domingo, 10 de novembro de 2019

Jogaram no FC Porto e no Boavista e contam como é a rivalidade do dérbi

Duda e Mário Silva, dois jogadores que passaram pelos dois clubes
Mais de 100 jogos no campeonato, uma final da Taça de Portugal e quatro decisões da Supertaça Cândido de Oliveira. O dérbi da Invicta tem mais de um século de história, ganhou maiores contornos no pós-25 de abril, protagonizou confrontos diretos na luta pelo título durante a viragem do milénio e, depois da travessia do Boavista no deserto das divisões inferiores durante quase uma década, vai voltando novamente a ganhar expressão.


Pela inconstância de resultados e exibições do FC Porto nas últimas semanas, nomeadamente com a derrota desta quinta-feira em Glasgow diante do Rangers, e pelo bom arranque de temporada dos axadrezados, o jogo deste domingo do Bessa (21.00) reúne, no entender de quem os disputou, características que fazem lembrar os dérbis de antigamente.

"Sem dúvida. O Boavista está moralizado, joga em casa, tem o apoio dos adeptos e está com uma autoestima muito grande. O FC Porto vem de um jogo mau para a Liga Europa e por isso vai ter que trabalhar muito, porque vai ser muito difícil ganhar no Bessa. Vai ser um grande jogo", antevê Rui Óscar, campeão por FC Porto (1996-97) e Boavista (2000-01).

Tiago, que venceu dois campeonatos (2002-03 e 2003-04) e a Taça UEFA pelos dragões e esteve na última vitória dos boavisteiros sobre os portistas (abril de 2007), também acredita que este vai ser o dérbi dos últimos anos com mais parecenças com os do seu tempo.

"Independentemente de uma equipa passar uma fase boa ou menos boa, estes jogos são diferentes. São jogos sempre difíceis para as duas equipas e um dérbi histórico para a cidade do Porto. Espero um dérbi intenso e disputado de forma leal dentro e fora do campo, mas penso que o FC Porto vai assumir a responsabilidade do jogo e entrar para ganhar diante de um Boavista que está a fazer um excelente campeonato, bem orientado por um bom treinador [Lito Vidigal], que sofreu a primeira derrota no campeonato apenas na segunda-feira [no terreno do Vitória de Setúbal]. É uma equipa competitiva, à imagem do treinador e do clube", perspetiva o antigo médio, 44 anos.

"Dérbis pesam mais para o Boavista"

Rui Óscar recorda que os dérbis "eram vividos de uma forma especial". "São jogos que qualquer jogador gosta de jogar. São sempre muito aguerridos e bem disputados e nota-se sempre a rivalidade", acrescenta o antigo lateral direito, formado nos azuis e brancos.

Rui Óscar em disputa de bola com Derlei num dérbi de 2003
"São jogos sempre muito competitivos e muito atrativos para as pessoas da cidade do Porto, em que normalmente, face à rivalidade, existe muita aplicação e vontade de ambas as equipas para ganhar o jogo. Os jogadores e treinadores querem ganhar sempre, mas há jogos que são muito especiais e este é um deles", acrescenta Mário Silva, que venceu uma Taça de Portugal (1996-97) e uma Supertaça (1997) pelo Boavista e dois campeonatos, uma Taça de Portugal, uma Taça UEFA (2002-03) e uma Liga dos Campeões (2003-04) pelo FC Porto.

Porém, tanto Rui Óscar como Tiago admitem que estes jogos são vividos com maior intensidade no Boavista do que no FC Porto. "Logicamente que as principais rivalidades do FC Porto são com Benfica e Sporting e que os dérbis pesam mais para o Boavista, porque são clubes vizinhos. Os jogos eram sempre muito renhidos e no Boavista criámos sempre muitas dificuldades ao FC Porto", lembra o antigo internacional jovem português, 43 anos, campeão europeu de sub-18 em 1994. "O FC Porto está mais preparado para os dérbis e para os clássicos. No Boavista as pessoas sentem mais, sobretudo os adeptos. Durante a semana fala-se bastante no dérbi e os associados do Boavista defendem o seu clube com paixão e estes jogos são especiais para eles", conta o antigo centrocampista, que colabora com uma empresa de agenciamento de jogadores.

Mário Silva discorda. "Acho que é igual. É claro que, para o Boavista, o FC Porto é um clube de maior dimensão e tem o favoritismo do jogo. Mas o FC Porto também tem vontade de vencer, para mostrar que é o melhor clube da cidade do Porto e um dos maiores de Portugal e do mundo", crê o antigo lateral esquerdo, 42 anos, atual diretor da academia do Almería, de Espanha.

