Alexandre Pardal está desde 2018 no futebol francês |
Desde 2018 no Créteil-Lusitanos,
para onde foi levado pelo antigo internacional português Carlos Secretário em
2018, Alexandre Pardal vai fazendo carreira no clube mais luso de França.
Em entrevista, o lateral/extremo
fala da vida de emigrante, recorda o longo percurso na Sanjoanense,
o tempo em que foi treinado por Pepa nos seniores do clube
de São João da Madeira e as experiências no “muito familiar” Carregosense e
no desorganizado Cesarense.
RUI COELHO - O Alexandre Pardal é natural de São João da Madeira, mas desde
2018 que joga nos franceses do Créteil-Lusitanos. Como tem estado a correr esta
aventura, sobretudo esta época atípica?
ALEXANDRE PARDAL - No geral, a
aventura tem corrido bastante bem. Estou perfeitamente adaptado ao país e ao futebol
francês. Esta época tem sido um pouco mais complicada devido ao covid-19,
às trocas de treinador e aos resultados menos bons que não ajudam nestes
momentos.
Como o próprio nome indica, o Créteil-Lusitanos é um emblema com fortes
ligações à comunidade portuguesa em França.
Como é o clube e qual a sua relação com a comunidade portuguesa? Qual é o
sentimento de jogar por um clube francês que, de certa forma, representa
Portugal?
Honestamente, é como representar
um clube português, porque dentro do clube todos falam em português, seja o
presidente, diretor desportivo e funcionários.
Como têm corrido estes três anos em França
a nível pessoal? O que o levou a emigrar?
Globalmente, os três anos foram
bastante positivos. Recebi um convite do mister Carlos Secretário para vir para
cá e senti que, além da questão financeira que é importante, também seria uma
oportunidade de experimentar algo novo e conhecer outra realidade.
Tem alguma ocupação além do futebol?
Não, a minha única ocupação é o
futebol.
Como tem sido a adaptação a um clima, um idioma e uma cultura
diferentes e quais são as principais dificuldades na vida de um emigrante?
A adaptação foi bastante fácil. A
maior dificuldade é a barreira linguística, mas nisso o clube ajudou-me, pois
tenho aulas de francês. Penso que a principal dificuldade, além da língua, seja
mesmo o estilo de vida menos social que existe aqui, principalmente à noite. É
muito trabalho-casa-trabalho…
O ovo rebentado na cabeça de Carlos Secretário
Alexandre Pardal pode jogar como lateral ou extremo |
Como foi trabalhar com o treinador Carlos Secretário, um técnico
português que foi um jogador de eleição no seu tempo? Tem alguma história
engraçada com ele que nos possa contar?
Foi muito bom. Conheci o mister
Secretário no Cesarense, onde foi meu treinador. É um excelente treinador, mas
sobretudo é uma excelente pessoa. Lembro-me de uma [história] no Cesarense, no
seu dia de aniversário. Nós (jogadores) combinámos dar-lhe os parabéns, mas um
jogador lembrou-se de lhe rebentar um ovo na cabeça e ele ficou maluco com isso
[risos].
O que o futebol francês tem de diferente em relação ao português?
Tem algumas coisas, sendo a
principal delas a questão física, pois é um futebol mais físico e de
transições. Não se valoriza tanto a parte técnica, aqui os jogadores na sua grande
maioria são uns autênticos atletas.
Voltemos atrás no tempo. O Alexandre nasceu em São João da Madeira.
Como é que foi a sua infância e como é que a bola entrou para a sua vida?
Comecei a jogar futebol aos sete
anos na Sanjoanense.
Um antigo treinador da Sanjoanense
chamado Zequinha viu-me a jogar na rua e, como conhecia o meu pai, disse-lhe
para eu ir fazer uns treinos lá e foi assim que comecei.
Foi na Sanjoanense
que fez toda a sua formação. Quais são as melhores memórias que guarda desses
tempos?
Mais do que os títulos que
vencemos na formação, era a alegria com que jogávamos, seja em pelados seja em
sintéticos, o nosso principal divertimento era jogar futebol. E as amizades que
fiz claro.
De que forma a Sanjoanense
foi importante para a sua vida pessoal e para a sua formação enquanto atleta?
Foi muito importante, não só na
formação como atleta, mas como homem também. Tive diversos treinadores que nos
faziam ver que para jogar não bastava o mérito desportivo, tínhamos que também
ter rendimento escolar e não deixavam que descuidássemos essa parte.
