segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Pressão do Vitória deixou Belenenses de olhos em bico

Suk foi constante dor de cabeça para Tonel e companheiros

Liga | Belenenses 0-3 Vitória


Se há algo que todos os futebolistas sonham fazer quando entram em campo é marcar golos e, num plano ligeiramente inferior, fazer assistências. Mas quando essa vontade se sobrepõe aos interesses do coletivo, um jogo tem tudo para dar para o torto. Os jogadores reservam-se para as missões ofensivas, tornam-se egoístas e não veem com bons olhos ter de correr para trás, ter de defender.

Não foi nada disso do que aconteceu com a equipa do Vitória, que no Restelo, mais uma vez, mostrou a entrega de um conjunto que vai até aos limites por aquilo que o seu treinador lhe pede. E se há coisa que Quim Machado tem pedido em todos os jogos, mesmo quando o adversário se chama FC Porto e o palco se chama Estádio do Dragão, é que os seus jogadores pressionem alto e que condicionem a primeira fase de construção do seu adversário.



Início do 0-1: Pressão de Arnold sobre Filipe Ferreira
É uma tarefa cansativa e muitas vezes frustrante para quem o faz, mas pode dar frutos e, neste caso, deu mesmo! Basta ver como se iniciaram as jogadas que deram os dois primeiros golos aos sadinos [ver imagens ao lado]. No 0-1, Arnold não desistiu de morder os calcanhares a um Filipe Ferreira que, na tentativa de alívio, deixou a bola em André Claro. No 0-2, Gonçalo Brandão, pressionado, entregou o esférico ao mesmo André Claro.

Início do 0-2: Pressão de André Horta sobre Gonçalo Brandão
Aos 18 minutos, os setubalenses já tinham concretizado os primeiros remates de que dispuseram, colocando-se em situação confortável. Mas não se pode falar somente em eficácia, afinal, jogaram ao ataque começando por... defender, sim, mas logo no meio-campo ofensivo. É diferente do que estacionar o autocarro e aproveitar contra-ataques.

Se antes dos golos, os vitorianos estavam a sentir alguma dificuldade a meio-campo, onde o Belenenses criava superioridade numérica e conseguia fazer a diferença por intermédio de Carlos Martins, com o passar do tempo foram-se tornando mais compactos. Arnold e Ruca aproximaram-se de Fábio Pacheco e André Horta e os homens de Quim Machado passaram a defender melhor.

Apesar dos dois tentos de vantagem, o Vitória já tinha pago bem caro alguns deslizes em segundos tempos anteriores. Desta feita não aconteceu. Tornou-se menos pressionante, baixou as linhas e foi basculhando de um lado para o outro do campo. Sem soluções, os de Belém acabaram por cair na armadilha e o ritmo arrefeceu, beneficiando os sadinos.

Mas para desfazer qualquer dúvida que ainda pudesse existir e até para eliminar os fantasmas dos 2-2, Suk deu a estocada final, deixando definitivamente os adeptos azuis de olhos em bico. Bastante inspirado (dois golos e uma assistência), o avançado coreano foi a figura maior de um encontro que marcou o primeiro desaire caseiro do Belenenses de Ricardo Sá Pinto, que merecidamente – jogadores em sub-rendimento e abordagem superficial ao futebol do Vitória – começa a ser contestado.



Ficha de jogo


I Liga – 12.ª jornada

Estádio do Restelo, em Lisboa (4.161 espectadores)


Belenenses (4x2x3x1): Ventura; André Geraldes, Tonel, Gonçalo Brandão c, Filipe Ferreira; Rúben Pinto (Traquina, 60), Ricardo Dias; Sturgeon (Tiago Caeiro, int.), Carlos Martins (Tiago Silva, 69), Kuca; Luís Leal

Suplentes não utilizados: Filipe Mendes (GR), João Afonso, João Amorim e André Sousa

Treinador: Ricardo Sá Pinto

Disciplina: Cartão amarelo a Gonçalo Brandão (56) e Carlos Martins (63)


Vitória (4x1x3x2): Ricardo; William Alves, Frederico Venâncio c, Rúben Semedo, Nuno Pinto (Gorupec, 88); Fábio Pacheco; Arnold, André Horta (Costinha, 72), Ruca (Dani, 62); Suk e André Claro

Suplentes não utilizados: Miguel Lázaro (GR), François, Elhouni e Paulo Tavares

Treinador: Quim Machado

Disciplina: Cartão amarelo a Rúben Semedo (53) e Ricardo (63)


Árbitro: Fábio Veríssimo (AF Leiria), assistido por Paulo Soares e Pedro Felisberto e com João Mendes como 4.º árbitro



Golos


0-1, por Suk (15). Filipe Ferreira, pressionado por Arnold, aliviou a bola onde estava André Claro. Este olhou para a área e cruzou milimetricamente para Suk, que com um golpe de cabeça entre Tonel e Rúben Pinto, colocou o esférico ao segundo poste, fora do alcance de Ventura.

