sido anunciado como novo treinador do Real Madrid.
E se houve algo que o jogo de Sochi (Rússia) também teve instabilidade. Mas uma instabilidade positiva, uma vez que Portugal esteve por duas vezes em vantagem mas acabou por evitar a derrota ao cair do pano.
Logo aos quatro minutos, Cristiano Ronaldo converteu uma grande penalidade a castigar falta sobre o próprio, dando vantagem à seleção orientada por Fernando Santos. Diego Costa empatou aos 24', mas CR7 recolocou a equipa das quinas em vantagem no final da primeira parte através de um remate de pé esquerdo, num lance em que o guarda-redes De Gea não ficou nada bem na fotografia.
No segundo tempo, Espanha deu a volta ainda no primeiro quarto de hora, graças a golos de Diego Costa (55') e Nacho Fernández (58'). Contudo, nos últimos minutos da partida Ronaldo dispôs de um livre direto em zona frontal e empatou o encontro de forma magistral.



2 de junho de 2022 – Liga das Nações (1.ª jornada da fase de grupos)
Espanha 1-1 Portugal
Na terceira edição da Liga das Nações, ficaram colocadas no mesmo grupo a primeira seleção a vencer o troféu (Portugal) e a finalista vencida da segunda edição (Espanha).
E o duelo ibérico marcou mesmo o arranque da prova, tendo como palco o Estádio Benito Villamarín, em Sevilha, a cerca de 140 quilómetros da fronteira com Portugal.
Álvaro Morata colocou la roja em vantagem, aos 25 minutos, mas Ricardo Horta, que voltava à equipa das quinas após quase oito anos de ausência, empatou aos 82'.
Antes do encontro, os adeptos espanhóis assobiaram o hino português.




 

 





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