terça-feira, 27 de novembro de 2018

Taça de Portugal. Dois irmãos levaram o Montalegre ao momento mais alto da sua história

Paulo Reis (à esquerda) e José Manuel "Viage" 
Mora em Trás-os-Montes, a menos de dez quilómetros da fronteira com Espanha, o único resistente do Campeonato de Portugal na Taça. O Montalegre, que apenas por uma vez tinha estado presente na terceira eliminatória, esta época não só consegui chegar à quarta como já garantiu o bilhete para a quinta, em que estarão em competição apenas 16 equipas. Tudo começou com uma derrota em casa, ante o vizinho Pedras Salgadas (2-3), mas a repescagem no sorteio da 2.ª eliminatória tratou de recolocar os transmontanos na prova rainha do futebol português.


A vitória caseira sobre o Águeda no domingo (1-0) e a escassez de tombas-gigantes geraram um entusiasmo baseado no muito provável duelo com uma equipa de I Liga. Falta apenas a confirmação no sorteio de sexta-feira (12.00). O presidente dos barrosões, Paulo Reis, 37 anos, fala em "apenas meia festa" ao DN. "Deixámos a outra metade da festa para quando eliminarmos um grande", acrescentou, bem-disposto, apelidando este de "o momento mais alto da história do Montalegre" e com vontade de imitar o Caldas, que na época passada só caiu nas meias-finais: "O sonho comanda a vida e queremos ir o mais longe possível, mas sabemos que é extremamente difícil, porque só ficámos nós e duas equipas da II Liga (Leixões e Paços de Ferreira). Queremos ser uma surpresa, um tomba-gigantes."

"Não vamos querer ficar por aqui"

O entusiasmo é partilhado pelo irmão mais velho, José Manuel "Viage", 47 anos, treinador da equipa há quatro anos interruptos, depois de passagens anteriores pelo clube e de o ter representado também enquanto jogador. "Foi o jogo com mais significado e importante da história do Montalegre, um dia de muita euforia e festa, um grande momento. Já tinha sido a primeira vez que passámos a quarta eliminatória, agora então... fizemos história! A equipa teve um comportamento fantástico e conseguimos eliminar uma equipa, o Águeda, que vinha com o mesmo pensamento de passar. As pessoas de Montalegre estão felizes, não estavam habituados a ver o clube numa fase tão adiantada da Taça de Portugal. A equipa sentiu o impacto nacional do que fez", atirou em conversa com o DN, ainda que pedindo foco na "prioridade" campeonato aos seus jogadores.

A festa no balneário após a vitória sobre o Águeda
Se o mano mais novo diz que ainda só houve "meia festa", o mais velho diz que "isto é só início". "Não vamos querer ficar por aqui, independentemente do adversário. Podemos fazer algo ainda mais bonito", assumiu, considerando ser uma responsabilidade "defender o Campeonato de Portugal", o terceiro escalão do futebol nacional. "Há muitas equipas, jogadores e treinadores com qualidade. As equipas da I Liga sentem muitas dificuldades em eliminar as equipas do Campeonato de Portugal, como se viu com o Sp. Braga, que ganhou nos minutos finais ao Praiense, que deu uma boa replica", avisou.

Sorteio? Todos menos o Desp. Chaves

Depois de décadas mergulhado entre a III Divisão e os distritais de Vila Real, o Montalegre está a pouco mais de três semanas do jogo mais importante da sua história, aconteça o que acontecer no sorteio desta sexta-feira. O presidente espera que o adversário seja "um dos três grandes" e adianta que o Benfica é o clube com mais impacto na região. O treinador, por sua vezes, só pede para que duas coisas aconteçam: jogar em casa e não defrontar o vizinho Desp. Chaves.

"Seria um dérbi e criaria alguma rivalidade devido à proximidade, mas honestamente não gostava de receber o Desp. Chaves. Gostava que recebêssemos outra equipa, que tivesse mais impacto. Costumamos jogar com o Desp. Chaves na pré-época, as pessoas já estão habituadas. Gostava que fosse diferente e que os associados pudessem ver uma equipa que nunca tivesse jogado em Montalegre", explicou, sem preferências quanto a adversário.