0-2, por André Horta (18). Gonçalo Brandão, pressionado, entrega a bola em zona delicada a André Claro. Este passou-a a Suk e o coreano, por sua vez, desmarcou André Claro, que com muita calma finalizou certeiro.

0-3, por Suk (60). Nuno Pinto combinou com Ruca pelo lado esquerdo, conseguiu fugir à marcação do recém-entrado Traquina e cruzou rasteiro para a zona de finalização onde Suk, completamente à vontade, apareceu para marcar.




Estatísticas (Belenenses-Vitória)

Posse de bola (%): 59-41

Remates: 12-5

Cantos: 5-3

Faltas cometidas: 18-23

Foras de jogo: 2-1



Apreciação individual


Ricardo: Tarde de pouco trabalho. Esteve muito bem ao lançar as transições, pontapeando a bola na direção de Suk. Foi amarelado por pedir algo mais ao árbitro depois de este ter apenas amarelado Carlos Martins pela entrada dura sobre André Horta (63’).

William Alves: Travou um duelo intenso com Kuca, mas quase sempre sem deixar o cabo-verdiano desequilibrar. No segundo tempo então, o extremo belenense desapareceu do jogo. Não deu profundidade, mas a equipa colocou-se numa posição confortável tão cedo que também não foi necessário.

Frederico Venâncio: Belíssima exibição do capitão, sempre muito concentrado e bem posicionado. Esteve muito perto de marcar aos 76 minutos, com um bom cabeceamento, mas Ventura, com uma belíssima intervenção, negou-lhe o golo.

Rúben Semedo: Assinou, provavelmente, a melhor exibição da temporada até há data. Ágil e imponente no jogo aéreo, esteve irrepreensível sobretudo na segunda parte, tendo tido aqui e ali as suas desconcentrações, desta vez desculpáveis. Foi amarelado aos 63 minutos, por entrada imprudente sobre Tiago Caeiro. Aos 80’ um corte defeituoso permitiu que Luís Leal atirasse à trave (80’).

Nuno Pinto: Sempre muito eficiente, somou a terceira assistência da temporada ao servir Suk no terceiro golo (60’). Foi o homem das bolas paradas. Saiu já na reta final do encontro, com queixas musculares (88’).

Fábio Pacheco: Não começou muito bem o jogo, pois sentiu dificuldades para lidar com as movimentações e qualidade técnica de Carlos Martins. Com o tempo, foi acertando a marcação, beneficiando também da destabilização mental do internacional português. Foi um lutador incansável a meio-campo e ainda participou no início de construção das jogadas de ataque.

Arnold: Desta vez não marcou, mas voltou a estar muito bem. Foi uma autêntica seta no corredor direito, fazendo da velocidade a sua grande arma. A sua incansável pressão obrigou Filipe Ferreira a jogar mal, que é como quem diz, a oferecer a bola a André Claro na origem da jogada do 0-1 (15’). Conduziu ainda um contra-ataque que, na altura, podia ter dado o terceiro golo, aos 54 minutos, mas André Geraldes acabou por o evitar. Tentou ainda surpreender Ventura com um forte remate de longe, mas o guardião respondeu com uma defesa a dois tempos (86’).

Lágrimas de alegria de André Horta
André Horta: Foi uma das surpresas do onze, aparecendo no lugar de Dani. Aproveitou a oportunidade ao faturar pela primeira vez como profissional (18’), não conseguindo evitar as lágrimas por se tratar de um feito tão especial. Convém dizer que no início da sua jogada, foi também devido à sua pressão que Gonçalo Brandão acabou por entregar a bola a André Claro.
Muito influente nas transições, quer defensivas como ofensivas, aparecendo em velocidade onde é necessário. Foi vítima de uma entrada dura de Carlos Martins (63’), mas felizmente não ficou muito magoado.
Aparentemente, é uma escolha de Quim Machado para os jogos mais difíceis, pelo ritmo elevado a que é capaz de jogar, e pela capacidade de guardar a bola. Desta feita, surpresa seria não aparecer entre os titulares na receção de sábado ao Benfica.

Ruca: É automático: sempre que André Horta é titular, Quim Machado chama Ruca para o lado esquerdo do meio-campo, ajudando a manter a equipa equilibrada. Quando joga nessa posição mais adiantada, as suas fragilidades técnicas ficam expostas, mas verdade seja dita que combinou muito bem com Nuno Pinto no lance do 0-3 (60’).

