quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

“Tratam-me por Bas Dost do Lavradio”. O goleador da I Distrital em entrevista

Bruninho completa 30 anos em agosto
Chama-se Bruno Martinho, é conhecido por Bruninho no mundo do futebol, mas a fisionomia, o estilo, os golos em catadupa e a camisola verde e branca do Fabril têm motivado comparações com o avançado holandês do Sporting

É líder isolado da lista de marcadores da I Distrital da AF Setúbal, com 17 golos em outras tantas jornadas, mas só participou em quinze. A média impressionante de golos não é de agora e a vontade de dar o salto para um patamar superior existe, mas a falta de convites que financeiramente o permitam deixaram o emprego de distribuidor de móveis leva-o a continuar a brilhar apenas nos distritais. 

Passou pelo futebol de Macau, foi campeão na época passada pelo Amora e está bem encaminhado para repetir a façanha ao serviço do emblema do Lavradio, pelo qual admite estrear-se no Campeonato de Portugal.   


Leva 17 golos em 15 jogos na I Distrital, prova da qual é o melhor marcador. Qual o segredo para tantos remates certeiros?
O segredo é trabalhar forte durante a semana, sem brincar. E depois ao fim de semana temos o fruto do trabalho.

Destes 17 golos, há algum que considere o melhor?
Foi o do último fim-de-semana [vitória por 4-1 na visita a O Grandolense], um pontapé de bicicleta. Nunca me tinha acontecido. Calhou e entrou, foi golo. Também tive outros golos quando era mais pequeno, mas este foi o que recentemente me marcou mais.

Com 17 golos ao cabo de 17 jornadas, tem alguma meta para cumprir até ao fim do campeonato?
A meta é ir jogo a jogo e fazer sempre a diferença e continuar a trabalhar para que apareçam mais golos. Por época, o mínimo que estipulo é 15 golos. Depois de chegar aos 15, tudo o que vier é sempre bom.

O Bruno é um ponta de lança de 1,90 m, mas não se esgota no jogo aéreo. Como se define enquanto avançado?
Sou alto e gosto sempre de jogar forte, agressivo. Não gosto de jogar para brincar. Jogo sempre para ganhar.


Tem algum goleador de renome para o qual procura olhar para se inspirar nas movimentações, no posicionamento ou na técnica de remate?
Sou fã de grandes jogadores, mas por acaso… tratam-me por Bas Dost do Lavradio. Neste jogo em Grândola, o árbitro [Pedro Ferreira, do Núcleo de Setúbal] até me chamou ‘Bas Dost, tem lá calminha!’. Até pensei: ‘Bas Dost!? Mas confianças é que são essas!?’. Mas também gosto muito de Hazard, Lewandowski e de outros grandes jogadores.

Esta comparação com o Bas Dost também tem a ver com a fisionomia…
Exatamente. Tem a ver com a forma de jogar, de estar no campo… Mas o Bas Dost é mais de ataque, e eu defendo e ataco.

É primo de um jogador que chegou longe no futebol, o Carlitos, que foi internacional sub-21 português e jogou no Estoril, Benfica, Vitória de Setúbal, Basileia, Hannover 96 e Sion. Ele dá-lhe alguns conselhos?
Ele é meu primo, falamos quando nos vemos, mas não conversamos muito sobre futebol. É raro ele estar cá, mas no ano passado ele foi ver alguns jogos do Amora e no final ficávamos a falar um bocadinho.

Bruno Martinho chegou ao Fabril no início da época após ter sido campeão pelo Amora

O Bruno, além de futebolista em horário pós-laboral e ao fim de semana, tem um emprego…
Gostava de viver só da bola, mas infelizmente não tive aquela estrelinha que alguns jogadores têm. Sou distribuidor de móveis.

Nas entrevistas levadas a cabo n’O Blog do David no início da época aos treinadores das equipas da I Distrital, muitos apontavam o Fabril como candidato ao título e questionavam como era possível o Bruninho não estar num patamar superior. Que justificação há para marcar golos época após época e ainda estar nos campeonatos distritais?
Nem todos temos a sorte de ter um empresário ou grandes conhecimentos. Nesse aspeto, faço tudo sozinho. Se calhar, se tivesse alguém… Basicamente, ninguém nos vê nos distritais. Só se formos campeões e mesmo assim… Eu gostava de ter uma oportunidade noutro clube maior, mas nem sempre temos hipótese. E também é verdade que ando na I Distrital porque me permite não largar o trabalho.

