Mão de Henry decisiva para apurar França para o Mundial 2010 |
É impossível fazer uma lista dez
jogos de seleções mais polémicos de sempre sem mencionar o França-República da
Irlanda de 18 de novembro de 2009. Quem não se deve lembrar deste encontro são
aqueles que defendem que o VAR só veio estragar o futebol.
Mas, antes de mais, vamos
contextualizar. Depois de se sagrar vice-campeã mundial em 2006, França viu a
retirada de Zidane e o declínio daquela geração de ouro que ganhou o título
mundial em 1998 e o cetro europeu em 2000
refletir-se nas competições que se seguiram. Apurou-se para o Euro 2008, mas
não se livrou de um aperto por parte da Escócia, e o melhor que conseguiu nesse
Campeonato da Europa na Áustria e na Suíça foi um empate diante da Roménia.
Entretanto, falhou o apuramento direto para o Mundial 2010 por culpa da Sérvia,
pelo que foi obrigada a jogar o tudo ou nada num playoff diante da
República da Irlanda.
Na primeira-mão, em Dublin, até
se confirmou o favoritismo gaulês. Nicolas Anelka a meias com um defesa
irlandês, aos 72 minutos, marcou o golo solitário do encontro, perante os
selecionados de Giovanni Trapattoni, onde constavam os nomes dos já trintões
Shay Given e Damien Duff e dos quase trintões John O’Shea e Robbie Keane.
A segunda-mão, em Paris, aparentava
ter tudo para ser apenas um pró-forma para les bleus, que supostamente
já teriam feito o mais difícil, mas não foi nada disso que aconteceu. Pouco
depois da meia hora, uma arrancada de Duff culminou num cruzamento atraso para
Robbie Keane, que aproveitou a oportunidade para colocar a República da Irlanda
em vantagem no jogo e, consequentemente, empatar a eliminatória (33’).
O resultado manteve-se inalterado
até ao final dos 90 minutos, o que obrigou à realização de um prolongamento. Perto
do final da primeira parte do tempo extra, Thierry Henry recebeu uma bola
bombeada para a área com a mão e endossou o esférico para a boca da baliza,
onde apareceu William Gallas para cabecear para o 1-1 (103’). A equipa de
arbitragem não detetou a irregularidade – curiosamente, na mesma jogada, também
não foi assinalado um fora de jogo a Squillaci, que teve interferência no lance
–, Henry não se denunciou e o resultado, que não sofreu mais alterações, significou
a qualificação de França para o Campeonato do Mundo da África do Sul.
“A missão da Irlanda não era
fácil, pois precisava de marcar pelo menos dois golos para assegurar a presença
na África do Sul. No entanto, os pupilos de Giovanni Trapattoni entraram em
campo determinados e colocaram-se em vantagem na primeira parte. Aliás, a
Irlanda efetuou ontem uma das melhores exibições dos últimos tempos. Criou
várias oportunidades, mas não conseguiu concretizá-las. No Stade de France,
onde há 11 anos os gauleses chegaram ao título mundial, Raymond Domenech ouviu bastantes
assobios devido ao paupérrimo rendimento da sua equipa. E quando o encontro
parecia caminhar para a decisão através de grandes penalidades, o árbitro sueco
Martin Hansson fechou os olhos a duas infrações no mesmo lance: não assinalou um
fora-de-jogo de Squillaci e no seguimento da jogada a bola só não saiu do
terreno de jogo porque Henry dominou-a com a mão, aproveitando-se da infração
para assistir Gallas. De imediato, os jogadores irlandeses ergueram os braços,
pedindo a intervenção do juiz da partida, mas o golo do central francês foi
validado, perante os protestos de Giovanni Trapattoni”, escreveu o jornal O
Jogo.
A polémica ainda durou algumas
semanas, para não dizer meses. Thierry Henry admitiu ter jogado a bola com a
mão, mas defendeu-se das críticas, afirmando que era ao árbitro quem cabia
assinalar falta. Devido à pressão a que foi submetido, o avançado português chegou
a ponderar retirar-se da seleção e teve de pedir proteção para a família.
Os jogadores irlandeses alegaram
que o golo irregular tinha acontecido porque o presidente da UEFA era um
gaulês, Michel Platini.
A Federação da República da Irlanda
pediu a repetição do jogo, tendo mesmo citado um precedente na fase de
qualificação para o Mundial 2006, quando foi ordenada a repetição de um
encontro entre Usbequistão e Bahrein devido a um erro técnico do árbitro, que
não ordenou que um penálti fosse repetido após um atacante ter entrado na área
antes da execução do mesmo. Contudo, a FIFA rejeitou o pedido de repetição do
jogo logo no dia seguinte.
Perante a impossibilidade de o
jogo ser repetido, a Federação Irlandesa foi mais longe e pediu para que o
Campeonato do Mundo fosse alargado a 33 equipas, para que a seleção da
República da Irlanda fosse incluída, mas essa hipótese também foi rejeitada.
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