terça-feira, 22 de agosto de 2023

A minha primeira memória de… um jogo entre Panathinaikos e equipas portuguesas

Ricardo Carvalho tenta desarmar Konstantinou
 
Quando Panathinaikos e FC Porto se defrontaram na segunda fase de grupos da Champions em 2001-02, a formação de Atenas tinha no seu plantel alguns dos futuros vencedores do Euro 2004, nomeadamente o guarda-redes Nikopolidis, o central Goumas, o lateral direito que viria a jogar de dragão ao peito Seitaridis, o lateral esquerdo e futuro benfiquista Fyssas, o médio defensivo Basinas e o médio ofensivo e futuro benfiquista Karagounis. Mas haviam mais jogadores internacionais, como o central dinamarquês Henriksen, o lateral esquerdo croata Jarni, o médio português Paulo Sousa, o médio dinamarquês Michaelsen, o médio finlandês Kolkka, o médio croata Šarić, o avançado cipriota Konstantinou, o avançado polaco (mas nigeriano de gema) Olisadebe e o avançado croata Vlaović.



 
Recordo-me perfeitamente de as duas equipas terem empatado a zero no Apostolos Nikolaidis em novembro de 2001, num encontro em que Paulo Sousa jogou e numa altura em que Octávio Machado era o treinador dos dragões.

“Não se tem dúvidas de que este resultado, obtido num terreno onde outras equipas, na primeira fase, baquearam, pode entender-se como positivo se, obviamente, restringirmos essa análise ao empate e consequente ponto ganho e aos milhares de escudos que vão entrar nos cofres das Antas. Será, talvez, um ponto para o futuro, para as tais contas meticulosamente feitas, sempre com uma ponta de futurologia à mistura. Mas só nesta particularidade é que poderá haver motivo para um esfregar de mãos, porque em termos de futebol jogado Octávio Machado mostrou, pela estratégia que a sua equipa desenvolveu, não querer arriscar um milímetro que fosse na procura ou na criação de lances que pudessem colocar em perigo o guarda-redes Nikopolidis. Bem tinha razão quem na conferência de imprensa de terça-feira realçou os extremos cuidados que o adversário lhe impunha. Disse e fê-lo”, escreveu o Record.
 
 
 
Quase quatro meses depois, a 12 de março de 2002, as duas equipas defrontaram-se nas Antas, numa altura em que José Mourinho já era treinador do FC Porto e Paulo Sousa já se tinha mudado para o Espanyol. Confesso que não me recordava deste jogo, talvez até porque os dragões praticamente já estavam impedidos de seguir em frente num grupo que também era integrado por Real Madrid e Sparta Praga.
 
O FC Porto, que venceu por 2-1, começou a construir a vitória aos 11 minutos, através de um lance ofensivo ao primeiro toque, com cruzamento largo de Clayton a partir da esquerda, passe atrasado de Capucho e remate de Deco no coração da área. Já no segundo tempo, Capucho apareceu desmarcado sobre a direita nas costas da defesa e serviu Pena que, à boca da baliza, só teve de encostar (54’). Ainda assim, os gregos ainda reduziram por intermédio de Kolkka, através de um bom remate ainda de fora da área (65’).
 
“O FC Porto conseguiu a sua primeira vitória na segunda fase da Liga dos Campeões, mas o resultado (2-1) não engana: foi preciso sofrer muito, sobretudo nos últimos 25 minutos e particularmente no último quarto de hora, após a expulsão de Secretário, quando o Panathinaikos cresceu. Uma razoável primeira parte do FC Porto deu-lhe uma vantagem de um golo ao intervalo e logo a seguir o 2-0 que parecia encaminhar a equipa para uma noite tranquila. Alternando momentos em que as coisas saíram bem com outras em que mostrou falta de um homem a meio-campo que dirigisse o jogo com cabeça, a equipa de Mourinho foi capaz de ser melhor, de ter mais bola, mas não de ter muitas oportunidades de golo ao longo do jogo. Essa foi uma das virtudes – aproveitar as oportunidades. A outra grande virtude foi ter capacidade de sofrimento. A terapia de choque de Mourinho resultou. Falta saber se terá, também, efeitos duradouros”, explicou o Record.
 

 

Novo duplo confronto na época seguinte

Quis o destino que os dois clubes se voltassem a encontrar na época seguinte, nos quartos de final da Taça UEFA. Os dragões estavam a fazer uma grande campanha tanto a nível interno como na Europa e mostravam-se capazes de derrotar qualquer equipa. Recordo-me perfeitamente de acompanhar o encontro da primeira-mão, nas Antas, através da rádio.
 
Porém, os aparentemente invencíveis portistas acabaram por perder em casa por 0-1, com o único golo a ser apontado pelo exótico polaco Olisadebe, de cabeça após cruzamento de Kolkka a partir da esquerda, já nos derradeiros 20 minutos.
 
“O FC Porto ficou longe das meias-finais da Taça UEFA ao perder nas Antas (0-1) com o Panathinaikos. Foi a primeira vez que a equipa não marcou num jogo a sério em toda a época e na primeira parte podia bem tê-lo feito. O segundo tempo foi pior e já se sabe que os gregos, e particularmente o Panathinaikos, são uma espécie de besta negra das Antas. Mais uma vez tiveram a sorte pelo seu lado, mas não foi só isso. Nunca é”, sintetizou o Record.
 
 
 
Ainda assim, Mourinho deixou um aviso ao treinador do Panathinaikos, o uruguaio Sergio Markarían: “Não faças a festa porque ainda não acabou.” Lembro-me que, na altura, não estava habituado a ver equipas conseguirem melhores resultados europeus fora do que em casa, mas se havia equipa capaz de o fazer, mesmo no sempre frenético ambiente dos estádios gregos, era aquele FC Porto de José Mourinho.
 
À passagem do quarto de hora, Derlei colocou os azuis e brancos em vantagem no Apostolos Nikolaidis através de um remate forte e colocado à meia-volta na sequência de uma jogada de contra-ataque. E já no final da primeira parte do prolongamento, o mesmo Derlei conduziu mais um contra-ataque portista e bateu Nikopolidis (103’), marcando o golo que colocou o FC Porto nas meias-finais.
 
“FC Porto conseguiu a grande proeza de eliminar o Panathinaikos em Atenas, ganhando por 2-0 e chegando pela primeira vez na sua história à meia-final da Taça UEFA. Num belo jogo, em que ainda teve que sofrer muito, dois golos de Derlei, um na primeira parte e outro também na primeira metade, mas do prolongamento, permitiram ao FC Porto uma vitória de grande significado a todos os títulos. Nunca tinha ganho na Grécia, nunca sequer tinha estado a ganhar alguma vez, mas foi capaz de enfrentar um ambiente difícil com as suas armas e acreditar numa vitória. Teve alguma sorte em certos momentos – aquela que não tinha tido há oito dias – e foi capaz de ser uma equipa, que é hoje por hoje o seu grande trunfo. Derlei foi o herói, o deus do Olimpo que, com dois golos, matou a mitologia grega mais todos os deuses que andavam a proteger as equipas de Atenas nos confrontos com os portistas”, podia ler-se no Record.
 








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