sábado, 6 de abril de 2019

De "génio" a "fenómeno". Históricos do Sporting rendidos a Bruno Fernandes

Bruno Fernandes decidiu o dérbi de quarta-feira com o Benfica
Os quase 10 milhões de euros que o Sporting pagou à Sampdoria pelo passe de Bruno Fernandes no verão de 2017 têm-se tornado, cada vez mais, uma pechincha. Em quase dois anos de leão ao peito, o jogador disputou 101 jogos e marcou 42 golos, uma média invejável até para muitos avançados, à qual se juntam as inúmeras assistências.


Apesar de estar em Alvalade há pouco tempo, conquistou e reconquistou os adeptos - depois de ter chegado a rescindir unilateralmente na sequência da invasão à Academia -, ganhou o estatuto de capitão, venceu duas Taças da Liga, tornou-se internacional AA, participou no Mundial 2018 e foi considerado o melhor jogador da I Liga na época passada, uma distinção que está bem encaminhado para repetir.

Em Portugal e na Europa, dos adversários mais modestos aos concorrentes diretos, Bruno Fernandes tem deixado a sua marca. Na quarta-feira, não se limitou a decidir o dérbi com o Benfica. Marcou pelo sexto jogo consecutivo na Taça de Portugal e fez o que desde 1979/1980 um jogador do Sporting não fazia: marcar ao Benfica, na mesma época, em três jogos consecutivos, igualando Rui Jordão, que até estava na bancada a ver o jogo.

E se igualou Jordão, superou Osvaldo Silva, Balakov e António Oliveira como o médio com mais golos pelo Sporting numa só época. O brasileiro e o búlgaro apontaram 21 em 1962-1963 e 1993-1994, respetivamente, enquanto Oliveira tinha chegado aos 22 em 1981-1982, temporada do antepenúltimo título nacional conquistado pelos leões. Bruno Fernandes já leva 26 esta temporada e ainda há oito encontros por disputar, o que o deixa bem a tempo de bater o recorde de médio com mais golos marcados numa só época ao mais alto nível, pertencente ao antigo internacional inglês Frank Lampard, autor de 27 remates certeiros em 51 jogos ao serviço do Chelsea em 2009-2010.

Perante estes números e exibições de encher o olho, o DN desafiou cinco históricos do Sporting a falarem de Bruno Fernandes e a descreverem-no em apenas uma palavra.

Ricardo: "Tem de se orgulhar do que está a fazer"

Ricardo
Guarda-redes do Sporting entre 2003 e 2007, Ricardo já não tem muitas palavras para descrever o médio internacional português. "Está a demonstrar aquilo que é e a qualidade que tem, juntamente com os seus colegas. Tem de se orgulhar do que está a fazer", frisou o ex-guardião, de 43 anos, que ao serviço do emblema de Alvalade ganhou uma Taça de Portugal e foi finalista vencido da Taça UEFA.

Apesar da preponderância de Bruno Fernandes na equipa de Marcel Keizer, o antigo dono da baliza leonina não acredita que o Sporting seja Bruno Fernandes e mais dez. "Acredito sim que as individualidades dão o seu melhor em prol de um coletivo, e ele é um dos grandes ativos e aglutinadores, com uma qualidade acima da média, mas faz parte de uma equipa", frisou o antigo futebolista, que participou em 158 jogos de leão ao peito e vestiu a camisola da seleção nacional por 79 vezes.

Ricardo, à semelhança do médio leonino, tem a particularidade de ter vestido a camisola do Boavista antes de rumar aos verde e brancos, ainda que Bruno Fernandes tenha apenas jogado nas camadas jovens axadrezadas e ter passado pelo futebol italiano pelo meio.

A palavra que melhor define Bruno Fernandes: "Qualidade."


Cadete: "Irá ficar seguramente pouco tempo em Portugal"

Jorge Cadete
Melhor marcador da I Divisão pelo Sporting em 1992-1993, Jorge Cadete destaca a veia goleadora de Bruno Fernandes. "É seguramente um dos melhores médios a atuar no futebol português e um dos melhores médios portugueses. Não é habitual um jogador que joga no meio-campo fazer tantos golos: nesta época já são 26. Por isso é um jogador excecional, com muito talento e ainda jovem, e irá ficar seguramente pouco tempo em Portugal", afirmou o antigo avançado, 50 anos, autor de 81 golos em 203 jogos pelo Sporting entre 1987 e 1995 - com empréstimos ao Vitória de Setúbal e aos italianos do Brescia pelo meio.

Porém, o futebolista que brilhou com a camisola dos escoceses do Celtic não esquece o contributo dos companheiros para os desempenhos do médio desde que representa o Sporting. "Quando se fala em Bruno Fernandes e mais dez, não podemos esquecer que uma equipa de futebol é um plantel inteiro, de 25 ou 27 jogadores. Para ele ter tantos golos, é porque tem a contribuição, o apoio e a sintonia dos colegas no trabalho durante a semana. Sem isso, nenhum jogador teria sucesso a nível individual. Só nos desportos individuais é que os atletas contam só com eles próprios em termos de competição", sublinhou o antigo internacional português por 33 ocasiões.

A palavra que melhor define Bruno Fernandes: "Golo."


Fernando Mendes: "Olhando para aquela equipa é ele e mais dez"

Fernando Mendes
O antigo lateral esquerdo Fernando Mendes diz que já "não há palavras para falar de Bruno Fernandes". "Foi o melhor jogador do campeonato no ano passado e de certeza que vai ser o melhor também nesta época. É um génio. É inacreditável o que ele está a fazer ao serviço do Sporting. É um jogador que vale muitos, muitos, muitos milhões de euros", considera o ex-futebolista, de 52 anos.