Os heróis que levaram o Montalegre aos oitavos da Taça
"Não penso em nenhuma equipa. Se pensasse pelos adeptos, associados, pela vila e até pelos jogadores, trazer aqui um dos três grandes teria um impacto enorme. Temos preferência em jogar em Montalegre. Se queremos competir, criar impacto e que falem de nós, temos de eliminar uma equipa da I Liga. É um desafio à nossa medida. Se formos jogar ao Dragão, à Luz ou a Alvalade, se calhar as nossas hipóteses são de cinco por cento, mas são cinco por cento e iremos lutar por eles. Vamos aceitar quem sair e depois vamos ver se temos ou não capacidade para poder passar mais uma eliminatória. Sei o que o resto das equipas pensa: estão todas a esfregar as mãos para que lhe saia o Montalegre, porque pensam que é o elo mais fraco. Aceitamos isso, mas não vamos derrotados para o campo", prometeu, confiante e ambicioso, até na possível vistoria por parte da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) ao Estádio Dr. Diogo Vaz Pereira: "Temos condições para receber qualquer jogo. Se vier cá uma equipa grande, ainda teremos de reunir algumas condições, mas acredito que com o apoio da autarquia o jogo seja mesmo em Montalegre. As pessoas já estão avisadas, atentas e sabem o que têm de fazer. Não tenho dúvidas de que não vão deixar escapar uma oportunidade dessas. Montalegre nunca recebeu um grande."

Irmãos... apenas fora do estádio

Há muitos anos ligados ao Centro Desportivo e Cultural de Montalegre, os irmãos José Manuel "Viage" e Paulo Reis colocam de parte os laços familiares quando se trata do clube da vila transmontana. "Somos irmãos fora do estádio. Dentro do estádio, eu sou o presidente, ele é o mister, e quando assim é as coisas são fáceis de resolver. Entendemo-nos perfeitamente. Fora do estádio, deixamos o futebol um bocado de lado e só falamos de situações que sejam mesmo urgentes", explica o dirigente, que admite não ter grandes problemas se um dia tiver de despedir... o irmão mais velho. "Quando corre mal, corre mal para toda a gente, mas sabemos que sobra sempre para os treinadores. É assim no Benfica, FC Porto ou no Real Madrid. Não é que a culpa seja toda deles, mas o futebol é mesmo assim. Não fugimos à regra, o futebol já foi inventado há muitos anos", vincou, garantindo que "os jogadores não irão ficar sem prémio" pela passagem aos oitavos de final.

Ainda assim, o treinador que herdou a alcunha "Viage" do pai e a utiliza desde tenra idade, tem razões para dormir descansado. "Estamos tranquilos, ele tem feito um bom trabalho e chegou ao clube ainda não era eu o presidente. As coisas têm corrido bem e com ele já fomos campeões distritais sem derrotas e vencemos a Taça AF Vila Real", salientou o mano mais novo.
Adeptos barrosões vibraram com a passagem aos oitavos

A profissionalização e o sonho da II Liga

Quando questionámos José Manuel "Viage" sobre a melhor hora para lhe telefonar, a resposta foi reveladora de que o profissionalismo tinha chegado ao 9.º classificado da Série A do Campeonato de Portugal: "Às 11.30, a seguir ao treino. "Ainda que haja "um ou outro jogador que têm part times", como o enfermeiro Vítor Pereira e outros nas áreas da informática e fisioterapia, "toda a gente vive do futebol".

"Os comportamentos são de equipa profissional. Treinamos de manhã às segundas, quartas, sextas e sábados. Só não nos podemos considerar profissionais porque a nível de salários as coisas são mais complicadas", contou o treinador, que considera ter ao seu dispor uma equipa que "já tem alguma maturidade", alicerçada em futebolistas como o central Vítor Alves, que na época passada subiu com o Santa Clara à II Liga; Vítor Pereira e João Fernandes, ambos ex-Desp. Chaves; e Paulo Roberto, que já jogou em clubes como Belenenses, Penafiel e Freamunde nas ligas profissionais. No entanto, é o adjunto Ricardo Chaves o que tem o currículo mais preenchido, tendo conquista Taça de Portugal e Taça da Liga ao serviço do Vitória de Setúbal. "Foi jogador, tem experiência e ajuda os jogadores num ou noutro momento. Tem carisma e está a ajudar-me. É o meu braço-direito", descreveu José Manuel "Viage".

Porém, a profissionalização não se esgota na equipa principal. "Temos vindo a modernizar o clube e a crescer e queremos melhorar ainda mais", assegura Paulo Reis, "dotar o clube de infraestruturas para que nada falte aos atletas". "Queremos criar condições para num futuro próximo possamos sonhar com uma subida à II Liga. Sabemos que é extremamente difícil e temos que nos preparar para dar esse passo. Estamos a ir pelo caminho certo. O objetivo sempre foi fazer mais e melhor, e neste caso é subir a outro patamar. Quando há dois anos estávamos nos distritais, queria mais e melhor, que era subir ao Campeonato de Portugal e estabilizar o clube nesta divisão. É extremamente difícil, mas vamos à luta", prometeu o líder barrosão, com vontade de reforçar a presença de Trás-os-Montes no mapa das ligas profissionais.











1 comentário:

  1. Fiquei contentissimo com a vitoria do Montalegre e que ele se cubra de Gloria
    Força Montalegre

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