sábado, 4 de julho de 2020

O regista Pjanic e a compatibilidade com Busquets no Barcelona

Pjanic ruma ao Barça num negócio que leva Arthur para Turim
É comum ver no futebol italiano o organizar de jogo de uma equipa a atuar imediatamente à frente da linha defensiva, como médio mais recuado. Na terminologia do calcio, a essa função dá-se o nome de regista e nas últimas duas décadas teve em Andrea Pirlo um mestre a desempenhá-lo.

Tanto no AC Milan como na Juventus ou até mesmo na seleção italiana, Pirlo era simultaneamente o médio mais recuado e o mais criativo da sua equipa, algo habitual em solo transalpino, mas que no restante planeta futebolístico pareceria um contrassenso. Já imaginaram o Barcelona de Guardiola com Xavi atrás de Busquets? Ou o Real Madrid de Zidane com Modric atrás de Casemiro? Pois é.


O facto de o regista ser o centrocampista mais recuado, porém, não faz dele o mais defensivo. No caso de Pirlo, era Gattuso e até mesmo Seedorf no AC Milan e Vidal e Pogba ou Marchisio na Juventus que faziam o chamado trabalho sujo, ou seja, que ficavam com maior responsabilidade nas tarefas de cobertura.

Se nos rossoneri nunca houve mais alguém a desempenhar as mesmas tarefas de Pirlo a um nível elevado, a Juve recrutou Miralem Pjanic à Roma no verão de 2016 e transformou o bósnio no seu novo regista, num processo iniciado por Massimiliano Allegri e ao qual Maurizio Sarri está a dar continuidade.

É Pjanic, que na capital italiana atuava uns metros mais adiantado, quem pensa o jogo da vecchia signora ainda no primeiro terço do campo, à frente dos defesas, e distribui passes bem calibrados a curta e longa distância, assumindo igualmente protagonismo na execução de bolas paradas – mais em cantos e livres laterais do que propriamente livres diretos, não por não se tratar de um especialista mas porque na formação de Turim o dono da bola é Cristiano Ronaldo.

Os perfis de Pirlo e Pjanic têm essas semelhanças, mas também muitas diferenças. A classe, a visão de jogo e a precisão de passe do antigo camisola 21 estão apenas ao nível dos predestinados, mas o bósnio, que não deixa de ter um nível bastante satisfatório nesses parâmetros, compensa essa décalage para o italiano com mais alguma rotatividade, agressividade defensiva e chegada ao último terço do campo.

Tal como Pirlo, Pjanic também tem quem lhe faça o trabalho sujo, nomeadamente Khedira e Matuidi, dois médios que jogam uns metros à frente, mas que passam os encontros em constantes vaivéns de área a área para acrescentar soluções ao ataque e assumir um papel importante nas tarefas de coberto durante o processo defensivo.


Como será no Barcelona?

Apesar da importância que tem na manobra ofensiva da Juventus, Miralem Pjanic vai mudar de ares na próxima época, uma vez que o Barcelona pagou 60 milhões de euros pela transferência, o que levanta desde logo algumas questões: será compatível com Sergio Busquets, que tem raio de ação bastante semelhante embora com outro tipo de características? Terá sido contratado com o intuito de jogar uns metros mais adiantado? Será Busquets a jogar mais à frente de forma? Estará Busquets em fim de ciclo no Barça?

É difícil de imaginar que Pjanic possa desempenhar em Camp Nou a mesma função que desempenhava da Juventus e que ao mesmo tempo Sergio Busquets a continue com as mesmas tarefas nos catalães. O bósnio esta habituado a construir e a organizar o jogo sozinho à frente da defesa, precisamente o mesmo espaço que o médio espanhol ocupa para assegurar o equilíbrio defensivo à formação blaugrana.

Também é difícil de imaginar que o Barça tenha despendido 60 milhões de euros num jogador de 30 anos com o intuito de o colocar numa posição – e acima de tudo, numa função – diferente do que aquela em que Pjanic se tem vindo a especializar nos últimos anos.

Também é difícil de imaginar que o Barça tenha despendido 60 milhões de euros a pensar apenas numa alternativa a Busquets, até porque Pjanic ocupa as mesmas zonas do terreno, mas tem um perfil completamente diferente e que obriga a uma reformulação do meio-campo.

E por último, é igualmente difícil de imaginar que tenha chegado o fim da linha de Busquets no Barcelona, até porque tem sido um jogador fundamental desde os tempos de Pep Guardiola e com uma sobriedade e cultura tática ímpares no mundo do futebol.

No entanto, também não parecia fazer muito sentido que Barcelona e Juventus trocassem Arthur e Pjanic quando ainda falta tanto por disputar esta temporada e quando os treinadores das duas equipas não têm a continuidade assegurada… mas aconteceu.















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