O mito peseirista

Sempre que se fala de José Peseiro, fala-se do Sporting 2004/05, e mesmo o próprio treinador, em cada entrevista que dá, aborda elogiosamente o futebol praticado pelos leões nessa temporada.

À memória salta a campanha triunfante até à derrota na final da Taça UEFA, assim como uma luta intensa pelo campeonato que os verde e brancos travaram com o Benfica até à penúltima temporada ou até o facto de a formação de Alvalade ter tido o melhor ataque da liga nessa época.

Diz-se, também, que o Sporting praticou um futebol espetacular nesse período. Verdade ou Mito? Mito. Passam dez anos, a memória pode filtrar algumas coisas, mas não filtra tudo.

É verdade que o conjunto leonino apresentava um futebol fantástico em parte dos seus jogos, mas não deixa de ser também verdade que o fazia com a mesma frequência com que mostrava versões pálidas e cinzentas de si mesmo em outros encontros.

A estatística não mente. Foram 66 golos apontados em 34 partidas, o que não chega a uma média de dois por encontro. E convém salientar, ao longo do campeonato foram onze (!) os jogos em que Liedson e companhia não conseguiram fazer as redes balançar. O que não falta são melhores registos, inclusivamente quando a prova passou a disputar-se em 30 jornadas.

A face bipolar dos leões foi visível também nas nove (!) derrotas que sofreu. Só por três vezes na sua história (1988/89, 2000/01 e 2012/13) o registo foi pior. E dessas nove, entre elas, três em casa diante de Marítimo (0-1), Penafiel (0-2) e Nacional (2-4), assim como estrondosos desaires forasteiros com Marítimo (0-3) e FC Porto (0-3).

O número de pontos, 61, só possibilitou que os verde e brancos lutassem pelo título até final porque esse foi um campeonato atípico, em que o Benfica de Giovanni Trapattoni foi o mais frágil campeão português do século XXI. O FC Porto, esse, esteve irreconhecível do princípio ao fim, conhecendo três treinadores: Del Neri, Victor Fernández e José Couceiro. Das onze temporadas em que a liga lusa teve 18 equipas e vitória a três pontos, foi o terceiro pior registo para os lados de Alvalade.

Apenas 18 vitórias, numa época em que a melhor série sem perder foi de sete jornadas e a melhor sequência de vitórias foi de quatro. Um mito… peseirista, portanto.