domingo, 3 de janeiro de 2016

Bonfim e segundas partes continuam a ser fantasmas

Suk voltou a apontar um grande golo

Liga | Vitória 1-1 SC Braga


O Vitória tem estado, sem margem para dúvidas, a realizar uma excelente temporada. Mas a sensação de quem vê os jogos dos sadinos é a de que nada devem a sorte, pois pelo futebol produzido tinham condições para ter mais uma dezena de pontos.

 É verdade que o adversário se chamava SC Braga, mas a alergia ao Bonfim parece não ter cura nos setubalenses. Em oito jogos realizados no seu reduto na Liga, apenas venceram um (diante do Estoril), tendo somado seis empates e perdido por uma vez, ainda que frente ao Benfica.


Mas há mais. Acredite-se ou não, a contabilidade indica que se todos os jogos do campeonato português terminassem ao intervalo, o Vitória seria líder – com 32 pontos, mais um do que o Sporting e mais do que o FC Porto. Mas como os jogos têm 90 minutos e não 45, apenas é 5.º, com 22 pontos amealhados.

Na partida frente aos minhotos, os dois fantasmas atacaram, tanto o do Bonfim como o das segundas partes. E ainda podemos juntar um terceiro: o das carambolas. Depois dos autogolos de Rúben Semedo diante do Vitória de Guimarães e o de Ricardo diante do Benfica, no golo da turma de Paulo Fonseca a bola ainda embateu no central cedido pelo Sporting antes de bater no fundo das redes.

São dados que indiciam falta de experiência e maturidade competitiva, mas também alguma infelicidade. Mas analisar o jogo apenas por aí é demasiado redutor.

Os homens de Quim Machado adiantaram-se no marcador bem cedo, por Suk, numa execução soberba de um livre direto. E a partir de então, o SC Braga assumiu o domínio do jogo, ainda quem nem sempre o conseguisse controlar.

Do Minho viajou até Setúbal uma equipa bem organizada em todos momentos do jogo, que sabe o que fazer quando tem a bola, que é capaz de jogar durante um largo tempo no meio-campo adversário, que chega com muitas unidades ao último terço e que, quando perde o esférico, tem capacidade para o recuperar rapidamente. Com dois falsos extremos (Rafa e Alan) muito presentes em zonas interiores, laterais projetados no ataque e mobilidade no eixo ofensivo, os bracarenses foram baralhando as marcações dos vitorianos.
Rafa e Goiano a baralhar marcações a William e Costinha
 
Ruca confuso com Alan no meio, com Wilson solto na direita
William Alves não teve andamento para a velocidade de Rafa e para anular a profundidade de Marcelo Goiano; Ruca ficou confundido com as movimentações de Alan para dentro e não sabia se haveria de marcar o extremo ou Baiano; Dani não teve pedalada para chegar primeiro à bola ou pelo menos encurtar o espaço ao portador do esférico; e Costinha e André Claro foram vigiando quem sobrasse nos flancos, faltando-lhes uma referência em particular.

Aos bracarenses só faltava o instinto matador para chegar ao golo. Acabou por empatar o encontro, por Marcelo Goiano, já no segundo tempo, mas com Rúben Semedo a trair Raeder.

Percebendo que era necessário reforçar o meio-campo, para garantir superioridade numérica nessa zona, Quim Machado lançou em campo Paulo Tavares, a meu ver o jogador do Vitória mais subvalorizado do momento. O médio português entrou bem no jogo, deixando a equipa mais equilibrada e acrescentando ainda qualidade de passe. A partir de então, o SC Braga deixou de criar perigo.


Ficha de jogo


Liga – 15.ª jornada

Estádio do Bonfim, em Setúbal (3.227 espectadores)


Vitória (4x4x2): Raeder; William Alves, Fábio Pacheco, Rúben Semedo e Ruca; Dani c; Costinha, André Horta (Arnold, 75) e André Claro (Hassan, 90+2); Suk e Vasco Costa (PauloTavares, 65)

Suplentes não utilizados: Miguel Lázaro (GR), Gorupec, Hassan, Alexandre e Miguel Lourenço

Treinador: Quim Machado

Disciplina: Cartão amarelo a Ruca (54) e André Horta (60)


SC Braga (4x4x2): Kritciuk; Baiano, Boly, Ricardo Ferreira e Marcelo Goiano; Alan c, Vukcevic (Filipe Augusto, 89), Luiz Carlos e Rafa (Pedro Santos, 82); Wilson Eduardo (Rui Fonte, 63) e Stojiljkovic

Suplentes não utilizados: Matheus (GR), André Pinto, Joan Román e Mauro

Treinador: Paulo Fonseca

Disciplina: Cartão amarelo a Vukcevic (80) e Boly (87)


Árbitro: Rui Costa (AF Porto), assistido por João Silva e Tiago Costa, com Rui Oliveira como 4.º árbitro


Golos


1-0, por Suk (4). Num livre direto em zona frontal, ligeiramente mais descaído para o lado esquerdo, Suk rematou forte e colocado para o ângulo superior esquerdo (na perspetiva do coreano), fora do alcance para Kritciuk.

