sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

A minha primeira memória de… um jogo entre Portugal e Coreia do Sul

Paulo Bento (hoje selecionador da Coreia) tenta desarmar Park Ji-sung
Falar da minha primeira memória de um jogo entre Portugal e Coreia do Sul é sinónimo de abordar o primeiro duelo entre as duas seleções, mas também significa regressar à infância e recordar o Mundial mais madrugador da história, o de 2002.
 
Normalmente os momentos mais memoráveis do futebol acontecem ao final da tarde ou durante a noite, mas nesse Campeonato do Mundo entrei para a escola às 8 ou às 9 da manhã e já tinha visto Ronaldinho marcar um golaço a David Seaman.
 
E o que dizer dos jogos de Portugal à hora das aulas? Eu disse Aulas? Quais aulas? O que houve foi reunião escolar no salão da escola em torno de uma televisão pequena e com imagem defeituosa. Às 10 da manhã de dia 5 de junho, lá estava tudo na escola a ver o Estados Unidos-Portugal (3-2). Felizmente para professoras e auxiliares que o segundo jogo, frente à Polónia, foi a 10 de junho, feriado (vitória por 4-0).
 
Já o terceiro encontro da fase de grupos, diante da Coreia do Sul, começou durante a hora de almoço, mas acabou com a malta toda reunida no tal salão. Acho que ainda assisti à expulsão de João Pinto (27 minutos) em casa, através de uma televisão a preto e branco enquanto almoçava, mas que terei visto o segundo amarelo a Beto (66’) e o golo decisivo de Park Ji-sung (70’) na escola.



 
À entrada para o encontro entre a coanfitriã Coreia do Sul, de Guus Hiddink, e Portugal, de António Oliveira, a equipa das quinas necessitava de uma vitória para seguir em frente, enquanto aos coreanos bastava o empate. No entanto, no outro jogo do grupo, a Polónia desde cedo se colocou em vantagem de dois golos – o resultado final haveria de ser 3-1 – sobre os Estados Unidos, o que dava às seleções de Coreia do Sul e Portugal a possibilidade de seguirem em frente em caso de (um diplomático) empate. Porém, a impetuosidade da entrada sobre Park Ji-sung que levou à expulsão direta de João Pinto e a forma como a seleção lusa procurou o golo mesmo a jogar com dez fez com que os coreanos fossem atrás de uma vitória que haveriam mesmo de alcançar, através de um golo solitário Park Ji-sung, que recebeu um cruzamento de Lee Young-pyo a partir da esquerda, tirou Sérgio Conceição do caminho com um bonito gesto técnico e fuzilou Vítor Baía. E a jogar com menos dois homens, a seleção lusa mostrou-se incapaz de procurar a tal igualdade que servia para passar aos oitavos de final.
 
“Pronto, acabou tudo. Perdemos ingloriamente a guerra da Coreia. E, no entanto, tudo parecia estar a nosso favor, com a Polónia a ganhar claramente aos Estados Unidos no outro jogo. Ao contrário do que se previa, afinal bastava empatar, ou seja, gerir inteligentemente o jogo, mesmo porque os coreanos também não precisavam de o ganhar e até se mostravam colaborantes. Mas o excesso de zelo de João Pinto, que já na véspera do jogo dera sinal de nervosismo ao defender despropositadamente a titularidade, deitou tudo a perder. Uma disputa de bola a meio-campo e uma falta desnecessária, tão absurda como inaceitável”, podia ler-se numa crónica no Jornal de Notícias.
 
 
 
A Coreia do Sul haveria de chegar às meias-finais do torneio, depois de eliminar de forma bastante controversa Itália e Espanha nos oitavos e nos quartos de final, respetivamente, em partidas que ficaram marcadas por arbitragens polémicas.
 
Ainda assim, os coreanos mostraram ao mundo que tinham muito futebol nas pernas e alguns dos seus jogadores acabaram por dar saltos importantes nos anos que se seguiram: o lateral direito Song Chong-gug trocou o Busan ICons pelo Feyenoord, o lateral esquerdo Lee Young-pyo mudou-se do Anyang para o PSV, o médio defensivo Kim Nam-il transferiu-se do Chunman Dragons para os holandeses do Excelsior, o extremo Park Ji-sung trocou o Kyoto Sanga do Japão pelo PSV e o lateral direito o Cha Du-ri mudou-se do Korea University para o Bayer Leverkusen. Um ano depois, também o avançado Lee Chun-soo saltou do Ulsan Hyundai para a Real Sociedad. Por outro lado, o ponta de lança Ahn Jung-hwan, que jogava nos italianos do Perugia, foi despedido por… marcar o golo que eliminou Itália.




 




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