segunda-feira, 5 de maio de 2025

Relato de orgia e agressões a prostitutas antes de jogo da seleção. Quem se lembra do “Caso Paula”?

"Caso Paula" rebentou em maio de 1997 n'Os Donos da Bola da SIC
Um caso extrafutebol que abanou o futebol português. A 2 de maio de 1997, a SIC emitiu uma reportagem no programa Os Donos da Bola, com base em depoimentos de intervenientes diretos e indiretos numa suposta orgia com vários jogadores da seleção nacional e prostitutas brasileiras no hotel Atlantic Garden durante um estágio antes do Portugal-República da Irlanda da fase de qualificação para o Euro 1996, em novembro de 1995.
 
Na reportagem, uma das prostitutas, Angélica Cristina Ribeiro, apresentada com o nome fictício de Paula, relatou que os futebolistas consumiram haxixe e se excederam, através de agressões físicas à própria e outras colegas.
 
A história já tinha sido contada (sem os nomes dos intervenientes) pelo jornal O Semanário logo a seguir à qualificação portuguesa para esse Campeonato da Europa, mas mais nenhum órgão de comunicação social havia seguido, no imediato, o trilho da notícia. Só cerca de um ano e meio depois é que a estação televisiva o fez.
 
O editor do programa, Jorge Schnitzer, agarrou-se ao caso com unhas e dentes e espremeu tudo ao pormenor, o que levou Paula a revelar que havia sido agredida pelos jogadores ao ponto de ter sido hospitalizada e sujeita a uma operação plástica. A brasileira apontou o dedo ao adjunto Joaquim Teixeira (suposto recrutador das prostitutas), ao selecionador nacional António Oliveira (alegado padrinho da operação) e aos jogadores Carlos Secretário, Fernando Couto e Vítor Baía.
 
A transmissão do programa resultou num recorde de audiências de 1,2 milhões de espetadores e fez estalar o verniz nos estúdios da SIC, entre o representante portista Pôncio Monteiro e o chefe do departamento de futebol do Benfica naquela altura, Gaspar Ramos. Jorge Schnitzer e o convidado especial naquela edição, Avelino Ferreira Torres, dividiram o estúdio com os outros dois protagonistas.
 
Na sequência da exibição da reportagem, o médico do FC Porto, José Carlos Esteves, deu conta do internamento hospitalar de António Oliveira, que por essa altura comandava os dragões, na sequência de um abalo sofrido pelo coração atribuído à reportagem: “Assistimos, pela primeira vez, na história do Homem, a uma tentativa de homicídio por meios audiovisuais, quase concretizada.”
 
O Presidente da República, Jorge Sampaio, ordenou uma investigação profunda para cabal esclarecimento dos factos. Já Secretário, vítima de humilhação pública com insinuações de natureza sexual por parte de Paula, avançou com uma queixa-crime e pediu uma indemnização de 50 mil contos (250 mil euros). Joaquim Teixeira disse estar ofendido na sua dignidade e bom-nome, alegou ter sido vítima de prejuízos de natureza material, psicológica, familiar e profissional e exigiu o pagamento de 60 mil contos (300 mil euros). Oliveira também interpôs um processo judicial, exigindo 100 mil contos (500 mil euros), num caso que só se resolveu em 2000, quando a SIC foi condenada a desembolsar uns simbólicos cinco mil contos (25 mil euros).
 
O caso abalou ainda a carreira de Secretário, que estava vinculado ao Real Madrid e foi deixado ao abandono no emblema da capital espanhola. “Quinze dias depois da reportagem, fui contactado por alguém do Real Madrid e queriam prescindir dos serviços do jogador. Como a notícia correu por toda a Espanha, a imagem dele ficou denegrida. Secretário deixou o Real Madrid única e exclusivamente por conta dessa reportagem. Sem dúvida alguma. Além de perder elevadas somas monetárias pelo resto do contrato por cumprir, veio ganhar duas vezes menos para o FC Porto”, disse o empresário Manuel Barbosa, corroborado pelo presidente portista Pinto da Costa: “A reportagem causou danos gravíssimos ao jogador, quer a nível pessoal quer a nível profissional. Não tenho dúvidas que, se não fosse isso, o Secretário teria cumprido contrato com o Real Madrid.”
 
Se António Oliveira não saiu chamuscado da situação, tendo guiado o FC Porto a dois títulos nacionais (1996-97 e 1997-98) e inclusivamente regressado ao leme da seleção nacional (entre 2000 e 2002), Joaquim Teixeira deixou de ser adjunto dos azuis e brancos em meados de 1998 e sentiu dificuldades em arranjar clube a um nível elevado. “Esse programa estragou toda a planificação futura de uma vida. Passou-se qualquer coisa, mas é mentira que os jogadores do FC Porto tenham sido os principais responsáveis. Foi o selecionador quem me disse para dispensa os seguranças do hotel, apenas cumpri ordens. E não compreendo porque é que o meu caso só agora é julgado quando o do Oliveira foi sentenciado em abril de 2000 e ambos foram metidos no mesmo dia”, afirmou em janeiro de… 2003.






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