O acordo que promete alargar o fosso do futebol português |
Muito mérito para Luís Filipe
Vieira e para o seu Benfica pela forma como foi alcançado o acordo milionário
de vendas de direitos televisivos à NOS. Depois de três temporadas a transmitir
os jogos da equipa principal na BTV, e com algum sucesso, o emblema da águia
colocou-se em posição muito confortável na mesa de negociações. Até dá para
imaginar LFV com os pés na mesa, mãos atrás da cabeça e muita descontração a
mostrar intransigência até se ter chegado ao valor mais falado dos últimos
dias: €400 milhões.
Contudo, esse negócio veio
acentuar o fosso já por si bastante acentuado entre os grandes – ou no caso, um
dos – e os mais pequenos, o que vai ter implicações no nível competitivo
português.
As armas até podiam ser desiguais,
mas justas, o que não é o caso. Se dividirmos os €400 milhões pelas dez
temporadas em que o acordo será válido, chegamos aos €40 M/época. Se tivermos
em conta que a Liga deverá continuar a ser disputada por 18 equipas e que os
encarnados irão fazer 17 encontros na condição de visitado em cada edição,
então chegamos a cerca de €2,4 M/jogo.
Até aí, nada de problemático,
apenas o esmiuçar do negócio lucrativo em questão. O problema é que grande
parte dos clubes pequenos recebe menos de €3 milhões por épocas em direitos
televisivos. Ou seja, o Benfica arrisca-se a receber mais em direitos
televisivos numa receção a um Arouca ou Tondela do que esses clubes numa
temporada completa. E esses clubes, além de receberem os encarnados
(supostamente num jogo que vale até mais do que €2,4 milhões), recebem FC
Porto, Sporting e mais 14 formações. Ou seja, os valores nem sequer são
proporcionais. E é aí que reside a grande injustiça!
Não se
pode ignorar que todos os clubes são diferentes, pois cada um tem a sua dimensão
social. A do Benfica, assim como a de FC Porto e Sporting, não são comparáveis
com a dos restantes. Ainda assim, todos os clubes são mais iguais do que
diferentes. Iguais porque disputam 34 jornadas, têm os seus estádios, os seus
sócios, os seus adeptos e competem no mesmo campeonato. E por assim ser, todos
devem ter salvaguardado que as igualdades superam as desigualdades.
Para
poder ter uma audiência de milhões de espetadores, o Benfica não vai fazer os
17 jogos caseiros frente à equipa B ou entre os titulares e os suplentes. Isso
não teria interesse. Por isso, vai fazê-lo contra as restantes 17 equipas do
campeonato. Ou seja, os €400 milhões não são apenas para ver os encarnados. É
para os ver em ação diante de adversários. Adversários esses que são
muito mais do que carne para canhão, mas sim legítimos competidores na Liga.
Equipas como o Leicester no topo da Liga? Só em Inglaterra... |
Em
Inglaterra, o passo para uma liga justa e competitiva foi dado foi dado há mais
de duas décadas. Em Espanha, esse modelo vai ser seguido. Os direitos
televisivos são negociados como um bolo com a entidade organizadora do
campeonato, ou seja, são centralizados. Desse bolo, 50 por cento é distribuído
em partes iguais pelos clubes. Depois, 25 por cento é distribuído em função dos
resultados dos últimos anos e os restantes 25 em função na implantação social
(número de sócios, bilheteira, audiências, etc.).
Feitas
as contas, os três grandes deveriam receber sempre mais do que os restantes
clubes. Porque geralmente têm melhores resultados e uma implantação social
incomparável com os restantes 14. O fosso para esses 14 é que não seria tão grande,
o que para a competitividade e qualidade da Liga seria inquestionavelmente fantástico.
Só não vê quem não quer ou… quem tem medo.
Sem dúvida que um sistema como o referido, com uma distribuição mais equilibrada dos rendimentos televisivos, favorece o espectáculo.
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