sábado, 6 de abril de 2013

À conversa com… Sílvia Domingos

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Na passada sexta-feira, 5 de Abril, a árbitra internacional Sílvia Domingos esteve no Núcleo de Confraternização dos Árbitros de Futebol no Barreiro para conversar com todos os interessados, nomeadamente os juízes pertencentes a esse núcleo.
                                      

Numa sessão com o tema “Arbitragem no feminino”, Sílvia Domingos, árbitra internacional de futebol feminino, começou por se apresentar. Tem 30 anos, é natural de Faro, pertence à AF Algarve, é gestora de loja e está em atividade desde 1999.

Como surgiu a paixão pela arbitragem? Desde pequena que gostava de desporto e de futebol em particular. Ía ver os jogos do Farense com o pai, e as suas brincadeiras não era com bonecas, como na generalidade das raparigas, mas sim com a bola. Um dia um professor propôs-lhe tirar um curso de árbitro, algo que ainda de forma algo reticente, acabaria por aceitar.

Nessa altura, quando recebeu uma carta com a nomeação para o seu primeiro jogo (Farense – Esperança de Lagos, em Infantis), nunca pensou chegar onde chegou. Sem as condições que hoje existem, foi a sua mãe que lhe fez uns cartões em cartolina, arranjou um apito de metal e os seus equipamentos, emprestados, eram demasiado grandes.

Uma mulher a arbitrar foi uma autêntica novidade para as crianças. Aos 18 anos arbitrou o primeiro jogo de séniores, e aí tinha como objetivo ser a primeira mulher a chegar à categoria de III Divisão Nacional.

Embora quisesse fazer o seu percurso no futebol masculino, e não no feminino, acabou por ter um trajeto paralelo nos dois, até que em 2012, tornou-se internacional.

Acreditou sempre em si e sempre ouviu os mais velhos, foi esta a explicação para o seu sucesso. Apelidou a arbitragem como uma “droga”, um autêntico vício ao qual pretende dar continuidade quando deixar os relvados. Quer ser observadora ou dirigente.

Embora seja internacional, assume que comete erros, e que as críticas devem ser aceites, porque elas são feitas para construir, e não para destruir. Focando-se em algumas árbitras do NCAFB presentes na plateia, aconselhou-as a nunca desistirem.

Contou ainda algumas histórias engraçadas.

Um dia, um adepto menos feliz com a sua prestação, chamou-lhe filha da p*** num encontro em que a sua mãe estava presente, tendo acabado esse episódio numa confrontação entre a progenitora e o espetador.

Frequentemente, é vítima de insultos machistas, dos quais falou com um sorriso na cara, admitindo que já respondeu por diversas vezes à letra. Uma vez expulsou um treinador, e ele recusou-se a sair do banco de suplentes, pois supostamente nenhuma mulher teria autoridade para o fazer. A situação terminou com delegados e capitães a terem de acompanhar o técnico aos balneários.

Assumindo como alguém que ferve em pouca água, confessou já ter tido problemas com outras mulheres, no futebol feminino. Numa situação a quente, apontou o dedo de forma efusiva à treinadora do Boavista. No final do encontro, ouviu uma reprimenda de Nuno Castro, dirigente da FPF. Por isso, aconselhou todos os jovens a manter a calma no exercício da arbitragem, e nunca se rebaixarem a atitudes do mesmo nível que alguns elementos oficiais pertencentes às equipas.

Num percurso que começou em 1999, contou como conquistou o respeito dos jogadores. Numa ocasião, depois de mostrar o cartão amarelo a um jogador, perguntou-lhe o número e este respondeu-lhe começando a dizer o seu número de telemóvel. Atualmente já não é assim, agora é levada a sério, contou.

Na AF Algarve, trabalhou e competiu sempre com homens, nunca com mulheres. Acreditou que podia ser tão boa ou melhor que eles, e por isso nunca se inferiorizou, fazendo até mesmo as mesmas provas físicas que eles. Foi preciso coragem.

Foi a primeira mulher a dirigir uma meia-final da Taça AF Algarve. Foi um Esperança de Lagos – Quarteira, um encontro que teve prolongamento e uma série interminável de pontapés da marca de grande penalidade. Foi também a primeira senhora a arbitrar jogos da 1ª Divisão distrital da AF Algarve.

Na atualidade, trabalha com os árbitros da AF Setúbal, dos quais não tem nenhuma razão de queixa. Tal como os da AF Algarve, que sempre a respeitaram.

Na temporada transacta, ficou em 1º no quadro feminino, tendo chorado quando soube da notícia. Contou que teve essa mete sempre como objetivo, mas que em Novembro fraturou o pulso, e que só voltou à ação em Fevereiro. Pelo meio, foi treinando às escondidas com um grupo de atletas veteranos. Quando regressou, em Março, fez uma rotura e foi “enganando” os observadores até final da época. No seu distrito, ficou em 3º na categoria de elite. No final da época, soube da boca de Vítor Pereira que se tinha tornado internacional.

Explicou ainda como a arbitragem condiciona a sua vida. Não terminou a licenciatura em direito, não o sai à noite, dificilmente está com os amigos e contou como para os pais é um orgulho o seu trajeto na atividade. É uma das 28 mulheres no quadro feminino nacional, todas elas avaliadas em cinco jogos ao longo da temporada por observadores da I Liga.

Na fase final da sessão, debruçou-se no concretizar do seu sonho, o de se ter tornado árbitra internacional. Esse foi, para si, o resultado do seu acreditar, do trabalho em equipa e da motivação.

O seu primeiro jogo internacional foi a 10 de Setembro de 2012, na Irlanda do Norte. Foi uma partida de apuramento para o EURO Sub-17 de futebol feminino, no qual a Itália goleou Israel por 5-0.

Mas para aí chegar, teve de fazer as provas físicas da UEFA, na Suíça, com 38ºC de febre de depois de uma noite de vómitos. Os médicos aconselharam-na a não as fazer, mas apesar desse handicap, conseguiu fazê-las e ser aprovada. Aí cruzou-se com Pierluigi Collina, que apelidou de expoente máximo da arbitragem mundial.

Falou como foi a preparação para o tal torneio de Sub-17, em Setembro de 2012. Fez o scouting das equipas, pesquisou sobre quem seriam as jogadoras mais faltosas e sobre a experiência dos treinadores. João Ferreira foi fundamental ao ajudá-la nesta sua primeira aventura internacional. Contou ainda como era arrepiante ter o símbolo da FIFA ao peito e ouvir os hinos antes dos jogos.

Para finalizar, e antes de receber das mãos de Nuno Roque uma lembrança do NCAFB, pediu apoio aos árbitros mais velhos para as jovens que se estão a iniciar na atividade.

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