domingo, 14 de outubro de 2018

André Silva. O Deco do Salgueiros tornou-se goleador da seleção e só é batido por Eusébio e Peyroteo

André Silva marcou a Itália e Polónia na Liga das Nações
O arranque de época está a correr muito bem a André Silva. Depois de um ano para esquecer no AC Milan, o antigo avançado do FC Porto foi emprestado ao Sevilha, onde tem voltado a mostrar veia goleadora. No campeonato espanhol, considerado por muitos como o melhor do mundo, leva sete golos nas primeiras oito jornadas, mais do que craques como Lionel Messi (seis), Karim Benzema (quatro), Luis Suárez (três) e Antoine Griezmann (dois) - apenas Stuani, do Girona, tem mais (oito).


O bom momento tem sido extensível à seleção, onde se tem afirmado como homem-golo na ausência de Cristiano Ronaldo, tendo faturado diante de Itália e Polónia na Liga das Nações.

O remate certeiro diante dos polacos, nesta quinta-feira, colocou-o na lista dos 15 melhores marcadores de sempre da equipa das quinas, com 14 golos, os mesmos de Peyroteo e José Torres.

Natural de Baguim do Monte, no concelho de Gondomar, André Silva é o mais jovem jogador de sempre a apontar um hat trick pela seleção nacional, aos 20 anos, 11 meses e quatro dias, na goleada sobre as ilhas Faroé (6-0) a 10 de outubro de 2016.

Agora, sensivelmente dois anos depois, volta a primar pela precocidade, uma vez que foi o terceiro mais rápido da história da seleção a chegar aos 14 golos, tendo precisado apenas de 29 internacionalizações, tal como Nuno Gomes. Somente Eusébio (18 jogos) e Peyroteo (20) foram mais rápidos a chegar à fasquia dos 14 golos. Cristiano Ronaldo, hoje melhor marcador de sempre de Portugal, necessitou de 41 internacionalizações - às 29, levava nove golos. Pauleta, vice-líder da lista, precisou de 36 - às 29, tinha 12 golos apontados. Já Luís Figo, quinto da tabela de artilheiros mas com menos presença na área adversária, necessitou de 61 encontros - ao 29.º somava quatro golos.

"Não é renascimento nenhum. Estou confiante, a jogar e as coisas acabam por sair. Com confiança saem melhor. Estou muito feliz", disse o avançado na quinta-feira, após ter marcado um golo no triunfo diante da Polónia (3-2), na Liga das Nações.

André Silva e Hélder Costa num clássico de juniores em 2013
A boa temporada de André Silva não tem escapado aos jornais desportivos espanhóis. Recentemente, o diário AS intitulou-o como "o avançado da moda no futebol europeu". "André Silva não tem travão e também é letal com Portugal", podia ler-se.

O avançado que era médio e tinha Deco como alcunha

Década e meia antes de figurar entre os 15 melhores marcadores de sempre da seleção nacional, o então menino de 7 anos André Silva foi prestar provas ao Salgueiros. Com alguma naturalidade, ficou e depressa começou a dar nas vistas. Poucos meses depois, foi jogar um torneio a Viana do Castelo com o equipamento encarnado do histórico emblema de Paranhos e apontou 15 golos (!) num jogo frente ao Vianense. Nessa altura, atuava a médio ofensivo e os colegas chamavam-lhe Deco, em jeito de comparação com o luso-brasileiro que por essa altura brilhava no principal clube da cidade, o FC Porto.

No segundo ano de infantis, ficou triste por ver a maioria dos colegas, um ano mais velhos, terem integrado a equipa de iniciados e ele não. Rumou ao Boavista, mas não se adaptou e acabou por voltar ao Salgueiros.

"Apanhei-o quando ele tinha 15 anos. Ele começou a ser médio, passou para extremo nos iniciados, deu nas vistas como extremo e avançado, era um miúdo fora de série pela altura, velocidade e capacidade técnica que tinha, algo que ele eventualmente perdeu um bocadinho ao longo dos anos porque foi formatado no FC Porto para ser ponta-de-lança e hoje é o que ele é. Mas na altura já tinha muito potencial, se não o FC Porto não o tinha levado. No ano seguinte entrou logo na seleção", começou por contar Alexandre Silva ao DN, o último treinador de André Silva no emblema de Paranhos.
André Silva num jogo entre o Padroense e o Sporting

Nessa época, como iniciado, brilhou numa vitória sobre o FC Porto (3-2) e acabou por rumar aos dragões, apesar da cobiça de Benfica e Sporting. "Essa equipa do FC Porto era muito forte, fez um campeonato muito bom, perdeu a fase final nos últimos jogos e de forma um bocadinho injusta. E como o FC Porto em 22 jogos somou 21 vitórias e teve uma derrota em casa com a equipa do André, falou-se muito desse jogo. Ele até nem fez golos nessa partida, mas destacou-se", recordou o treinador de 34 anos, atualmente sem clube depois de ter orientado os seniores do São Pedro da Cova na época passada.

Já como atleta portista, André começou por jogar pelo Padroense (numa espécie de empréstimo) antes de vestir a camisola azul e branca, com a qual foi progredindo sob a orientação do antigo extremo Capucho, que o acompanhou nos juniores, juvenis e como adjunto da equipa B.

Numa fase em que se insistia na falta de pontas-de-lança de referência na seleção nacional, André Silva foi dando nas vistas de quinas ao peito no Europeu de sub-19, em 2014 (cinco golos), e no Mundial de sub-20, em 2015 (quatro). A estreia pela seleção principal ocorreu a 1 de setembro de 2016, diante de Gibraltar.

Pelo meio, o avançado destacou-se na equipa B portista, com 27 golos em 92 jogos, e chegou à equipa principal, primeiro pela mão de Julen Lopetegui, mas de uma forma mais vincada por intermédio de José Peseiro. Apesar do bis na final da Taça de Portugal perdida para o Sp. Braga, não foi a tempo de convencer Fernando Santos a chamá-lo para o Euro 2016, preterindo-o a favor de Éder.
A estreia pela I Liga, em Alvalade, em janeiro de 2016.

Agora, mais de dois anos depois, é intocável nas convocatórias do selecionador e presença assídua no onze nacional. "É como em tudo na vida. Há momentos em que as coisas funcionam melhor, outros em que funcionam pior. No caso dele, finalmente conseguiu arranjar uma equipa em que se consegue enquadrar e um campeonato em que está a conseguir ter sucesso. E está a mostrar que se calhar o problema não era só dele, de não se conseguir adaptar ao contexto italiano. Se calhar há razões que as pessoas desconhecem. Felizmente, para ele, a qualidade está a aparecer agora e as coisas estão a correr-lhe bem na seleção nacional", considerou Alexandre Silva, que estende os elogios a toda a equipa das quinas.

"É fundamental que as pessoas percebam que as coisas não estão a correr só bem a ele, porque os dois últimos jogos da seleção foram fantásticos. O André também está a beneficiar da qualidade da equipa e a conseguir acrescentar. Eu fui um dos principais críticos do que se fazia na seleção mesmo quando se ganhava, mas agora a seleção é outra coisa", rematou, oito anos após ter orientado o atual goleador do Sevilha.






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