quinta-feira, 12 de julho de 2018

Bélgica já foi campeã do mundo... antes de haver Mundial

A histórica seleção belga campeã olímpica em 1920
Apenas Brasil (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002), Alemanha (1954, 1974, 1990 e 2014), Itália (1934, 1938, 1982 e 2006), Argentina (1978 e 1986), Uruguai (1930 e 1950), Inglaterra (1966), França (1998) e Espanha (2010) foram as únicas seleções a vencerem o Campeonato do Mundo. Mas a Bélgica também já foi campeã mundial... antes de haver Mundial.

Quando a FIFA ainda não organizava a competição, em 1920, os belgas venceram em Antuérpia o torneio de futebol dos Jogos Olímpicos, a principal competição de seleções na altura e considerada o antecedente do Campeonato do Mundo. "Este torneio é, na verdade, único em termos de competição. Reuniu as quinze melhores seleções do mundo, em representação de todos os países que praticam futebol. Nunca tantos futebolistas se tinham encontrado no mesmo torneio", relatou o diário desportivo francês L'Auto (ancestral do L'Equipe), num excerto reproduzido no domingo pelo Le Monde.


O futebol entrou no programa olímpico dos Jogos de 1900, em Paris (França), e em 1904, em St. Louis (Estados Unidos), mas foi disputado por clubes e não por seleções. As seleções nacionais só entraram em cena em 1908, em Londres (Inglaterra), mas somente em 1920, em Antuérpia (Bélgica), é que acolheu uma seleção não europeia, o Egito. Ou seja, a Bélgica venceu o primeiro grande torneio de dimensão internacional.

A falta de comparência da Polónia e o abandono da Checoslováquia

Catorze equipas participaram no torneio, mas eram para ser 15, porque a Polónia, que tinha agendado um jogo precisamente com a Bélgica, faltou ao encontro devido à Guerra Polaco-Soviética, que decorreu entre fevereiro de 1919 e março de 2021.

Assim, tal como a isenta França - precisamente a adversária desta terça-feira nas meias-finais do Mundial 2018 -, os belgas passaram diretamente para os quartos-de-final, etapa em que bateram a Espanha por 3-1. Dois dias depois, venceram a vizinha Holanda nas meias-finais, por 3-0.

O penálti que deu o 2-0 à Bélgica na final
Na final, a Bélgica defrontou a Checoslováquia perante 30 mil espectadores, mas o encontro durou apenas 40 minutos. Com o resultado em 2-0 favorável aos anfitriões, os jogadores checoslovacos abandonaram o relvado depois de o árbitro inglês John Lewis - que já tinha dirigido o duelo entre Bélgica e Holanda nas meias-finais - ter expulsado o lateral Karel Steiner - apenas verbalmente, pois ainda não existiam cartões vermelhos - por alegada agressão a Robert Coppée, autor do primeiro golo, apontado de grande penalidade ao sexto minuto - Larnoe aumentou a vantagem aos 30'.

"Seguiu-se uma luta. O público invadiu o relvado, mas a polícia interveio e os jogadores checos saíram sob a sua proteção", conta o L'Auto. Devido a este desfecho, foi atribuída a medalha de ouro aos belgas, enquanto os checos foram desqualificados, apesar de terem protestado o jogo.

A estrela... invisível

A FIFA não reconheceu o título olímpico da Bélgica como título mundial, mas permitiu que o Uruguai utilizasse duas estrelas adicionais nos equipamentos devido às vitórias nos Jogos de 1924 e 1928, estimando que esses torneios tinham "o mesmo valor do Campeonato do Mundo". Os belgas queriam ter direito a igual privilégio, mas a entidade que rege o futebol mundial entende que o mesmo não se deve aplicar aos Jogos anteriores a 1924. A primeira edição do Mundial, recorde-se, remonta a 1930.
A invasão de campo após os protestos checoslovacos

Curiosamente, Portugal esteve presente num dos tais torneios olímpicos considerados com o mesmo valor de um Mundial, em 1928, tendo sido eliminado nos quartos-de-final pelo Egito (1-2), depois de ter afastado Chile (4-2) e Jugoslávia (2-1).

Agora, depois da derrota com a França nas meias-finais do Mundial 2018, os Diabos Vermelhos já sabem que vão ter de esperar pelo menos mais quatro anos para finalmente conseguirem uma estrela para as camisolas da seleção.

As goleadas à moda antiga e a queda da bicampeã

A primeira eliminatória do torneio olímpico de 1920 contou com duas goleadas à moda antiga: os 9-0 da Suécia à Grécia e os 7-0 da Checoslováquia à Jugoslávia. "Mas foi a eliminação surpresa do Reino Unido que fez manchetes", pode ler-se na página do site da FIFA dedicada ao torneio, a propósito da queda ante a Noruega (1-3) da então bicampeã olímpica, vencedora dos torneios de 1908 e 1912 - em 1916 não se realizou, devido à Primeira Guerra Mundial.

Contudo, foi nos quartos-de-final que ocorreu o grande jogo da competição, um 5-4 favorável à Holanda diante da Suécia, descrito pelo L'Auto como "uma partida emocionante e esplendidamente jogada".


Outra das peripécias do torneio foi a fórmula encontrada para definir quem iria receber as medalhas de prata e de bronze. A Holanda e a França foram as semifinalistas, mas os gauleses já tinham voltado para casa aquando da final. Assim sendo, foi organizado um pequeno torneio entre as quatro equipas eliminadas nos quartos-de-final (Itália, Espanha, Noruega e Suécia) e a Holanda. Acabaram por ser os espanhóis a vencer a prata, ao bater por 3-1 a Holanda, que ficou com o bronze, num encontro sentenciado por Pichichi, goleador que hoje dá nome ao título de melhor marcador da liga espanhola.










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