domingo, 30 de agosto de 2015

Tornou-se frustrante o empate que antes seria bom

André Horta, no meu entender, o melhor em campo
Quando, aos 70 minutos, Yazalde colocou o Rio Ave em vantagem, os adeptos do Vitória, ao olhar para o relógio, lá iam dizendo para o companheiro do lado que se chegassem ao empate já seria bom.

Afinal, antes de marcar, os vila-condenses tinham disposto de duas boas oportunidades e estavam melhor no jogo. E estavam a mostrar, também, possuírem uma equipa de um nível ligeiramente superior, com jogadores experientes, juntos há vários anos e, especialmente, de qualidade acima da média. Basta dizer que a maioria seria titular na turma de Quim Machado.


No entanto, o empate que aos 70 minutos era visto como bom, aos 86 nem passava pela cabeça dos adeptos sadinos, quando festejaram o golo de Suk, que dava a reviravolta. Aos 80’, André Claro tinha empatado de grande penalidade.

Na cabeça dos setubalenses, já se faziam as contas: Sete pontos em três jornadas; a Académica e o Moreirense, ainda a zero, defrontam Sporting e Benfica, respetivamente; com um bocado de sorte, a liderança no final da ronda.

Cedo demais. Os rioavistas ainda alcançaram a igualdade, por André Vilas Boas, na sequência de um livre lateral (90’), para frustração para os do Bonfim.


Rio Ave melhor, Vitória mais perigoso

Depois de ter jogado diante de Boavista e Académica, que lutam pela permanência na Liga, o Vitória teve no candidato europeu Rio Ave o duelo mais exigente das três primeiras jornadas.

O que a teoria perspetivava, a prática confirmou. Os vitorianos sentiram dificuldades em impor o seu futebol de transições ou até mesmo quando tentaram um jogo mais apoiado. Suk não conseguiu ganhar tantas bolas divididas como nos encontros anteriores e nem sempre esteve bem apoiado por André Claro, que também esteve mais apagado. E do outro lado encontraram uma equipa madura, organizada, ambiciosa no seu modelo de jogo e com jogadores com qualidade e capacidade física para interpretarem esse modelo, a fazerem circular o esférico de pé para pé e a conseguirem coloca-lo nas costas da defesa adversária.

O Rio Ave deu a entender estar sempre (até aos 80 minutos) por cima do encontro, conseguindo jogar no meio-campo adversário mas sem criar perigo. Raeder terá feito, no máximo, uma defesa complicada. Já o Vitória, que aparentava não estar tão tranquilo, era quem dispunha das principais ocasiões.

Fig. 1 - Nove contra cinco na área sadina
Parece estranho que quem dominasse e que quem criasse mais perigo não fosse a mesma equipa. Mas
tal encontra alguma justificação ao analisar a postura defensiva do Vitória, sempre com as linhas (4x4x2 ou 4x3x1x2 caso André Horta saísse a pressionar) muito juntas, garantindo assim superioridade numérica e redução do espaço ao adversário. A fig. 1 (aos 8 minutos) ilustra bem a forma harmónica, solidária e compacta como os homens do Sado defendiam a sua baliza.

Obviamente que, com jogadores já amarelados, cansaço e várias desconcentrações, os rioavistas foram criando perigo no segundo tempo, culminando as ameaças com o golo de Yazalde. Ainda assim, há que salientar como é importante para Quim Machado a defesa da sua baliza. Dou dois bons exemplos: na primeira parte, num lance de bola corrida, Suk foi visto perto da sua área a fazer um desarme; nos cantos, todos os jogadores da equipa estão na área e, à moda antiga, vê-se Nuno Pinto a proteger o primeiro poste [ver vídeo abaixo].



Ficha de jogo


I Liga – 3.ª jornada

Estádio do Bonfim, em Setúbal


Vitória (4x1x3x2): Raeder; William Alves (Miguel Lourenço, 75), Frederico Venâncio, Rúben Semedo e Nuno Pinto; Paulo Tavares c (Arnold, 73); Costinha, André Horta e Ruca (Dani, 61); Suk e André Claro

Suplentes não utilizados: Miguel Lázaro (GR), François, Vasco Costa e Uli Dávila

Treinador: Quim Machado

Disciplina: Cartão amarelo a William Alves (8), Paulo Tavares (38), Nuno Pinto (42) e Frederico Venâncio (72)


