Pese o excelente trabalho da
Federação Portuguesa de Futebol para melhorar as condições para as seleções
nacionais, para aumentar as oportunidades para os jovens atletas e para
introduzir o vídeo-árbitro, nem tudo é perfeito no organismo liderado por
Fernando Gomes.
Além da inércia para combater
verdadeiramente o clima de crispação e suspeição em que o futebol português está
mergulhado, há que salientar algumas aberrações nos modelos competitivos das
várias provas. Na Taça de Portugal, desde 2015-16 que vigora um sistema de
repescagem, que tem permitido que algumas mãos cheias de equipas derrotadas na
primeira eliminatória possam reaparecer na segunda ronda.
Nesta época, foram 21 as que
foram bafejadas por essa sorte. Entre elas, o Eléctrico de Ponte de Sor, que
depois de ter sido alvo da goleada mais pesada da primeira eliminatória, um 0-7
em casa aos pés do Benfica de Castelo Branco, vai receber o Arouca. Por outro
lado, equipas que foram afastadas nas grandes penalidades, como Oleiros,
Juventude de Évora, 1º Dezembro, Ponte da Barca, Oliveira do Hospital e Paredes,
não viram a sua combatividade premiada pelo capricho do sorteio.
No limite, pode dar-se o caso de
uma equipa derrotada na 1.ª eliminatória vir a vencer a competição, o que talvez
seria inédito a nível mundial. Em certos jogos da segunda ronda, até estarão
frente a frente equipas derrotadas na primeira, como o Coruchense-Olímpico
do Montijo, o que garante desde logo que uma equipa repescada vai estar na
eliminatória em que vão entrar os clubes de I Liga. Não seria inédito, basta
recordar que na
temporada passada o Lusitano Vildemoinhos arrancou na Taça com uma derrota em
casa com o Beira-Mar e mais à frente foi brindado com uma receção ao Sporting.
E vá lá que esta época se colocou um ponto final na participação de equipas satélites,
porque na temporada transata poderiam ter-se defrontado no Jamor o Desp. Chaves
e o… Desp. Chaves Satélite.
Se antes já parecia injusto que
uma equipa ficasse isenta, este novo formato faz-nos sentir saudades desses
tempos, até porque não aparenta ser muito complicado resolver esta aberração. A
medida mais simples, que poderia servir como atenuante, passaria por decidir os
emblemas repescados tendo em conta a combatividade mostrada na primeira
eliminatória e não por sorteio puro, mas ainda assim é possível fazer melhor.
É possível fazer regressar as isenções
ou até mesmo alargar a prova. Atualmente são 144 as equipas participantes, mas
não assim há tanto tempo, quando havia III Divisão, chegavam a superar as 170.
E há cerca de década e meia eram mais de 200. Em 2019-20, para que não houvesse repescagens
ou isenções, teriam de ser 186, ou seja, 144 mais 42 que dariam origem a outras
21 equipas apuradas para a segunda ronda.
Tendo em conta que são 22 as
associações distritais, três das quais dos Açores, as contas até ficariam
simplificadas, pois seriam praticamente mais duas equipas por associação a
entrar na prova rainha do futebol português. E essas vagas não teriam de ser
exclusivamente apuradas através do mérito desportivo, mas também poderia entrar
em campo a premiação do fair play,
como já aconteceu na Taça UEFA/Liga Europa entre 1995 e 2015.
O presente envenenado do Campeonato de Portugal
Em meados de maio deste ano, já
se conheciam 16 dos 18 clubes que iam competir na II Liga em 2019-20. Esses 16,
os três que desceram da I Liga e 13 que permaneceram no segundo escalão, foram
construindo os respetivos plantéis tendo em conta a competição em que iam jogar
na nova época, calendarizando os estágios e os jogos de pré-temporada.
Só um mês depois é que Casa
Pia e Vilafranquense garantiram a subida do Campeonato de Portugal à II
Liga, sendo que a cerca de uma semana do arranque dos trabalhos de pré-época em
grande parte dos clubes, a 23 de junho, ainda tinham de disputar uma final. Como
são dois estreantes nas ligas profissionais, tiveram de se reorganizar para aprovar
a constituição de uma sociedade com os direitos desportivos da equipa sénior
(SDUQ ou SAD), garantir que jogariam como visitados num estádio com as condições
exigidas para a II Liga e ainda construir uma equipa talhada para as exigências
do segundo patamar do futebol nacional numa altura em que os concorrentes já
tinham o plantel muito bem composto. E isto sem férias e a contrarrelógio.
Como seria de prever, estão a
sentir bastantes dificuldades neste arranque de temporada. A necessitar de casas
emprestadas, o Casa
Pia tem jogado em Mafra e o Vilafranquense em Rio Maior e ambos os conjuntos
estão nos quatro últimos lugares da tabela classificativa. Onde mora a verdade
desportiva?
Também aqui é possível fazer
melhor. Se pensarmos que atualmente os dois primeiros classificados das quatro séries
do Campeonato de Portugal se apuram para a fase de promoção, apurar apenas os
vencedores das séries anteciparia as decisões em duas semanas, o que seria bem
mais aceitável. E promover diretamente os vencedores das séries à II Liga faria
com que o todos os futuros concorrentes terminassem a época e começassem a nova
temporada sensivelmente na mesma altura.
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