Mas o Bruno no ano passado jogava numa equipa que agora está no Campeonato de Portugal, o Amora, onde marcou muitos golos e foi campeão. Porque não ficou na Medideira?
Porque o dinheiro que eles me propuseram não compensava deixar o meu emprego. Tenho dois filhos, casa e carro para pagar. Não podia largar o trabalho para ganhar 600 ou 700 euros e treinar de manhã. Temos de olhar para os prós e para os contras.


Aos 29 anos, sente que passou ao lado de uma carreira profissional?
Acredito que ainda possa haver uma oportunidadezinha.

A subida do Fabril está bem encaminhada. Poderá ser o Fabril a dar-lhe a oportunidade de jogar no Campeonato de Portugal?
A julgar no que me dizem, que vai no sentido de os treinos continuarem às 19.30, se subirmos se calhar fico pelo Fabril. Mas se mudarem para de manhã, torna-se complicado. Não me compensa largar o trabalho por causa de 600 ou 700 euros. E depois quem é que me paga as despesas?

O campeonato não começou bem para o Fabril, com uma derrota caseira ante O Grandolense e um empate em Santiago da Cacém. Mas daí para cá, somaram 15 vitórias consecutivas e já são 14 pontos sobre o segundo classificado, o Sesimbra. Esperavam chegar a esta fase com tantos pontos de avanço?
Fisionomia motiva comparações com Dost
Quando assinei pelo Fabril, os diretores disseram-me que fizeram uma equipa para sermos campeões. Mas éramos muitos jogadores novos, não nos conhecíamos enquanto colegas no início do campeonato. Eu, o França e o PP, porque viemos do Amora, já conhecíamos o jogo uns dos outros, e depois adaptámo-nos ao futebol dos outros companheiros. Nas primeiras jornadas foi complicado, mas a partir da 3.ª jornada mas depois coordenámo-nos e os passos começaram a sair certos. Tornou-se mais fácil.

O Fabril é um clube com uma grande história e tem um grande estádio, que por um lado é grande e mítico, mas que dá sempre a ideia de estar demasiado vazio e afastado do relvado. Como é jogar no Fabril e no Estádio Alfredo da Silva?
É muito bom entrar naquele campo e pensar no aspeto que teria se estivesse cheio. Acho que qualquer jogador que entrasse naquele estádio cheio iria sentir mais o peso da camisola. Acho que podia encher mais um bocadinho. Agora que estamos em primeiro vou-me apercebendo que tem ido cada vez mais gente ao estádio. Já se vão vendo umas quantas pessoas, não 10 ou 15 como no início da época. Mas se enchesse, seria um estádio espetacular.

A época do Fabril ficou marcada pela surpreendente saída do treinador Jorge Prazeres no final de janeiro, devido a um conflito com um diretor durante o almoço antes da visita ao Beira-Mar Almada, a 27 de janeiro, quando a equipa liderava confortavelmente o campeonato. Como é que o Bruno e o restante plantel reagiram à mudança?
Até demos boa resposta nesse aspeto. Ninguém estava à espera, fomos para o jogo sem treinador e o adjunto é que fez a equipa. Depois o treinador apareceu no campo, despedimo-nos dele e não sabíamos o que fazer mais. São assuntos da direção.

Já lhe tinha acontecido algo do género?
Não, nunca me tinha acontecido. Foi a primeira vez.


O Bruno passou pelo futebol de Macau entre 2013 e 2015, para representar o Benfica de Macau e o Windsor Arch Ka I. Como é que surgiu a oportunidade e como foi a adaptação ao clima, gastronomia e cultura?
Surgiu num torneio de futebol 7 em Paio Pires. Estava um senhor de Macau a assistir, a observar jogadores, e falou comigo e outros dois colegas. Mas só eu é que acabei por ir, eles não quiseram. Lá o campeonato tem dez equipas: cinco boas e cinco muito más. Cinco equipas têm dinheiro, outras não. As condições até são boas, não falta nada, mas são clubes que acho que nem na II Distrital jogavam. O clima lá é muito quente e húmido, faça chuva ou faça sol. Não foi fácil respirar lá durante os primeiros dias. Em termos de gastronomia e cultura não tive grande choque. Só quando tivemos um torneio no interior da China é que não foi fácil com a comida, mas em Macau havia comida portuguesa.











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