segunda-feira, 23 de março de 2015

A ascensão meteórica de Rui Correia

Rui Correia joga no Paços de Ferreira desde o verão de 2017
Formado no histórico Seixal, começou o trajeto no futebol sénior no Zambujalense (concelho de Sesimbra) e rapidamente deu o salto para um emblema de maior nome na Margem Sul, o Amora. Mas conheci-o no Fabril, na III divisão, em agosto de 2012. Logo no primeiro jogo, num amigável de pré-época com o Vitória de Setúbal, me impressionou. Central veloz, ágil, elegante e forte no jogo aéreo. Seria apenas uma boa exibição de alguém que se tinha preparado bem nas férias ou era mesmo craque?

Ao longo da temporada, fui verificando que se tratava mesmo da segunda opção. Fazia dupla com outro central de valor para aquele nível, Marinheiro, que entretanto deu o salto para o Atlético e hoje está no Benfica e Castelo Branco, mas sempre preferi Rui Correia. Considerava-o o mais talentoso e completo.

Curioso, perguntei a alguns sesimbrenses o que pensavam dele, pois tinha representado o Sesimbra nos dois anos anteriores. Surpreenderam-me. Disseram-me que não era muito bem visto porque lá era o filho do treinador, Manuel Correia, que também tinha sido central, destacando-se no Chaves no princípio da década de 1990.

O Fabril desceu de divisão mas eu sabia que o Rui ia subir, restava saber para qual. Foi para a II Liga, onde teve o Portimonense como trampolim para o primeiro escalão. Foi titular do início ao fim da época, tendo inclusivamente apontado três golos.

Depois surgiu o Nacional, uma equipa de meio da tabela da Liga, onde o mediatismo é obviamente maior. Nem preciso de seguir a campanha dos insulares, basta acompanhar o trajeto dos grandes para ficar a par das suas exibições. Depois de um início de temporada em que foi alternando a titularidade, está agora de pedra e cal no onze de Manuel Machado.

Vejo coisas dele que já via no Fabril. Continua a mostrar aquela agilidade, capaz de fazer cortes difíceis como se fosse um polvo a estender o tentáculo e a roubar a bola ao adversário. Continua a ter um bom posicionamento, parecendo ter o feeling de onde vai cair o esférico para conseguir uma interceção preciosa. Lembram-se desta, frente ao Sporting, na 1.ª mão das meias-finais da Taça de Portugal?


Mas ao observar o seu desempenho nesse  e noutros encontros, como diante do FC Porto, no sábado, constato que ainda não está totalmente adaptado ao ritmo da Liga. É algo que, não duvido, a experiência lhe trará. Tem mostrado as características que no início do texto lhe apontei, mas esses jogos que ainda lhe faltam ao mais alto nível não permitem que as exibe durante 90 minutos. É necessária concentração total. Ainda é batido muitas vezes no seu raio de ação, especialmente no jogo aéreo [ver golo de Tobias Figueiredo, no vídeo abaixo]. As exigências são outras, é verdade, mas nada que mais minutos nas pernas e anos de Liga não resolvam.


Também ainda não o vi a mostrar outra das suas qualidades: sair a jogar. Não sei se por indicação do treinador ou por falta de confiança, assim que o vejo com a bola nos pés, despacha-a imediatamente com pontapé para a frente ou passe longo. Quando perder este medo de comprometer e tiver oportunidade, irá revelar essa sua potencialidade, típica de um central moderno, que os clubes grandes gostam de ter nas suas fileiras.

Se já é titular no Nacional, aos 24 anos, então quando estiver mais adaptado às exigências de Liga e se sentir mais confiante, poderá dar mais um salto, continuando uma ascensão que tem estado a ser… meteórica.










4 comentários:

  1. Desconhecia o jogador antes deste chegar ao Portimonense, mas depois de o ver jogar sempre disse que seria um central de 1ª liga! Agora falar é fácil mas no tempo que esteve em Portimão foi um exemplo enquanto jogador,central rápido, bom taticamente, a bola normalmente saia "redondinha" dos seus pés. Jogador a seguir com atenção e não sei se com a s sua qualidades e após melhorar alguns problemas não desempenharia bem a função de Trinco.

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    1. Tenho a ideia de ele ter já desempenhado essa função antes de chegar ao Fabril, mas não tenho a certeza. Nessa função teria de correr muitos mais quilómetros. Estaremos cá para ver

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  2. «As primeiras memórias com uma bola de futebol são do tempo em que o meu pai jogava no Desportivo de Chaves. Lembro-me de ir com ele para o campo de treinos e ficava lá a brincar com a bola. Qualquer miúdo tem o sonho de ser ‘jogador da bola’ e eu não fugi à regra.

