sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Um Estoril assimétrico e com ideias próprias

Luís Freire deixou o Mafra para assumir o comando do Estoril
Na supercompetitiva e caótica II Liga, onde quem normalmente leva a melhor não é quem tem mais qualidade, mas sim quem erra menos, ainda há espaço para um futebol mais elaborado e esteticamente mais aprazível associado a resultados desportivos. É o caso do Estoril de Luís Freire, um clube e um treinador que vinham de realidades distintas, mas que estão a funcionar bem em conjunto à beira do final da primeira volta, com os canarinhos a praticarem bom futebol e a estarem envolvidos na luta a três pela subida ao primeiro escalão, juntamente com Famalicão e Paços de Ferreira.


Com um plantel recheado de jogadores experientes e com perfil atlético, talvez fosse mais fácil para o treinador de 33 anos não inventar muito, montar uma equipa pragmática, à procura de chegar à frente em transições sem se desmontar muito e à espera que avançados com a capacidade de Kléber, Roberto, Sandro Lima ou Dadashov resolvessem na área contrária. Contudo, o homem que guiou Ericeirense, Pêro Pinheiro e Mafra a subidas de divisão em campeonatos não profissionais nas últimas épocas tem mostrado que tem ideias próprias e não tem receio de as colocar em prática.

Na estreia numa liga profissional, implementou uma construção de jogo arrojada e pouco vista no futebol mundial. A equipa, que no papel se poderá esquematizar em 4x2x3x1 ou 4x4x2, posiciona-se em 3x4x3 (ou 3x2x4x1 ou 3x6x1, como preferirem), com os dois centrais e um dos laterais – o direito, neste caso – a assegurarem a saída de bola, ao contrário do que normalmente se vê: os dois centrais e um médio entre eles.
 
Estoril em fase ofensiva, disposto em em 3x4x3 (ou 3x2x4x1)
Quem não tiver a visão viciada e por isso não saber que João Góis (ou Pedro Queirós) é um lateral direito, até poderá persistir que o sistema canarinho é de três centrais e não de quatro defesas. E, na realidade, não há como negar que na fase ofensiva é isso que acontece. O lateral esquerdo (Furlan) aparece projetado e aberto no respetivo corredor, enquanto no lado direito é o extremo Aylton que cumpre missão paralela. E aquele que no papel é um extremo esquerdo (Filipe Soares), surge em zonas interiores, ocupando o espaço entre linhas em cunha com o segundo avançado (Sandro Lima).

Perante esta disposição no terreno, os dois elementos do duplo pivot do meio-campo (Gonçalo Santos e Wallyson) mostram-se aos defesas para começar a ligar o jogo, podendo prosseguir essa ligação com um futebol de pé para pé para os segundos avançados (Filipe Soares e Sandro Lima), explorar o espaço de que os alas (Aylton ou Furlan) possam dispor ou esticar diretamente no ponta de lança (Dadashov), que se fixa mais entre os centrais adversários. Entre tantas trocas e movimentações, imagine-se a dificuldade de quem está do outro lado para acertar marcações.

Estoril em fase defensiva, com os quatro defesas alinhados
No entanto, quem no momento ofensivo vê um 3x4x3 também vislumbra um 4x4x2 (ou 4x2x3x1) na fase defensiva, com o lateral esquerdo (Furlan) a surgir na mesma linha dos restantes três defesas e o (falso) extremo esquerdo (Filipe Soares) a fechar o flanco. E a transição ataque-defesa, que separa os dois momentos referidos, caracteriza-se por uma rápida e agressiva reação à perda da bola, com o duplo pivot a ter um papel fundamental na pressão e na ocupação dos espaços enquanto o lateral e o extremo do lado esquerdo transitam para o posicionamento defensivo.

Um Estoril assimétrico, mas com ideias próprias e de recheado de qualidade para lutar pelo regresso ao patamar maior do futebol português.















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