terça-feira, 2 de maio de 2023

É tão difícil travar Kvaratskhelia quanto escrever o seu nome

Kvaratskhelia deverá ganhar prémio de melhor jogador da Série A em 2022-23
Feche os olhos e experimente escrever o nome da grande revelação do futebol mundial em 2022-23: Khvicha Kvaratskhelia. É difícil, não é? Tanto quanto travá-lo em campo. Do anonimato, o extremo georgiano contratado pelo Nápoles ao Dínamo Batumi há menos de um ano deverá com toda a certeza saltar para a lista de nomeados à Bola de Ouro.
 
Titular indiscutível para Luciano Spalletti desde o início da temporada, o talentoso, irrequieto e imprevisível atacante de 22 anos é um dos raros futebolistas das principais ligas europeias que esta época já superou a marca dos dois dígitos tanto em golos (14) como assistências (14) em todas as competições e é um dos principais responsáveis pela boa campanha que o conjunto do sul de Itália tem estado a fazer: chegou aos quartos de final da Liga dos Campeões e está prestes a conquistar o seu primeiro título nacional desde 1990.
 
Nos últimos meses, tenho procurado conhecer melhor este fenómeno e aquilo que mais me tem impressionado é que “Kvaradona", como já lhe chamam em alusão ao ídolo maior do futebol napolitano, ainda tem uma enorme margem de progressão. Apesar da gigantesca influência que tem na dinâmica ofensiva dos azzurri, com uma participação em golos que roça a média de um golo por jogo (0,76) entre remates certeiros e assistências, trata-se de um jogador que ainda pode crescer bastante na definição das jogadas.
 
Possivelmente já um dos melhores do mundo ao nível do drible curto, Kvaratskhelia consegue desmontar sozinho a organização defensiva de uma equipa, pois tem mostrado capacidade para sair de uma cabine telefónica com a bola dominada. Ainda no recente encontro da segunda mão dos quartos de final da Liga dos Campeões, frente ao AC Milan, vi-o por várias vezes a desenvencilhar-se de dois adversários – o lateral direito Davide Calabria e o extremo Brahim Díaz ou o médio interior Rade Krunic, que alternadamente acudiam o companheiro – que o vigiavam de perto, desfazendo por completo a inferioridade numéria que a sua equipa tinha na zona da bola.
 
No entanto, quando chegava às imediações da pequena área, talvez por lhe faltar algum discernimento depois de tanto esforço no decorrer da jogada, definia mal. Essa lacuna também se nota nas estatísticas, pois na presente edição da Champions é o jogador com maior diferença negativa entre golos esperados (5,78) e golos marcados (2).

 
Foi precisamente esse defeito o que mais me impressionou no georgiano. Imaginem quando este extremo, que já tem uma elevadíssima participação em golos, conseguir aliar todo aquele futebol de rua com mais discernimento, mais critério e melhor definição. Será dos melhores do mundo. É verdade que já tem fabricado vários golos que não eram esperados, mas também define muitas vezes mal lances em que os adeptos já se preparavam para festejar.
 
Tendo em conta o que já vale nos dias de hoje, imagino-o a jogar em qualquer uma das melhores equipas do mundo, talvez apenas à exceção do Real Madrid, que já tem um Vinícius Júnior que alia um fantástico drible curto com grande maturidade na definição das jogadas na ala esquerda do ataque. Curiosamente, estão ambos no top 3 de futebolistas com mais dribles bem-sucedidos na Liga dos Campeões nesta época: o brasileiro soma 42, o georgiano 35 e pelo meio há Rafael Leão com 37.







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