1-1, por Marcelo Goiano (62). Vukcevic encontrou Marcelo Goiano no flanco esquerdo e este passou por William Alves como quis e viu o seu remate desviar em Rúben Semedo e entrar na baliza de Raeder.




Estatísticas (Vitória-SC Braga)


Posse de bola (%): 38-62

Ataques: 25-46

Remates: 8-16

Cantos: 4-7

Faltas cometidas: 23-13

Foras de jogo: 0-4



Apreciação individual


Raeder: Regressou à titularidade, aproveitando a ausência do lesionado Ricardo. Já se sabe que não é grande espingarda a jogar com os pés, mas nunca facilitou, procurando sempre bombeá-la para a frente, se possível na direção de um colega. Teve saídas pouco ortodoxas mas eficazes de entre os postes para aliviar cruzamento aos 16’ e 90+1’. Assinou uma excelente intervenção a remate de Marcelo Goiano (38’) mas no canto que sucedeu, foi incapaz de socar a bola na sua própria área de baliza.

William Alves teve uma tarde bastante complicada
William Alves: Mostrou alguma dureza de rins para acompanhar a velocidade de Rafa e as constantes movimentações do ataque bracarense. A nível defensivo terá tido uma das piores exibições da temporada. No lance do golo dos minhotos, Marcelo Goiano passou por si como faca quente em manteiga (62’). Ofensivamente, apareceu bem ao primeiro poste para cabecear com perigo mas ao lado, na sequência de um canto executado na direita (56’).

Fábio Pacheco: Voltou ao centro da defesa, posição na qual começou a temporada mas que não é a sua. Esteve em bom plano, fazendo com que os adeptos esquecessem a ausência de Frederico Venâncio.

Rúben Semedo: À imagem do que tinha acontecido diante do FC Porto (e ao contrário do que sucedeu frente ao Benfica), voltou a apontar uma das suas melhores exibições num jogo grande. Esteve concentrado e foi somando bons passes e cortes importantes e bem conseguidos. Não merecia que no lance do golo do SC Braga a bola tabelasse em si e traísse Raeder (62’).

Ruca: Aproveitar a suspensão de Nuno Pinto para regressar à titularidade e logo na sua posição de raiz: lateral-esquerdo. Alan deixou-o confuso e complicou-lhe a marcação ao fugir tantas vezes da ala para a zona central. Às tantas, já não sabia se havia de ficar de olho no capitão do SC Braga ou em Baiano, lateral que atacava pelo seu lado. Foi amarelado aos 54’ por travar em falta Alan, que conduzia um contra-ataque. Quando foi solicitado a fazer cruzamentos, fê-lo com qualidade.

Dani: Foi capitão de equipa pela primeira vez esta época, em jogos do campeonato. As movimentações de Alan e Rafa deixaram-no baralhado, chegou muitas vezes atrasado às bolas divididas e na maioria das vezes deu bastante espaço ao portador da bola.

Costinha: Empenhou-se bastante a nível defensivo, apesar das dificuldades sentidas para travar as subidas de Marcelo Goiano e para apoiar William Alves no acompanhamento a Rafa. As preocupações a defender fizeram com que se soltasse pouco no apoio ao ataque.

André Horta: Bom de bola, tentou sempre que a equipa jogasse mais vezes de forma apoiada, em vez de se colocar o esférico diretamente na frente. Teve a preocupação de cometer faltas sempre no meio-campo ofensivo, longe da sua baliza e com o propósito de cortar os ataques adversários pela raiz e arrefecer um pouco o ritmo de jogo. Com naturalidade, depois das várias infrações, foi amarelado aos 60’, ao travar Vukcevic a meio-campo. Foi substituído aos 76 minutos, quando já estava muito desgastado.

André Claro: Colocado no flanco esquerdo, procurou sempre fletir para a zona interior e deixar o corredor lateral para Ruca. Num desses movimentos, rematou com perigo, mas ao lado, aos 41 minutos. Também esteve perto de marcar aos 77’, com um disparo de fora da área, mas mais uma vez não acertou na baliza.

Vasco Costa não conseguiu impor a sua qualidade
Suk: Voltou a deliciar os adeptos do Vitória e do bom futebol com mais um golo extraordinário, numa soberba execução de um livre direto. Esteve perto de bisar aos 45’, ao rematar ao lado na tentativa de aproveitar uma saída de Kritciuk da baliza, e aos 52’, ao disparar contra a malha lateral.

Vasco Costa: Protagonizou um momento quente no jogo, quando um cabeceamento seu obrigou Kritciuk a segurar a bola apenas em cima da linha de baliza (53’). Lutou muito, mas foram raras as vezes em que conseguiu impor a sua qualidade.

