E se as bolas de Llorente e Marinho não tivessem entrado?

Golos que tiraram a final da Liga Europa e a Taça ao Sporting

Hoje em dia, Godinho Lopes é, de forma praticamente unânime, considerado pelos sportinguistas como um dos piores presidentes da história do clube. Não só pelo aumento do passivo como pelo insucesso desportivo, que culminou em 2012/13, com a pior época de sempre dos verde e brancos.

Os adeptos leoninos viveram horrores na Liga, onde a equipa passeou durante largos meses na segunda metade da tabela classificativa, terminando a temporada em ascendente (já com Bruno de Carvalho), mas sem evitar o 7.º lugar. A juntar a isto, as eliminações precoces na Taça de Portugal (frente ao Moreirense, que desceria de divisão), Taça da Liga e Liga Europa.

É verdade que o processo eleitoral no qual Godinho Lopes foi eleito, em 2011, foi envolto em polémica, mas durante o mandato, nem tudo foi negro a nível desportivo.

Comecemos pelo defeso. O antigo presidente leonino, com a colaboração de Luís Duque e Carlos Freitas na direção do futebol, contrata Domingos Paciência, um treinador conhecedor do futebol português, que tinha acabado de levar o SC Braga a um inédito 2.º lugar e a uma final da Liga Europa. Parecia a escolha acertada.

Depois, essa troika decidiu dar uma vassourada no plantel, onde abundavam futebolistas em sub-rendimento ou simplesmente sem talento para representar o emblema do leão. Carlos Saleiro, Torsiglieri, Zapater, Grimi, Hélder Postiga, Yannick Djaló e Valdés são alguns exemplos. Para o lugar destes e de outros, vieram futebolistas com provas datas:

• Marcelo Boeck, depois de excelente temporada no Marítimo, prometendo dar luta a Rui Patrício;
• Onyewu, internacional pelos Estados Unidos e com passagem pelo Milan;
• Rodríguez, oriundo do SC Braga, que nas últimas temporadas tinha sido um dos melhores centrais a atuar no campeonato português;
• Insúa, internacional argentino e com passagem pelo Liverpool;
• Rinaudo, internacional argentino que impressionou bastante até à sua lesão;
• Schaars e Elias, médios habitualmente convocados para as seleções de Holanda e Brasil;  
• Carrillo, promessa sul-americana de 20 anos, já internacional pelo Peru;
• Diego Capel e Jeffrén, acabadinhos de ser campeões europeus de sub-21 por Espanha;
• Ricky van Wolfswinkel, avançado com registo assinalável de golos no campeonato holandês e que também marcou muito em Portugal;
• Bojinov, avançado internacional búlgaro e com o selo de Juventus e Manchester City;
• Santiago Arias e Diego Rubio, outras promessas sul-americanas. Duas apostas de futuro.

Jeffrén era uma das grandes promessas do futebol espanhol

Em teoria, tinha sido um grande trabalho no reforço do plantel. E a prática, após um início de 2011/12 tremido, parecia vir a confirmá-lo. Dez vitórias consecutivas em todas as competições e o bom futebol praticado reacenderam a esperança dos sportinguistas, levaram a equipa à Luz (11.ª jornada) com a possibilidade de ascender à liderança e deram o apuramento para os 16 avos de final da Liga Europa logo à 3.ª ronda (acontecimento inédito). Que adepto leonino, por esta altura, por mais pessimista que fosse, não sonhou com a glória?

Entretanto, o Sporting perdeu mesmo o tal jogo da Luz (0-1), apesar de ter discutido o resultado até ao fim. Sem Rinaudo (a contas com uma fratura de tíbia e perónio) e com a quebra da invencibilidade, a equipa ressentiu-se e, em dezembro e janeiro, acumulou vários resultados negativos. Ainda assim, nesse período conseguiu a presença na final da Taça de Portugal. Algo insuficiente para a continuidade de Domingos Paciência, controversamente despedido e substituído por Ricardo Sá Pinto no início de fevereiro.

Embora o desempenho no campeonato se mantivesse intermitente, como reflete o 4.º lugar no final, a campanha na Liga Europa foi muito boa, com a eliminação do Manchester City, nos oitavos, como momento alto.

Os leões, presididos por Godinho Lopes, chegavam ao final de abril a disputar uma presença numa final europeia frente ao Athletic Bilbao e já com o Jamor no horizonte. Depois de um triunfo sobre os bascos em Alvalade, por 2-1, os homens de Sá Pinto, perdiam pelo mesmo resultado em San Mamés, tendo Llorente feito o decisivo 3-1 nos últimos minutos. Três semanas depois, quando nada o fazia prever, Marinho apontou o golo solitário que deu a Taça de Portugal à Académica.

Ao contrário de Anderson Polga, Xandão e companhia, Godinho Lopes não teve culpa nos dois golos. Pergunto-me, até, o que teria acontecido nestes últimos quatro anos e meio no Sporting se aquelas bolas de Llorente e Marinho não tivessem entrado.