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"Caso Paula" rebentou em maio de 1997 n'Os Donos da Bola da SIC |
Um caso extrafutebol que abanou o
futebol português. A 2 de maio de 1997, a
SIC emitiu uma reportagem no
programa
Os Donos da Bola, com base em depoimentos de intervenientes
diretos e indiretos numa suposta orgia com vários jogadores da
seleção
nacional e prostitutas brasileiras no hotel Atlantic Garden durante um
estágio antes do
Portugal-
República
da Irlanda da fase de qualificação para o
Euro 1996,
em novembro de 1995.
Na reportagem, uma das prostitutas,
Angélica Cristina Ribeiro, apresentada com o nome fictício de Paula, relatou que
os futebolistas consumiram haxixe e se excederam, através de agressões físicas à
própria e outras colegas.
A história já tinha sido contada
(sem os nomes dos intervenientes) pelo jornal
O Semanário logo a seguir
à qualificação
portuguesa
para
esse
Campeonato da Europa, mas mais nenhum órgão de comunicação social havia
seguido, no imediato, o trilho da notícia. Só cerca de um ano e meio depois é
que a estação televisiva o fez.
O editor do programa, Jorge
Schnitzer, agarrou-se ao caso com unhas e dentes e espremeu tudo ao pormenor, o
que levou Paula a revelar que havia sido agredida pelos jogadores ao ponto de
ter sido hospitalizada e sujeita a uma operação plástica. A brasileira apontou
o dedo ao adjunto Joaquim Teixeira (suposto recrutador das prostitutas), ao
selecionador nacional António Oliveira (alegado padrinho da operação) e aos
jogadores Carlos Secretário, Fernando Couto e
Vítor
Baía.
A transmissão do programa
resultou num recorde de audiências de 1,2 milhões de espetadores e fez estalar
o verniz nos estúdios da
SIC, entre o representante portista Pôncio
Monteiro e o chefe do departamento de futebol do
Benfica
naquela altura, Gaspar Ramos. Jorge Schnitzer e o convidado especial naquela
edição, Avelino Ferreira Torres, dividiram o estúdio com os outros dois protagonistas.
Na sequência da exibição da reportagem,
o médico do
FC
Porto, José Carlos Esteves, deu conta do internamento hospitalar de António
Oliveira, que por essa altura comandava os
dragões,
na sequência de um abalo sofrido pelo coração atribuído à reportagem: “Assistimos,
pela primeira vez, na história do Homem, a uma tentativa de homicídio por meios
audiovisuais, quase concretizada.”
O Presidente da República, Jorge
Sampaio, ordenou uma investigação profunda para cabal esclarecimento dos factos.
Já Secretário, vítima de humilhação pública com insinuações de natureza sexual
por parte de Paula, avançou com uma queixa-crime e pediu uma indemnização de 50
mil contos (250 mil euros). Joaquim Teixeira disse estar ofendido na sua
dignidade e bom-nome, alegou ter sido vítima de prejuízos de natureza material,
psicológica, familiar e profissional e exigiu o pagamento de 60 mil contos (300
mil euros). Oliveira também interpôs um processo judicial, exigindo 100 mil contos
(500 mil euros), num caso que só se resolveu em 2000, quando a
SIC foi
condenada a desembolsar uns simbólicos cinco mil contos (25 mil euros).
O caso abalou ainda a carreira de
Secretário, que estava vinculado ao
Real
Madrid e foi deixado ao abandono no
emblema
da capital espanhola. “Quinze dias depois da reportagem, fui contactado por
alguém do
Real
Madrid e queriam prescindir dos serviços do jogador. Como a notícia correu
por toda a Espanha, a imagem dele ficou denegrida. Secretário deixou o
Real
Madrid única e exclusivamente por conta dessa reportagem. Sem dúvida
alguma. Além de perder elevadas somas monetárias pelo resto do contrato por
cumprir, veio ganhar duas vezes menos para o
FC
Porto”, disse o empresário Manuel Barbosa, corroborado pelo presidente
portista
Pinto
da Costa: “A reportagem causou danos gravíssimos ao jogador, quer a nível
pessoal quer a nível profissional. Não tenho dúvidas que, se não fosse isso, o
Secretário teria cumprido contrato com o
Real
Madrid.”
Se António Oliveira não saiu
chamuscado da situação, tendo guiado o
FC
Porto a dois títulos nacionais (1996-97 e 1997-98) e inclusivamente regressado
ao leme da
seleção
nacional (entre 2000 e 2002), Joaquim Teixeira deixou de ser adjunto dos
azuis
e brancos em meados de 1998 e sentiu dificuldades em arranjar clube a um
nível elevado. “Esse programa estragou toda a planificação futura de uma vida.
Passou-se qualquer coisa, mas é mentira que os jogadores do
FC
Porto tenham sido os principais responsáveis. Foi o selecionador quem me
disse para dispensa os seguranças do hotel, apenas cumpri ordens. E não
compreendo porque é que o meu caso só agora é julgado quando o do Oliveira foi
sentenciado em abril de 2000 e ambos foram metidos no mesmo dia”, afirmou em
janeiro de… 2003.
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