    Comecei a jogar nas escolinhas do Seixal, onde estive até aos juniores. O Seixal é um clube mediano com equipas de formação que jogam nos campeonatos distritais de Setúbal contra equipas como o Arrentela ou o Amora. Apesar de haver jogadores com muita qualidade, a visibilidade é reduzida. Como nunca fiz formação num grande nem estive numa divisão onde defrontava equipas grandes como o Benfica ou o Sporting, deixei cair o sonho de me tornar profissional.

    Nunca fui um aluno de excelência, mas tirava boas notas. Os meus pais sempre me disseram para nunca deixar de estudar. O meu irmão sempre gostou de jogar futebol e nunca largou os estudos. Fez todos os anos sem repetir e eu também fui nessa sequência. Fiz o 12.º ano e fui para a faculdade: entrei no curso de Educação Física na Lusófona. Foquei-me nos estudos, mas continuei a jogar futebol por diversão.


    Passei metade do meu primeiro ano de sénior no Zambujalense, de Sesimbra. Acordava às 06h30 da manhã, apanhava o barco para Lisboa e depois o metro para as aulas. À tarde voltava para casa e ao final do dia ia treinar. Ia e voltava numa carrinha que me apanhava na minha zona. Dormia por volta de seis a sete horas por dia, não dava para mais.

    No ano seguinte fui jogar para o Sesimbra, onde estive duas épocas. Saltei da distrital para a III divisão. Foi aí que comecei a ganhar alguma coisa: uns 200 euros. Eu e alguns colegas enchíamos um carro e dividíamos a gasolina. Dava para juntar uns 100 ou 150 euros.


    Quando terminei a licenciatura, comecei um mestrado em Ensino Básico. De manhã ia para a faculdade e à tarde dava aulas a alunos da 1.ª à 4.ª classe numa escola em Camarate. Na altura estava no Fabril Barreiro, onde treinava à noite.

    Acabar o mestrado, concorrer a escolas, continuar a dar aulas, jogar futebol por diversão e estar ligado a um projeto relacionado com atividades físicas era o que projetava para a minha vida.

    Apesar de estar a fazer uma boa época, fui apanhado de surpresa quando o meu agente Paulo Filipe Dias, que começou a acompanhar-me nessa fase, me disse que havia vários clubes interessados em mim. No final da temporada apresentou-me as possibilidades que tinha e fui para o Portimonense.

    Assinei o meu primeiro contrato profissional com quase 23 anos. Sinceramente, achava que era tarde para conseguir alguma coisa. Toda a gente tem um objetivo quando trabalha, mas eu já estava numa fase em que jogava futebol por gosto e por conseguir conciliá-lo com o trabalho.


    A minha vida mudou de um dia para o outro. Tive de interromper o mestrado a meio, passei a ganhar um bocadinho mais e saí de casa, da minha zona de conforto, pela primeira vez na vida. Mais: desde os seis anos que estava habituado a treinar à noite. De repente comecei a ter dois treinos por dia, um de manhã e outro à tarde. Na II Liga joga-se muitas vezes à quarta-feira e ao domingo e eu não tinha a melhor preparação física. Eu, um miúdo que vinha dos campeonatos inferiores… Foram necessários alguns meses até estar no ponto mas, com a ajuda de toda a gente do Portimonense, consegui. Com o tempo, o corpo humano habitua-se.»

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  3. «Se a minha vida já tinha mudado muito, mudou ainda mais quando assinei no ano seguinte, em 2014, pelo Nacional. Chegaram a dizer-me que podia estar a dar um passo maior do que a perna, mas essa questão nunca me atormentou. Se tinha corrido bem da distrital para a 3.ª divisão e da 3.ª para a II Liga, por que razão não haveria de correr bem agora?

    Tal como no Portimonense, precisei de algum tempo para me adaptar à realidade de jogar numa equipa da primeira divisão, onde o jogo é mais rápido e dinâmico e os jogadores tocam menos vezes na bola. Na I Liga, se cometes um erro estás condenado a sofrer um golo. É um campeonato com características muito diferentes. Na II Liga tinha dois ou três segundos para pensar, enquanto agora tenho de antecipar ações e decidi-las num segundo. Quando cheguei ao Nacional, ainda tinha alguns vícios da 3.ª divisão. Aprendi muito no primeiro ano cá. Lembro-me que andava a bater com a cabeça nas paredes por jogar pouco no início, mas hoje reconheço que foi melhor para mim não ter sido logo lançado às feras. Fui entrando de forma progressiva, ao mesmo tempo em que fui aumentando a minha compreensão do jogo.

    Felizmente, tem corrido tudo bem até agora: estou num clube da Liga e já joguei um play-off da Liga Europa. Se há dois anos, quando estava no Fabril, alguém me dissesse que isto iria acontecer comigo, diria que era uma anedota, uma maluquice. Mas aconteceu.»

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