Rio Ave (4x2x3x1): Cássio; Lionn, Aníbal Capela, André Vilas Boas c e Marvin Zeegelaar; Wakaso e Filipe Augusto; Ukra (Kayembe, 59), Bressan (João Novais, 82) e Héldon; Guedes (Yazalde, 64)

Suplentes não utilizados: Rui Vieira (GR), Pedrinho, Edimar e Roderick

Treinador: Pedro Martins

Disciplina: Cartão amarelo a Wakaso (19), Marvin Zeegelaar (74), Kayembe (77) e Cássio (79)


Árbitro: Jorge Sousa (AF Porto), assistido por Bertino Miranda e Álvaro Mesquita e com Hélder Lamas como 4.º árbitro


Golos


0-1, por Yazalde (70). Héldon passou como quis por William Alves no corredor esquerdo e cruzou para o segundo poste, onde Yazalde apareceu a finalizar no espaço entre Rúben Semedo e Nuno Pinto.

1-1, por André Claro (80, g.p.). André Horta foi progredindo pelo corredor esquerdo, onde foi encontrando espaço, e desmarcou Costinha nas costas da defesa vila-condense. Costinha acabou por derrubado por Cássio à entrada da área e foi assinalada uma grande penalidade. André Claro bateu o livre para o meio da baliza, mas Cássio atirou-se para o seu lado direito.

2-1, por Suk (86). Canto na esquerda marcado por Costinha, de pé direito. A bola vai para o coração da área onde Suk, de cabeça, a desvia para o segundo poste, onde aparece Frederico Venâncio a cabecear a trave. Contudo, na recarga, o coreano cabeceou para o fundo das redes.

2-2, por André Vilas Boas (90). Livre na direita marcado por Filipe Augusto, de pé esquerdo, e bola para o interior da área onde André Vilas Bolas se antecipou a Rúben Semedo e cabeceou para o empate.


Estatísticas (Vitória-Rio Ave)


Posse de bola (%): 47-53

Ataques: 32-34

Remates: 14-12

Cantos: 3-3

Faltas cometidas: 20-14

Foras de jogo: 3-0


Apreciação individual


Raeder: Para o alemão, já é automático: sempre que tem a bola nos pés olha para a frente e procura Suk, tentando colocar lá o esférico. É difícil avaliar o seu desempenho, pois está ilibado nos golos e foi poucas vezes posto à prova.

William Alves: É um pouco duro de rins para jogar a lateral e se bater com extremos velozes. Foi o caso do lance do primeiro golo do Rio Ave, onde Héldon passou por si como quis (70’). Contudo, há um aspeto a ter em conta: não recorreu à falta porque estava condicionado por um cartão amarelo que viu bem cedo (8’). Apareceu bem na área do Rio Ave ao cabecear com perigo em duas ocasiões (27’ e 48’).

Venâncio parte do coração da área para atacar 2.º poste
Frederico Venâncio: Jogo de grande sacrifício, uma vez que teve de jogar grande parte do encontro com a cabeça ligada. Esteve sempre mais concentrado que o seu companheiro de setor e ainda foi presença assídua na área rioavista em cantos e livres laterais, atacando na maioria das vezes o segundo poste.

Rúben Semedo: Não ficou muito bem na fotografia no lance do 0-1, pois Yazalde andou sempre perto de si no decorrer da jogada (70’). Voltou a estar mal no 2-2, ao deixar-se antecipar por André Vilas Boas (90’). Já antes tinha sentido dificuldades para travar Guedes, ora em velocidade, ora pelo ar.

Nuno Pinto: Apontou um conjunto de cruzamentos perigosos e conseguiu secar Ukra. Acusou algum desgaste na parte final do encontro.

Paulo Tavares: Homem de passes precisos, mas também agressivo no aspeto defensivo. Creio que é um luxo para o Vitória ter um médio-defensivo das suas características, embora os adeptos, bem exigentes, lhe peçam para soltar a bola mais rapidamente. Tal como em Coimbra, foi amarelado ainda na primeira parte e, para não correr o risco de ser expulso, subiu alguns metros depois da entrada de um trinco – desta vez Dani. Acabou por sair aos 73’, com o 0-1 no placard, quando a equipa precisava de mais dinâmica ofensivamente.

Costinha: Vai-se sentido cada vez mais confiante. Dá para ver, pelos lances individuais e pelas combinações em que entra. Embora tivesse atuado na ala direita, apareceu muitas vezes no meio, a tentar criar superioridade numérica nessa parte no terreno e a fugir de Marvin Zeegelaar, bem mais poderoso e rápido, com quem travou por diversas vezes uma luta desigual. Numa dessas aparições por zonas alheias, ganhou a grande penalidade (80’).

