quinta-feira, 9 de maio de 2019

Equipamento berrante não explica derrota. Mas porque o Barcelona joga de verde?

Barcelona apresentou-se em Anfield de verde fluorescente
O que é que o Barcelona clube, Barcelona cidade ou a Catalunha têm que ver com verde fluorescente? Pouco ou nada. Ainda assim, foi essa a cor escolhida para o equipamento alternativo dos blaugrana, que foram campeões europeus nas duas épocas em que tinham um equipamento idêntico como secundário, em 2005/06 e 2014/15. Esta terça-feira, com o Liverpool, e de novo com estas camisolas que nada tinham de blaugrana, Messi e companhia sofreram uma das maiores humilhações da sua história, goleados 4-0 pelo Liverpool.

Há 13 anos, com Ronaldinho como grande figura, secundado por Deco e Eto'o, os catalães até se apresentaram assim no Estádio da Luz, num jogo dos quartos-de-final da Liga dos Campeões que terminou empatado a zero. Há quatro anos, visitaram Manchester City, Paris Saint-Germain e Bayern Munique de verde fluorescente na triunfante caminhada para a final de Berlim, onde conquistaram pela última vez Champions.

Mas nesta época, houve duas sem três. Tudo parecia encaminhado depois da vitória por 3-0 em Camp Nou sobre o Liverpool, mas a derrota de terça-feira por 0-4 em Anfield atirou Messi e companhia para fora da competição, às portas da final de Madrid. Nem parecia o grande Barcelona que esteve na cidade dos Beatles, tanto pelo fraco desempenho como pela cor das camisolas que em nada está relacionada com o clube.

Será que a ausência da tradicional camisola blaugrana retirou receio aos jogadores do Liverpool? José Augusto não acredita. "Custa-me a acreditar nessas coisas, mas que às vezes acontecem realmente acontecem. A eliminatória mais estranha que vivi foi uma em que ganhámos na Holanda ao Ajax e perdemos na Luz pelo mesmo resultado (1-3) e acabámos eliminados por moeda ao ar, mas os equipamentos eram os tradicionais. Quando ganhámos a final de 1961 ao Barcelona, as duas equipas jogaram com os equipamentos normais, e ao Real Madrid também. Não me lembro de um jogo em que isso pudesse ter tido alguma influência", crê a antiga glória benfiquista, 82 anos, contactado pelo DN, ele que esteve presente nas duas Taças dos Campeões Europeus ganhas pelo Benfica (1960/61 e 1961/62). "Penso que isso não altera a forma de jogar nem o comportamento dos próprios jogadores", frisou.
Samuel Eto'o e Simão no Benfica-Barcelona de 2005/06

"Barcelona tem necessidade maior de preservar valores"

Ainda assim, para Pedro Dionísio, diretor da pós-graduação de gestão e marketing no desporto do INDEG-ISCTE, o Barcelona devia ter "uma atenção especial" às cores escolhidas para o equipamento alternativo. "Já tive a oportunidade de fazer uma visita de estudo ao Barcelona. Diria até que, por maioria de razões, deveria ter uma atenção especial, porque o seu slogan é Més que un club [mais do que um clube]. O Barcelona é um representante da nacionalidade da Catalunha, uma região que reclama autonomia, mesmo por aqueles que não defendem a independência. Pela rivalidade com o Real Madrid e pelo confronto com o poder central espanhol, há uma necessidade maior de preservar valores do que noutros clubes", vincou o professor.

No entender do especialista em marketing desportivo, "há uma pressão grande das marcas de material desportivo que querem fazer algo diferente", mas considera que há alternativas. "Há formas de não perder valores tradicionais, como o equipamento Stromp do Sporting e recentemente um equipamento Retro da seleção baseado no que foi utilizado no Mundial 1966. Acho que é possível fazer diferente sem quebrar relação com valores do clube e neste caso da região", acrescentou.

Por outro lado, a escolha da cor por parte das marcas têm que ver sobretudo com o mercado internacional e não tanto com as raízes de cada clube, acredita Pedro Dionísio. "A Nike é uma marca americana e as coisas são vistas a uma escala internacional. Hoje o mercado do Barcelona já não é o de Espanha, é o mercado global. A maior parte das camisolas são vendidas não na Catalunha, mas a nível internacional. Os adeptos da base de apoio tradicional do Barcelona já todos têm em casa uma camisola ou duas. O mercado que compra, que está na China, no Japão, na Coreia e na Indonésia, é completamente diferente e não está preocupado com as questões regionalistas. Essas pessoas são mais voláteis, que se calhar são do Barcelona pelo Messi e não pelo clube em si, mas se o Messi for para o Manchester City passam a gostar do Manchester City. A relação é completamente diferente", explicou o diretor de uma pós-graduação que já contou com alunos como Pedro Barbosa, Ricardo Sá Pinto e Helton.







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