Em 2011 cumpriu um sonho de menino ao jogar pela equipa principal da Sanjoanense.
Qual foi a sensação?
Foi excelente, apesar de ter sido
uma época pouco feliz a nível desportivo devido a uma lesão e pelo facto de
termos descido de divisão também.
O Carregosense “muito familiar”
Alexandre Pardal nos tempos da Sanjoanense |
Não teve o tempo de jogo esperado na sua primeira época enquanto sénior
e surgiu depois a hipótese de jogar no Carregosense. Como correu essa
experiência?
Foi a melhor coisa que me podia
ter acontecido. Sabes quando se diz que devemos dar um passo atrás para dar dois
em frente? Foi o que eu fiz. Estava sem clube, pensei mesmo em deixar de jogar,
mas recebi o convite do mister Luís Miguel e aceitei.
Foi uma época incrível, conheci
pessoas excecionais e um clube muito familiar, onde além do futebol tínhamos um
grupo muito unido, tínhamos jantares de equipa todas as semanas e foi tudo isso
que permitiu fazermos uma grande época.
“Pepa era inovador na maneira de trabalhar e de comunicar”
No verão de 2013 regressou à Sanjoanense,
para ser orientado por Pepa. O que achou dos seus métodos de trabalho e como
tem assistido à sua progressão na carreira?
Sim, voltei, pois era o clube do
meu coração. Na altura foi algo muito inovador, não só a maneira dele
trabalhar, mas também a forma como comunicava com os jogadores. A sua
progressão tem sido natural e não tenho dúvidas que vai chegar a patamares
ainda mais altos.
Nessa temporada de 2013-14 contribuiu para a conquista do título
distrital da AF Aveiro e para a consequente subida ao Campeonato
de Portugal. Foi um regresso em grande…
Sim, essa época foi incrível,
conseguimos atingir os objetivos propostos pelo clube, que era recolocar a Sanjoanense
onde merece estar, que é nos campeonatos nacionais.
“Podíamos ter disputado subida à II Liga se organização do Cesarense fosse outra”
Alexandre Pardal compete no terceiro escalão gaulês |
Em 2017-18 mudou-se para o Cesarense. O que achou do clube e como
correu a temporada que passou em Cesar?
Em relação ao clube como
organização, prefiro não falar. Posso dizer que nesse ano apanhei um excelente
grupo, tínhamos uma excelente equipa e podíamos ter disputado a subida à II
Liga se a organização fosse outra. No geral a temporada foi boa, mas
sentimos que podíamos ter conseguido mais, pois tínhamos uma excelente equipa,
excelente mesmo.
Tem acompanhado a Sanjoanense?
O que tem achado das últimas épocas do clube?
Claro, acompanho sempre. Tem
feito épocas boas, cumprindo sempre com os objetivos propostos, estabilizando-se
no Campeonato
de Portugal. Neste momento está na fase de apuramento para a Liga 3 e
esperemos que conseguia, seria importante para o clube.
Aos 28 anos, tem algum sonho no futebol que gostasse de cumprir ou
algum clube que gostasse de representar?
Sonho, sonho, penso que não. Mas
gostaria de experimentar outros países e conhecer outras realidades e gostaria
de um dia voltar a Portugal e ter a oportunidade de defrontar um dos três
grandes.
Propomos-lhe um desafio. Elabore um onze ideal de jogar com os quais
tenha jogado.
Guarda-redes: Pedro Justo;
Lateral direito: eu [risos];
Centrais: Edgar e Júnior Pius;
Lateral esquerdo: Ricardo Tavares;
Médios: Rúben Neves e Fábio
Pereira;
Extremo direito: Alex Oliveira;
Extremo esquerdo: Ângelo Oliveira;
Avançados: Mário e Ronan David.
E quem foram os treinadores que mais o marcaram e porquê?
Tive vários e por diferentes
motivos. O mister Luís Miguel, pois foi quem me deu uma oportunidade quando
estava sem clube e que me adaptou a defesa direito, adaptação essa que mudou a
minha carreira. Depois tenho o Pepa pelos métodos inovadores, métodos esses que
um dia quero usar se seguir a carreira de treinador. E ainda o mister Flávio
das Neves, que foi o que melhor explorou as minhas qualidades, e por último o
mister Carlos Secretário que me deu esta oportunidade de vir para França.
Entrevista realizada por Rui Coelho
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