Cova da Piedade B assume “sonho” da promoção aos nacionais

Ricardo Estrelado tem 42 anos

Muito mudou no Cova da Piedade nos últimos cinco anos. O clube saltou da I Distrital para a II Liga, colocou juniores, juvenis – entretanto despromovidos – e iniciados nos campeonatos nacionais, atraiu um investidor chinês, renovou as suas infraestruturas e a estrutura do futebol e criou mais duas equipas sob a égide da SAD: a B (sub-21) e os sub-23.

Na época passada, os bês piedenses passearam pela II Distrital, assegurando a promoção a quatro jornadas do fim e o título de campeão com dez pontos de avanço sobre o Oriental Dragon. E nos quatro jogos já disputados em 2018/19, todos para a Taça AFS, contabilizam outras tantas vitórias, pelo que são muitos os que veem a formação azul e grená como candidata a uma segunda subida de divisão consecutiva.

“Não vou fazer de conta que isso não é o que vai na nossa cabeça, mas não podemos esquecer que os meus jogadores são sub-21, à exceção de três que podem ser sub-23. Todo o plantel é constituído por sub-21. Os sub-23 que vou utilizar serão jogadores que não estejam a jogar na Liga Revelação e que possa baixar. Não temos aquela experiência e matreirice”, revelou o treinador Ricardo Estrelado, recrutado ao Beira-Mar Almada, em conversa com O Blog do David.

“É uma equipa muito jovem para estar a assumir a candidatura a uma subida de divisão num campeonato tão difícil como a I Distrital e tendo em conta as equipas que se apetrecharam bem, como o Fabril e o Oriental Dragon ou O Grandolense que já há alguns anos que mantém a equipa e o treinador. Sinto que tenho equipa para me bater para os meus primeiros lugares, do primeiro ao quinto lugar. A subida é um obviamente sonho, mas não é o objetivo principal”, acrescentou o treinador que completou 42 anos a 10 de outubro.

“Equipa C? Campeonato de Portugal é mais importante do que a Liga Revelação”

Se enquadrada na I Distrital teremos o Cova da Piedade B a lutar-se pelos lugares cimeiros, de que forma se enquadra esta equipa na estrutura do clube, visto que existe uma formação sub-23? Será uma espécie de equipa C? Ricardo Estrelado nega. “Não. Somos a equipa sub-21. Os sub-23 estão a jogar um campeonato nacional, mas é preciso não esquecer que se tivermos a sorte ou o engenho de subir de divisão vamos jogar o Campeonato de Portugal, o que para mim é mais importante que a Liga Revelação. Sinto que estão a fazer tudo para que sejamos o melhor possível”, contou o técnico, frisando que a “a condicionante da idade existe na Associação de Futebol de Setúbal, mas não existe na AF Lisboa, por exemplo”.

Cova da Piedade B inicia I Distrital no terreno do Sesimbra

Apesar da ambição e da estrutura profissional que suporta a equipa, o ex-timoneiro do Beira-Mar Almada lembra que o clube “cresceu demasiado para a estrutura que tem” e que por isso “as condições ainda estão longe de serem espetaculares”. “Jogamos e treinamos no campo do Monte de Caparica, os sub-23 treinam no campo do Monte e jogam no relvado principal, os juniores treinam no campo do Monte e jogam no campo do Arrentela. Há um crescimento abrupto, devido à entrada do investidor, que está a criar condições. Para o campeonato em que estamos inseridos acho que é bastante, mas ainda há algumas limitações”, salientou.

Revolução em plantel que teve 70 jogadores à experiência

Antigo médio do Cova da Piedade na década de 1990, Ricardo Estrelado regressou “para dar continuidade à formação do clube”, “a primeira coisa” que lhe pediram. Da equipa do ano passado apenas se mantém um jogador, Tiago Pereira, que assumiu a braçadeira de capitão. Os outros subiram na hierarquia piedense ou rumaram a outras paragens.