"Há aí uns que fazem meia dúzia de jogos e valem 200 ou 300 milhões, então este vale 800 milhões de euros. Há uns que fazem meia dúzia de jogos e são comparados com toda a gente... com Cristiano Ronaldo, Lionel Messi... e o Bruno Fernandes, humildemente, num clube que felizmente se está a reerguer, ele faz o que faz. É fantástico!", acrescentou o antigo defesa, que representou o Sporting em 115 ocasiões e apontou um golo entre 1985 e 1989.

O agora comentador televisivo salientou a preponderância que o jovem médio tem no Sporting e até deixou um apelo ao selecionador nacional: "O Sporting tem tido momentos em que não joga bem e ele aparece, o que é importante. Sozinho não joga, sozinho não consegue ganhar os jogos. Mas olhando para aquela equipa, é ele e mais dez. Faço um apelo ao engenheiro Fernando Santos para, quando houver novamente jogos da seleção, conciliar Bruno Fernandes, Bernardo Silva e Cristiano Ronaldo."

A palavra que melhor define Bruno Fernandes: "Genial."


Carlos Xavier: "Se uns jogam pouco e valem 120 milhões, ele vale 500 milhões"

Carlos Xavier
"É um craque, é um craque! É o maior! Acho que ele neste momento é sem dúvida o melhor jogador da liga portuguesa, de longe", atira Carlos Xavier, de 57 anos, radiante com o desempenho de Bruno Fernandes. O histórico lateral/médio do Sporting, que participou em 334 jogos e 24 golos com a camisola verde e branca, destaca o empenho que o centrocampista de 24 anos exibe em todos os jogos: "O que me admira é que ele joga com a mesma intensidade em todos os jogos, independentemente do adversário. Depois tem uma coisa em que é diferente de todos os outros: faz a diferença. No jogo com o Benfica ficou bem explícita a qualidade do jogador."

Carlos Xavier, que jogou de leão ao peito entre 1980 e 1996, diz que estamos perante "a estrela da equipa e do campeonato" e esfrega as mãos ao dinheiro que o seu antigo clube poderá receber numa futura transferência, aproveitando para deixar uma bicada ao rival Benfica. "Se for vendido, oxalá que seja, vai ser muito bem vendido. Se por uns que jogam pouco pedem 120 milhões de euros, então o Bruno Fernandes vale 500 milhões. Não há comparação neste momento, é um jogador que vale o dinheiro da cláusula de rescisão [cem milhões]. Vamos ver se ele continua nesta linha até ao final do campeonato, o que seria muito importante para ele e para o Sporting", rematou.

A palavra que melhor define Bruno Fernandes: "Fenómeno."


Carlos Pereira: "É normal que seja um fruto apetecido por vários clubes"

Carlos Pereira
O antigo defesa esquerdo, treinador de camadas jovens e adjunto de Paulo Bento na equipa principal do Sporting, Carlos Pereira, considera que a forma atual de Bruno Fernandes "é o corolário do seu trabalho como profissional aplicado, que deixa tudo em campo, aliado à sua capacidade técnica individual acima da média".

Para o futebolista que atuou 86 vezes de leão ao peito entre 1972 e 1975, o médio internacional português é "um concretizador nato". "É um jogador muito confiante, que marca muitos golos, e é normal que seja um fruto apetecido por parte dos grandes clubes europeus", vincou. "Não joga sozinho, sozinho não ganha jogos, mas que tem grande preponderância nas manobras ofensivas da equipa é um facto. É muito influente e consegue levar a equipa consigo, disso não há qualquer dúvida", concluiu o irmão de Aurélio Pereira, 70 anos.

A palavra que melhor define Bruno Fernandes: "Génio."



Golos de Bruno Fernandes de pé esquerdo são uma raridade? Desengane-se

Estádio José Alvalade, minuto 75 do Sporting-Benfica desta quarta-feira: Bruno Fernandes recebe a bola na direita, simula que vai cruzar com o seu melhor pé (direito) e tira Grimaldo no caminho, disparando depois com o esquerdo para o fundo da baliza de Svilar.

Daquela posição, o médio leonino opta a maior parte das vezes por utilizar o seu melhor pé, mas desta feita surpreendeu tudo e todos para marcar o golo que valeu o bilhete para o Jamor. Mas será que é assim tão raro ver o internacional português marcar com o pior pé (ou o menos bom...)? Nem por isso.


Em 26 golos nesta temporada em todas as competições, Bruno Fernandes apontou seis com o pé esquerdo. É verdade que já não o fazia desde 19 de janeiro, mas não deixa de ser um número respeitável, até porque há muitos médios que não têm sequer meia dúzia de golos marcados, seja com que parte do corpo for.

Curiosamente, o pé esquerdo do médio do Sporting começou a carburar após a chegada de Marcel Keizer para o comando técnico, tendo faturado por essa via nos três primeiros jogos do holandês: em Viseu frente ao Lusitano Vildemoinhos para a Taça de Portugal, no Azerbaijão diante do Qarabag e em Vila do Conde ao Rio Ave. Depois, também o Nacional e o Moreirense, ambos em Alvalade, sentiram na pele o efeito da canhota de Bruno Fernandes.

Para completar, resta dizer que Bruno Fernandes apontou já nesta época um golo de cabeça (ao Feirense, na I Liga) e 24 com o pé direito, sendo que quatro foram de grande penalidade e três de livre direto.














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