domingo, 9 de setembro de 2018

Cinco aspetos a rever nas eleições do Sporting

Eleições de 2018 tiveram recorde de candidatos e de eleitores

“Tudo está bem quando acaba bem”. Este chavão parece adequar-se ao estado de espírito dos sportinguistas depois de as eleições mais concorridas em número de candidatos (seis) e de eleitores (22.400) terem guiado o antigo diretor clínico do clube Frederico Varandas à presidência do Conselho Diretivo.

Desde cedo que se percebeu que a luta iria ser a dois, entre o médico militar o antigo guarda-redes de futsal João Benedito. No entanto, também se entendia que os dois favoritos faziam parte do mesmo eleitorado e não de duas formas distintas (passo a redundância) de ver o Sporting. Ou seja, a dúvida entre muitos dos votantes era entre um e outro. Se o candidato em que votaram não ganhasse, os associados queriam que ganhasse o outro. Benedito era o plano B de grande parte dos que votaram na lista de Varandas e vice-versa. Durante o próprio dia das eleições, foram vários os sócios que o assumiram.


Assim sendo, apesar de Benedito ter tido mais votantes mas Varandas ter ganhado por ter tido mais votos e sem maioria absoluta, ninguém se importou muito com isso. Nem o próprio Benedito, que congratulou o vencedor, declarou-o como o seu presidente e anunciou o seu sair de cena.

O fair play do antigo guarda-redes foi a cereja no topo do bolo de um dia eleitoral marcado por um enorme civismo por parte de cada um dos candidatos, que ainda antes de conhecerem os resultados assumiram que iriam apoiar o novo presidente e não iriam ser oposição, e das mais de duas dezenas de milhares de sócios, que se expressaram de forma absolutamente pacífica. Nem o presidente destituído fez qualquer tipo de manifestação.

O próprio dia 8 de setembro acabou por ser o culminar de uma campanha em que a natural animosidade nunca passou os limites do razoável, pelo menos por parte dos candidatos aceites pela Mesa da Assembleia Geral.

As circunstâncias ditaram um final feliz, mas nem tudo foi perfeito. Além da demora na contagem e recontagem do voto, temeu-se uma eventual falta de legitimidade do novo presidente e criticou-se o número avultado de candidatos e a não retirada de cena de alguns deles quando se percebeu que estavam destinados a um resultado humilhante.

Assim sendo, há ilações a tirar e aspetos a rever para que eleições futuras não dependam das semelhanças entre os principais candidatos (ou a falta delas…), do bom feitio dos mesmos e do civismo de quem estava apenas desesperado em voltar a ver a paz no clube.


Eis algumas das matérias que deveriam ser revistas:

1 – Número de votos vs. Número de votantes

Neste caso, Frederico Varandas e João Benedito eram candidatos com personas semelhantes e cuja forma de ver o Sporting não apresentava grandes dissemelhanças. O antigo guarda-redes era a alternativa para a maioria dos que votaram no médico e vice-versa. Ganhando um ou outro, os sportinguistas ficavam felizes.
O fair play de Benedito no momento da derrota e o facto de um não romper com as ideias do outro acabaram por não dar azo a análises muito detalhadas, mas é preciso não esquecer que o ex-guardião teve mais 1.018 pessoas a votar nele. Num universo de associados de um clube desportivo, é algo gigante.
Desta vez, aplicou-se a máxima do “tudo está bem quando acaba bem” mas, no futuro, se algo semelhante voltar a acontecer com candidatos que apresentem mais contraste nas suas ideias, tal como Bruno de Carvalho e Godinho Lopes em 2011, o presidente eleito poderá ter de viver com a sombra da pouca legitimidade.
Algo a rever. Não que se passe do 8 ao 8 e cada sócio passe a ter direito a apenas um voto, mas pelo menos que se reduza o peso da antiguidade.

2 – Metodologia de voto

É inconcebível que em 2018 o vencedor de umas eleições com um universo de pouco mais de 20 mil votantes possa demorar sete horas a ser apurado.
É exigida uma resposta mais célere a quem tem a responsabilidade de organizar o sufrágio e a solução deverá passar pela extensão do voto eletrónico a todo o território. A partir de casa ou nos núcleos e de norte ao sul do país e até no estrangeiro. Não creio que a autenticidade de um voto a partir de casa ou nos núcleos mais próximos gere mais desconfiança no que concerne a segredo de voto e autenticidade.
Além da questão da celeridade no apuramento dos resultados, seria facilitada a mais sócios a oportunidade de participar na assembleia eleitoral.

3 – Número mínimo de assinaturas

Os estatutos do Sporting frisam que “as candidaturas terão de ser propostas por sócios com capacidade eleitoral ativa que representem, pelo menos, mil votos”.
No entanto, houve dois candidatos (Fernando Tavares Pereira e Rui Jorge Rego) que não chegaram a esse número nas eleições. Cedo se percebeu que não teriam hipóteses, mas não desistiram e acabaram por dispersar votos que seriam úteis para ajudar a legitimar ainda mais o vencedor. Rui Jorge Rego teve inclusivamente um número irrisório de votantes: 98.
Num clube grande como o de Alvalade, o surgimento deste tipo de candidatos – que na realidade não o são… - deverá ser combatido, e uma das formas de o combater é aumentar o número mínimo de assinaturas.

4 – Ausência de segunda volta

Desta vez, e não me canso de o dizer, prevaleceu o “tudo está bem quando acaba bem” porque era mais o que unia do que o que separava Frederico Varandas e João Benedito, os dois principais candidatos.
Felizmente para os destinos do clube, as sondagens acabaram por ajudar a bipolarizar os votos no médico e no antigo guarda-redes de futsal, mas não era um dado adquirido. A música poderia ser outra se o eleitorado de José Maria Ricciardi, que apresentou ideias bem diferentes, fosse um dos dois envolvidos na discussão.
No entanto, é preciso não esquecer que chegou a estar em cima da mesa a possibilidade haver nove candidatos, sendo um deles o destituído Bruno de Carvalho. Uma maior dispersão de votos poderia bastar para que, por exemplo, um destituído fosse reconduzido meses depois, o que não faz sentido algum.
O fantasma da falta de legitimidade acabou por passar ao lado de Alvalade, mas nada garante que não possa bater à porta em eleições futuras. Uma segunda volta, conforme sugerido por Dias Ferreira, seria um reforço de democracia e consequentemente de legitimação.

5 – Ausência de dia de reflexão

Talvez o ponto menos importante deste artigo. Porém, numa campanha com tantos candidatos e tantas ideias, não deixa de ser estranho haver um debate entre os seis pretendes a presidente a menos de 12 horas de as urnas abrirem.
Um voto em consciência não deveria ter o ruído das novidades, dos trunfos e da exposição de ideias de última hora.


Pode aceder aos estatutos do Sporting Clube de Portugal clicando AQUI.






3 comentários:

  1. Varandas ao espelho: "Je suis Bruno de Carvalho".

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    1. Parvo ou engraçadinho?
      Triste comentário de um triste, o teu.

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  2. Porque é que obrigam os votantes por correspondência a reconhecimento notarial?
    Porque é que existindo tantos núcleos essa reconhecimento não possa ser feito pela direcção do núcleo?
    Ou ainda mais drasticamente porque não votar descentralizadamente nalguns núcleos (Capitais de distrito)

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