Num plantel completamente renovado, constam “cinco ou seis jogadores da equipa que o ano passado se conseguiu manter no campeonato nacional de juniores”, uns que “estiveram à experiência nos sub-23 ou na equipa B” e outros que “já estavam identificados”. “Tive 47 jogadores para treinar no primeiro dia e 40 no segundo e no terceiro. Nas duas primeiras semanas, devem ter passado 70 jogadores a treinar à experiência”, contou o mister.

Por ter havido tantas mudanças, o processo “de construção da equipa e do modelo de jogo ainda está longe” do ideal. “É um trabalho contínuo, sendo que há partes do processo que já estão muito bem percebidas por eles, pormenores como posicionamento, primeiras fases de construção, posse de bola e bolas paradas. Mas faltam gerir tempos e momentos de jogo e evoluir movimentação e dinâmicas, coisas que só com o tempo é que vão chegar”, confessou o treinador, assumindo que não existe um sistema ou modelo de jogo transversal às equipas do Cova da Piedade: “Cada treinador tem a sua ideia e até acho que é bom haver essa versatilidade.”

“Não posso apresentar um onze sem chineses”

O plantel do Cova da Piedade B conta com três jogadores chineses: o lateral direito Dong Wang, o central Yang e o médio Li. Pelo menos um deverá estar garantido no onze da equipa nos 30 jogos da I Distrital. “Não posso apresentar um onze sem chineses”, assumiu Ricardo Estrelado, que diz que “a administração tem sido sensata”, mas que “não existe quota” definida.

“Não há nada escrito, não assinei qualquer papel. São eles que gentilmente pedem e nós temos de aceder. O mercado chinês está muito inflacionado e a administração vê aqui uma oportunidade de negócio”, explicou, assumindo que não tem no plantel “chineses que não saibam jogar”. “Não vale tudo”. “A nacionalidade pouco me importa. O que me importa é que eles sejam miúdos com compromisso e vontade e que queiram aprender e evoluir. Amanhã, é bom para eles, para o clube e para toda a gente”, vincou o técnico da formação do concelho de Almada.

Jogadores piedenses têm festejado muito da Taça AFS

“Sei que muitos treinadores não gostam que lhe imponham muitas coisas, porque querem decidir e escolher por mérito, mas essa é a realidade do Cova da Piedade. Não me importo de potenciar um jogador chinês para que a administração ganhe dinheiro e dar algo ao clube que não teria se não houvesse investidor. As pessoas não se podem esquecer disso. Se o Cova da Piedade não tivesse investidor, teria uma equipa e estaria na I Distrital. E os juniores estariam nos campeonatos distritais e não passariam daquilo. O Amora também fez uma SAD com moçambicanos e Pinhalnovense também tem administrador chinês. Sem isto, os clubes da região não conseguiriam fazer face às dificuldades”, acrescentou o técnico de 42 anos.

Taça AFS em falta na sala de troféus

A Taça da Associação de Futebol de Setúbal foi introduzida em 2010/11, quando o Cova da Piedade militava na III Divisão. Na época seguinte, já nos distritais, os piedenses não passaram da fase de grupos. E na temporada do regresso aos nacionais, 2012/13, foi derrotado na final pel’O Grandolense. Ou seja, é uma taça que ainda escapa ao museu do clube.

Agora, os bês piedenses obtiveram permissão para disputar a prova, e embora não seja um objetivo, “seria bom ganhar”. “Não nos traz nada, pois a equipa principal já tem o seu lugar reservado na Taça de Portugal. Não há qualquer obrigação na Taça, mas os jogos são todos para ganhar. Não vamos ganhar os jogos todos, mas vamos tentar ganhar todos os jogos. Se pudermos ganhar a Taça, não vou pôr os jogadores para perder ou demonstrar pouco interesse”, rematou o treinador, invicto ao leme do Cova da Piedade B e já apurado para a fase a eliminar da Taça AFS.