Para Rui Óscar, "o Boavista começa novamente a crescer aos poucos e poderá um dia voltar a ser o Boavistão de antigamente, mas ainda tem muito para crescer", mas para Tiago, a rivalidade entre os dois emblemas português já "não é tão grande como era no meu tempo". "Vivia-se mais intensamente este jogo, mesmo durante a semana, a abordagem ao dérbi era constante e o movimento no dia de jogo era maior. Penso que agora já não é como há uns anos", lamenta o médio, que encontra na travessia do deserto dos boavisteiros uma razão que ajuda a justificar o esfriar da rivalidade: "Com a situação pela qual o Boavista passou nos últimos anos, os sócios foram-se afastando um pouco do clube, o que se notava nos jogos na II Liga e na II Divisão B, com os estádios vazios. Mas o Boavista está de volta, está novamente a crescer e os adeptos têm aderido cada vez mais."
Tiago em duelo com Jorge Costa num encontro no Dragão

Mário Silva, que foi formado nos axadrezados e jogou pela única vez pela seleção principal precisamente no Estádio do Bessa, numa derrota com a Finlândia em março de 2002 (1-4), é da mesma opinião. "O que aconteceu com o Boavista arrefeceu um pouco as coisas. Apesar de o Boavista estar a fazer um bom campeonato, no passado era um Boavista mais competitivo e com uma dimensão maior. Depois de tudo o que aconteceu, teve de se reestruturar, o que proporcionou momentos de maior dificuldade. Mas acredito que, seja em que momento for, os jogadores terão sempre muita ambição de ganhar, tanto de um lado como do outro", analisa o antigo defesa, que como treinador passou pela formação de ambos os clubes e chegou mesmo a orientar a equipa principal do Boavista na extinta II Divisão B, em 2011-12.

O ano do título e a última vitória do Boavista

Desafiados a escolher os dérbis mais escaldantes em que participaram, Rui Óscar e Tiago partilham memórias diferentes, até porque nunca estiveram em simultâneo do mesmo lado da barricada. "O ano em que fomos campeões foi um ano excelente. Ganhámos no Bessa e perdemos nas Antas quando já éramos campeões", lembra o antigo lateral, em alusão à temporada 2000-01.

"O jogo que ganhámos no Bessa foi um grande jogo e foi aí que ultrapassámos o FC Porto. Fomos acreditando a partir daí. Tínhamos uma superequipa, bem orientada, e as coisas iam correndo bem. Íamos ganhando semana após semana e dentro do balneário assumimos que íamos lutar pelo título antes de assumirmos publicamente. Fomos campeões com todo o mérito", recorda Rui Óscar, acerca de um jogo disputado a 13 de janeiro de 2001 e decidido por um golo solitário de Martelinho, referente à última jornada da primeira volta.


Quatro meses depois, os ressacados axadrezados foram goleados no campo do rival, com Deco a apontar um hat trick e Ricardo Silva a fechar as contas. "Antes do jogo das Antas passámos a semana toda a festejar e logicamente que para o FC Porto não era nada bom irmos lá já campeões. FC Porto ressabiado? Sem dúvida alguma, tanto que perdemos por 4-0. Eles ficaram todos contentes por nos terem ganhado, mas não valeu de nada porque já éramos campeões", conta Rui Óscar, que também passou por U. Lamas, Leça, Marítimo e Beira-Mar, nostálgico.


Já Tiago, que chegou ao clube do Bessa precisamente na época seguinte à da despedida de Rui Óscar, lembra o derradeiro triunfo dos boavisteiros sobre os portistas, a 28 de abril de 2007. "Recordo-me do jogo em que o Boavista ganhou ao FC Porto pela última vez, no meu último ano no clube. Ganhámos por 2-1 no Bessa. Na altura, o FC Porto estava muito forte e, o Boavista, com todo o respeito pelos jogadores de agora, era um Boavista diferente, com mais-valias e um plantel recheado de bons jogadores. Estes jogos são motivadores e ganhar ao FC Porto é algo marcante", frisa o antigo médio, acerca de uma partida em que Ricardo Silva e Zé Manuel marcaram para os axadrezados e Lucho González de grande penalidade para os azuis e brancos.


Mário Silva também vestiu a camisola do Boavista nesse dérbi de 2007, um dos 13 em que esteve em campo, mas nenhum o marcou de forma especial. "Ganhei uns, perdi outros... as duas equipas em que joguei foram precisamente as duas da cidade do Porto, por isso, é normal que de um lado ou do outro houvesse uma vontade especial de ganhar. Mas foram todos jogos vividos com grande intensidade por mim. Sempre que entrava em campo, fosse contra que adversário fosse e que tipo de jogo fosse, tentava dar o meu máximo", recordou o antigo lateral esquerdo.




















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