Suk: Mais uma grande exibição do coreano, decisivo, ao apontar dois golos (15’ e 60’) e fazer a assistência para o outro, marcado por André Horta (18’). Bonito golpe de cabeça no primeiro tento e finalização fácil no seu segundo. Com grande espírito de sacrifício, pressionou muito os defesas e deu o corpo ao manifesto nas primeiras bolas. Sacou cartão amarelo a Gonçalo Brandão (56’).

André Claro: Depois de jogos em que esteve menos em evidência, voltou a ser um dos destaques dos sadinos. Fez um cruzamento milimétrico que resultou no primeiro golo (15’) e iniciou a jogada do segundo (18’). Muito móvel, foi aparecendo tanto no centro do ataque como na ala esquerda.

Dani: Reforçou o meio-campo, numa alteração que Quim Machado promoveu até para dar outra liberdade a André Horta e depois Costinha. Cumpriu a sua função de manter a equipa equilibrada defensivamente.

Costinha: Entrou numa fase em que o resultado já estava resolvido e a equipa esperava pelo apito final. Está a perder algum espaço na equipa.

Gorupec: Cerca de cinco minutos em campo, praticamente sem trocar na bola.



Outras notas


Nuno Pinto regressou ao lote de disponíveis de Quim Machado, após ter cumprido castigo diante do União.

Suk sofreu uma contusão muscular na coxa da direita no jogo contra os insulares, no sábado, mas segunda-feira já se tinha treinado sem limitações. A mesma sorte não teve Vasco Costa, que durante a primeira parte desse encontro teve de ser substituído a contas com uma lesão muscular na perna direita, e por isso limitou-se a fazer tratamento durante grande parte da semana.

Também na segunda-feira, Rúben Semedo e Dani fizeram trabalho específico de gestão de esforço na segunda-feira, devido a cansaço muscular.

O ponta de lança dos juniores, João Oliveira, foi chamado a trabalhar com o plantel principal no treino de segunda-feira. Juntou-se assim ao lateral direito Gonçalo Duarte, também dos sub-19, que tem integrado os treinos dos seniores no último mês.

Durante a semana o Vitória andou com a casa às costas, com a equipa a treinar-se inclusivamente no Estádio Alfredo da Silva, no Barreiro (quarta-feira), e no Estádio Municipal de Vendas Novas (quinta-feira).

O selecionador da República Democrática do Congo, Florent Ibengé, viu os vídeos dos dois golos de Arnold na partida da última jornada, frente ao União (2-2 no Bonfim).

O mexicano Ulisses Dávila desvinculou-se do Vitória, que representava há praticamente um ano por empréstimo do Chelsea. Deverá relançar a carreira no seu país.

Os iranianos do Tractor, que até sexta-feira eram orientados pelo português Toni, estão interessados no treinador vitoriano, Quim Machado.

Segundo o portal italiano Calcio News, André Claro está na mira dos italianos do Empoli, Cagliari e Torino, nos espanhóis do Bétis e nos franceses do Bordéus.

O avançado Betinho é o único jogador do Belenenses a já ter representado o Vitória. Fê-lo na segunda metade da temporada 2013/14, por empréstimo do Sporting.

A semana do Belenenses ficou marcada pela forma como a equipa perdeu em Alvalade, diante do Sporting, na segunda-feira. O antigo central dos leões, Tonel, cometeu uma grande penalidade nos últimos minutos da partida ao tocar a bola com o braço, e várias figuras públicas duvidaram do seu profissionalismo. Noutro âmbito, Palmeiras e Miguel Rosa, lesionados, foram as únicas baixas para Sá Pinto no jogo frente os sadinos.



Números


Frederico Venâncio mantém-se como o único totalista da equipa na Liga: 1080 minutos. Suk (1051) e André Claro (1018) também já superaram os mil minutos nesta edição do campeonato.

O Vitória já não perde no Restelo para a Liga desde 11 de abril de 2009 (1-2). Desde então, dois triunfos e dois empates. Ainda assim, o histórico é favorável ao Restelo em jogos disputados para o campeonato português em Belém: 35 vitórias contra 13 dos sadinos (14 empates).

Na temporada transata, o Vitória só atingiu os 18 pontos à 19.ª jornada e só chegou 21 golos marcados à 29.ª.

Sadinos prolongam excelente início de temporada
Os sadinos já não somavam 18 ou mais pontos à 12.ª jornada desde 2007/08 (19), não saíam dessa ronda com 16 ou menos golos sofridos desde 2010/11 (13) e não tinham tantos golos marcados à 12.ª ronda desde 1988/89 (também 21).

André Horta marcou o seu primeiro golo como profissional ao 23.º jogo.

Com sete golos e quatro assistências, Suk participou diretamente em onze dos 21 golos do Vitória na Liga. O avançado coreano já superou o registo do melhor marcador dos sadinos no campeonato de 2014/15, João Schmidt (6).



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