quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Gold Cup depois da Liga das Nações. A grande retoma dos Estados Unidos

Seleção B norte-americana conquistou Gold Cup
Nos últimos dois meses, a seleção dos Estados Unidos conquistou o par de troféus mais importante da sua conferência, superando em ambas as ocasiões os eternos rivais mexicanos após prolongamento. Se vencer a Liga das Nações com a equipa mais jovem de sempre a disputar uma final já tinha sido suficientemente notável, os norte-americanos conseguiram exceder-se, ao arrecadar a Gold Cup com recurso a um plantel secundário. Está em marcha um novo período auspicioso da história futebolística dos Estados Unidos, em que se olha com propriedade para lá dos limites da conferência, e se coloca em causa o estabelecido domínio regional mexicano. 
 
É verdade que a equipa comandada por Gregg Berhalter acaba de se sagrar campeã da Gold Cup com cinco vitórias pela margem mínima em seis encontros disputados, e esse registo não é particularmente impressionante. No entanto, apresentar em campo um plantel maioritariamente jovem, com pouca ou nenhuma experiência internacional, sem tempo para um desejável entrosamento, constitui uma atenuante considerável. Além de ser uma espécie de seleção B dos Estados Unidos, esta foi a segunda equipa mais jovem de sempre em finais, superada apenas pela final da Liga das Nações, aspeto que vem colocar esta proeza num patamar de relevância superior. 
 
A Gold Cup acabaria por se revelar o cenário competitivo ideal para colocar à prova todos os candidatos a futuras convocatórias, dado que as contrariedades que foram surgindo ao longo do torneio originaram novos desafios. A começar pelas mudanças de sistema tático forçadas pela lesão de mais do que um jogador. O 4x3x3 inicial mudou em várias ocasiões para um 3x4x2x1, por exemplo. Os futebolistas norte-americanos não estavam habituados a jogar pela seleção em muitos casos, não estavam acostumados a jogar uns com os outros, e também não estavam rotinados a estes desenhos táticos. Por isso mesmo, o jogo dos Estados Unidos foi pouco vistoso e escorreito, privilegiando uma segurança defensiva que se viria a verificar, com apenas um golo sofrido nos seis jogos. Saber sofrer foi uma virtude inesperada deste jovem conjunto que demonstrou um compromisso coletivo notável, mesmo nos momentos de maior atrapalhação. Neste quesito, uma palavra de reconhecimento ao selecionador Gregg Berhalter, que demonstrou ser capaz de injetar a confiança necessária aos seus jogadores. 
 
Sair finalista vencido desta competição seria uma expectativa bastante válida para os norte-americanos, face ao lote de individualidades disponíveis. O maior aliciante da Gold Cup seria ver como se comportavam as segundas linhas dos Estados Unidos num grande palco, e perceber quem tem condições de dar o salto para uma convocatória de primeiras escolhas. Entre os principais intervenientes, quatro figuras emergiram como os grandes beneficiários desta oportunidade, tendo praticamente garantido a sua presença nas próximas convocatórias de qualificação para o Mundial: Miles Robinson, Matt Turner, Kellyn Acosta e Matthew Hoppe.  

 
Não por ter assinado o golo decisivo na final, mas sim pelo conjunto de intervenções decisivas que gizou ao longo do torneio, comandando imperiosamente e inesperadamente o eixo defensivo, Miles Robinson foi a estrela maior dos Estados Unidos na Gold Cup. Ainda não chega para almejar a titularidade, mas o defesa do Atlanta United assegurou um lugar como central de reserva, e terá certamente bastantes minutos na qualificação. Atrás de si estava Matt Turner, o guarda-redes revelação da Major League Soccer a quem foi dada a oportunidade de ser o nº1 durante toda a competição. Só deixou entrar uma vez a bola na baliza, e defendeu uma grande penalidade fundamental na meia-final diante do Qatar. Acabou eleito melhor guarda-redes da Gold Cup, não desperdiçando o voto de confiança que lhe foi atribuído. A vaga de terceiro guarda-redes nacional é sua, no mínimo. No meio-campo, Kellyn Acosta foi o elemento mais influente, como se previa, confirmando assim o seu estatuto de médio/lateral utilitário, indispensável a qualquer convocatória dos Estados Unidos. Por último, Matthew Hoppe. O jovem avançado do Schalke 04 completou as suas primeiras cinco internacionalizações na Gold Cup, e exibiu-se a um bom nível, embora menos acutilante na final diante do México. Hoppe veio para a contenda, e uma temporada positiva na segunda divisão alemã poderá conceder-lhe minutos adicionais durante a qualificação para o Campeonato do Mundo. 
 
Do ponto de vista negativo, Jackson Yueill, Jonathan Lewis e Donovan Pines parecem ter perdido o comboio da seleção em definitivo. Por outro lado, Paul Arriola ficou aquém do que a sua experiência internacional indiciava, e Daryl Dike, uma das grandes promessas norte-americanas que gerou bastante expectativa à entrada da competição, tornou-se uma real desilusão. Não poderá desperdiçar outra oportunidade como esta.  
 
Depois do desastroso ano de 2017 que ditou a ausência do Mundial na Rússia, 2021 desenha-se como o ano da retoma para a seleção dos Estados Unidos. No seguimento da conquista da Liga das Nações com um plantel ineditamente jovem, de uma surpreendente vitória na Gold Cup, e de um mais que provável apuramento para o Campeonato do Mundo, os Estados Unidos regressam de uma forma retumbante, deixando os seus adeptos entusiasmados com o que está para vir. Gregg Berhalter é o rosto desta retoma. O selecionador norte-americano tem-se revelado engenhoso o suficiente para fintar as contrariedades e apresentar os resultados desejados. A qualidade de jogo que muitos exigem ainda não está lá na maioria do tempo, mas verdade seja dita, o núcleo principal de jogadores também não.  

Artigo elaborado por António Ribeiro










 

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