André Horta: Não foi quem sofreu nem quem converteu o penalty, mas teve muito mérito no lance do 1-1. Mesmo em esforço, progrediu sozinho pela esquerda e desmarcou Costinha na área rioavista (80’). Foi crescendo no jogo à medida que este se desenrolava, levando a equipa para a frente especialmente no segundo tempo, utilizando a sua técnica, raça e visão de jogo. Foi o médio que mais pressionou – algo estrategicamente definido - e ainda assim teve pulmão para os 90 minutos. No meu entender, o melhor jogador do Vitória em campo. Estranho não ter sido convocado para os sub-21…

Ruca: Executou dois excelentes cruzamentos que, Suk (16’) e William Alves (26’), respetivamente, desperdiçaram. Fechou muito bem o corredor esquerdo, funcionando praticamente como segundo lateral. Faltou-lhe, contudo, a acutilância que Costinha foi tendo faseadamente no lado direito e, por isso, somou, ao terceiro jogo, a terceira substituição.

Suk está a fazer um grande início da época
Suk: O homem da semana no Bonfim desta feita esteve mais apagado. Marcou, de cabeça, o terceiro golo na Liga (86’), mas mostrou várias queixas a nível físico durante o jogo, nomeadamente nas costas, que talvez lhe tenham atrapalhado o desempenho. Tendo em conta que é a grande referência sadina na luta – saliente-se a palavra luta - pelas primeiras bolas pelo ar, não é de estranhar.

André Claro: Perde muitas vezes a bola e nem sempre decide bem, mas os adeptos perdoam-no, porque sabem que dos mesmos pés surgem várias ocasiões de golo. Revelou frieza na marcação da grande penalidade, ao chutar para o centro da baliza (80’).

Dani: À terceira jornada, participou no terceiro jogo na condição de suplente utilizado. Acrescentou alguma experiência e, com a sua entrada, o médio mais defensivo (que antes era Paulo Tavares) deixou de estar amarelado.

Arnold: Algumas acelerações no corredor direito foi o que deu para ver do extremo congolês durante um quarto de hora.

Miguel Lourenço: Rendeu o já amarelado William Alves no lado direito da defesa. Apenas preveniu males maiores, pois pouco podia acrescentar porque foi um central adaptado a lateral a substituir um central adaptado a lateral.


Outras notas


Fábio Pacheco, médio-defensivo que jogou os dois primeiros encontros na Liga adaptado a central, falhou o encontro devido a expulsão por acumulação de amarelos na partida com a Académica.

O médio saudita Abdulaziz Al-Mansour fez treino condicionado durante a semana.

Já era esperado que Ricardo não integrasse os 18 da ficha de jogo. Mas continua sem figurar nesse lote Diego, Gorupec, Elhouni e El-Gadi, só para citar alguns. E o que se passou com Zequinha, quem nem no banco esteve?

3.079 espetadores no Bonfim. Um retrocesso em relação ao jogo com o Boavista (3.300) e bastante aquém dos 5 mil que Quim Machado pedia.


‘Opta Vitória’


O Rio Ave apenas conseguiu uma vitória nas últimas onze deslocações ao Bonfim para a Liga. Foi a 25 de novembro de 2012, tendo vencido por 5-3. Nos restantes novo embates: sete triunfos sadinos e três empates.

Quim Machado ainda não venceu no Bonfim
Ruca foi titular nas três jornadas já disputadas, mas em todas foi substituído. Quanto a Dani, começou sempre os jogos no banco, mas acabou-os todos no relvado.

Miguel Lourenço foi o 17.º jogador utilizado por Quim Machado nesta edição do campeonato.

Raeder, Frederico Venâncio, Nuno Pinto e Suk são os únicos totalistas do Vitória na Liga: 270 minutos.

A última ocasião em que o Vitória somava cinco ou mais pontos à 3.ª jornada foi em 2004/05. Nessa altura, já tinha sete, com José Couceiro no comando técnico.

Suk e André Claro têm três golos quando estão apenas decorridas três jornadas. O último jogador a poder gabar-se de tal façanha pelos sadinos foi Hugo Henrique, em 2001/02.

Última época em que o Vitória tenha marcado oito (ou mais) golos nas três primeiras rondas? 1983/84. Valeram, na altura, os tentos de Jorge Plácido (3), Carlos Freire (2), Formosinho, Jorge Roçadas e Luís Sobrinho.








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