quinta-feira, 23 de abril de 2020

A minha primeira memória de… um jogo da seleção angolana

Capitão angolano Akwá procura travar o português Luís Figo
A minha primeira memória de um jogo da seleção angolana era para ser de festa, estando até previsto fogo de artifício, mas não passou de uma batalha campal. A 14 de novembro de 2001, Angola defrontava Portugal no antigo Estádio José Alvalade, naquele que seria o último jogo de ambas as seleções nesse ano que tinha sido memorável tanto para uma como para outra.

No mês anterior, a equipa das quinas tinha carimbado o apuramento para o Campeonato do Mundo, torneio em que não marcava presença desde 1986 – além dessa participação, só tinha a de 1966 no palmarés. E um pouco antes, os Palancas Negras tinham conquistado a Taça COSAFA, um torneio anual para as seleções da África Austral.


Curiosamente, tanto Portugal como Angola dispunham de gerações de ouro. Luís Figo, Bola de Ouro nesse ano e melhor jogador do mundo para a FIFA em 2000, era o expoente máximo da seleção portuguesa, ainda que secundado por Fernando Couto, Paulo Sousa, Rui Costa e João Pinto. Do outro lado, havia a certeza Akwá e a promessa Mantorras, que meses antes tinha assinado pelo Benfica e já brilhava de águia ao peito, mas também vários jogadores a atuar na I Liga portuguesa, como Lito Vidigal, Wilson, Franklin, André Macanga ou Mendonça.


O jogo até começou bastante animado, com um golo de Angola logo aos 46 segundos, com Mendonça, que na altura representava o Varzim, a bater o guarda-redes Ricardo na sequência de um cruzamento de Mantorras no lado direito.

Porém, o jogo começou a ficar estragado à passagem do quarto de hora, quando o árbitro francês Pascal Garibian expulsou Yamba Asha após falta sobre Luís Figo e consequentes protestos. Refira-se, mais uma vez, que o jogo era amigável e até tinha um caráter festivo.

Pouco depois, o juiz gaulês assinalou um penálti a castigar alegada falta de Neto sobre Pauleta. Na conversão da grande penalidade, Figo fez o empate (24’). Wilson, na altura central do Belenenses, foi expulso devido a protestos.

No minuto seguindo ao golo da igualdade, Franklim, médio defensivo que atuava no Belenenses, viu o cartão vermelho direto por entrada dura sobre João Pinto, deixando a seleção angolana com apenas oito unidades.

Sem grande surpresa, Portugal aproveitou o facto de estar em superioridade numérica para se colocar em vantagem, chegando ao 2-1 por Nuno Gomes, a passe de Marito (36’); e ao 3-1 através de Jorge Andrade, na recarga a um cabeceamento de Nuno Gomes ao poste (39’).

Ao intervalo a RTP 1, que transmitia o jogo, anunciou que o fogo de artifício foi cancelado, e na segunda parte o descalabro prosseguiu. Após Luís Boa Morte ter marcado o quarto de Portugal a passe de Frechaut (49’) e de Nuno Gomes ter aumentado para 5-1 após assistência de João Tomás (63’), Neto foi expulso por duplo amarelo (65’) e uma lesão de Hélder Vicente obrigou o árbitro a dar por terminado o encontro, uma vez que Angola ficou reduzida a seis unidades (68’).


“Fogo sem artifício. Antes que Angola provasse que o tento inaugural tinha evidenciado uma de duas coisas (a inspiração dos seus avançados ou a falência da estratégia aplicada no bloco recuado português), Oliveira mandou Petit assumir-se claramente como central, permitindo a Beto prestar uma atenção mais devida ao perigoso Mendonça. Nessa altura ainda se jogava futebol...”, resumia o jornal O Jogo.

“14 de novembro de 2001. Uma tragédia humana abateu-se sobre o Estádio José Alvalade. Provavelmente, nunca mais o velho relvado do Sporting será palco de uma coisa assim. O novo estádio leonino está a crescer aqui ao lado e neste novo milénio o velho recinto está condenado, mais dia menos dia”, podia ler-se no início da crónica.





















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