Paulo Tavares: Reforçou o meio-campo, face às dificuldades de Dani em equilibrar a equipa defensivamente e à superioridade numérica dos minhotos na zona central, uma vez que Alan e Rafa apareciam muito pelo meio. Entrou bem no jogo. Além de ter melhorado a consistência defensiva do coletivo, ainda acrescentou qualidade de passe. Arrancou um cartão amarelo a Vukcevic (81’), por falta a meio-campo.

Arnold: Refrescou o ataque, dando-lhe alguma velocidade. Não foi a tempo de fazer mais na busca dos três pontos. 

Hassan: Tocou uma vez na bola. Ajudou a fechar o corredor esquerdo durante minuto e meio.



Outras notas


O guarda-redes sadino Ricardo contraiu uma luxação na clavícula direita na partida com o Tondela, a 20 de dezembro, e por isso desfalcou a equipa neste encontro, assim como irá desfalcar diante de Sporting e Paços de Ferreira, nas próximas jornadas.

Também na partida diante do Tondela, Frederico Venâncio sofreu um traumatismo no tornozelo direito, e limitou-se a fazer tratamento nos dias que procederam esse encontro. Acabou por falhar a receção ao SC Braga devido a uma microrrotura no gémeo.

Nuno Pinto viu o sétimo amarelo na Liga no jogo contra os tondelenses, e cumpriu castigo frente ao SC Braga. Já Rúben Semedo, que não jogou frente ao Tondela por estar castigado, regressou às opções de Quim Machado.

Do lado bracarense, o lote de ausentes é composto pelos lesionados Ñiguez, Crislan e Rodrigo Pinho e pelo castigado Hassan.

O avançado do Lusitano de Évora (Divisão de Elite da AF Évora), Miguel Rosado, 20 anos, foi chamado a fazer dois treinos no Vitória a 21 e 22 de dezembro.

O jovem avançado iraniano de 18 anos Reza Chaab, do Naft Masjed Soleyman, está a ser negociado pelos setubalenses.

Extremo de 24 anos do Pedras Rubras, João Amaral, está referenciado pelo Vitória.

Génova (Itália), Angers (França) e Nuremberga (Alemanha) juntaram-se à lista de interessados por André Claro.

Hoffenheim e Mainz (ambos da Alemanha) têm Suk em ponto de mira. Contudo, não se mostraram agradados com os três milhões de euros fixados pelos sadinos.

O central senegalês do Vitória, François, deverá deixar o clube em janeiro para assinar por um emblema da Arábia Saudita.

Pela segunda vez nesta época, o plantel do Vitória entrou em estágio na véspera de um jogo em casa.

André Pinto e Rui Fonte regressaram a Setúbal, onde representaram o Vitória em 2009/10. Na mesma situação esteve Pedro Santos (foi assobiado), que alinhou nos sadinos em 2012/13.

Lukas Raeder regressou aos convocados quatro jogos depois, e logo na condição de titular.

Costinha estava em risco de exclusão, mas não viu qualquer cartão amarelo.

Sunderland, Aston Villa e Southampton (Inglaterra), Génova e Atalanta (Itália), Montpellier (França), Kansas City (Estados Unidos), Celtic (Escócia), Bayern e Estugarda (Alemanha) e Arouca estiveram representados no Bonfim, em missão de espionagem.
  

Números


Frederico Venâncio era o único totalista do Vitória para entrada jornada, com 1260 minutos. Agora já nem é o mais utilizado dos sadinos na Liga, uma vez que André Claro (1288 minutos) e Suk (1276) o ultrapassaram.

O Vitória aumentou para cinco o número de jogos consecutivos (em todas as competições) sem ganhar no Bonfim. O último triunfo (e único nesta temporada) foi a 2 de outubro, diante do Estoril(1-0).

Em 103 jogos entre as duas equipas para a Liga, a vantagem é dos bracarenses: 46 triunfos, 25 empates e 32 desaires. Já no Bonfim a vantagem é dos sadinos: 25V, 13E e 14D.

A última vitória dos setubalenses sobre o SC Braga para o campeonato já foi há quase sete anos: a 17 de fevereiro de 2008, por 3-2, em pleno Estádio Municipal de Braga. O derradeiro do Bonfim foi na primeira volta dessa temporada 2007/08, a 14 de setembro de 2007 (3-1).

Na temporada transata, o Vitória só atingiu os 22 pontos à 25.ª jornada e em 34 rondas ficou-se pelos 24 golos marcados (já tem 27 em 2015/16).

Os sadinos já não somavam 22 ou mais pontos à 15.ª jornada desde 2007/08 (24), não saíam dessa ronda com 22 ou menos golos sofridos desde 2010/11 (20) e não tinham tantos golos (27 ou mais) marcados à 15.ª jornada desde 1987/88 (27).

Com nove golos e quatro assistências, Suk esteve envolvido diretamente em 13 dos 27 golos do Vitória na Liga.



Outras análises











Vitória – Rio Ave (Oitavos de final da Taça de Portugal): http://davidjosepereira.blogspot.pt/2015/12/o-vilao-nao-virou-heroi-mas-nao-merecia.html



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