terça-feira, 3 de julho de 2018

Alfa Semedo. Um diamante cada vez mais polido a pensar na sucessão de Fejsa

Alfa Semedo assinou por cinco temporadas pelo Benfica

Oriundo do Vilafranquense (Campeonato de Portugal) e com passagem pela formação do Benfica, Alfa Semedo chegou há um ano à I Liga pela porta do Moreirense, pegou de estaca na equipa, foi uma das revelações do campeonato e adquiriu o bilhete de regresso à Luz, tendo sido anunciado esta terça-feira como reforço para 2018/19.

As declarações do seu então treinador Sérgio Vieira, em janeiro, dizem quase tudo sobre ele: “Não tenho dúvidas de que vai ser jogador de clube grande e ainda o vamos aplaudir na Seleção Nacional. (…) Mas não nos podemos esquecer que tem 20 anos e veio do Campeonato de Portugal. Ainda não tem maturidade na tomada de decisão.”


Desconstruindo o discurso do agora técnico do Famalicão, o jovem futebolista tem potencial “de clube grande” não porque foi apenas mais um a fazer uma excelente temporada num emblema mais pequeno – até porque ainda tem lacunas consideráveis e acumulou alguns erros, próprios de quem ainda está verde -, mas pelo tipo de qualidades que vai exibindo. Como médio defensivo, não é um mero destruidor de jogo. Mostra grande capacidade na construção e oferece à equipa a possibilidade de sair a jogar com segurança desde três. “É um jogador muito corajoso. Por vezes, corria alguns riscos desnecessários mas sabe ter bola. Joga bem porque sabe. Para a idade, era de admirar o que fazia com aquela idade. Ele tinha capacidade para assumir as coisas. Não tinha medo, não se escondia”, afirmou recentemente ao Record um dos seus antigos treinadores no Vilafranquense, Vasco Matos.

São valências semelhantes que fazem com que Danilo Pereira e William Carvalho, por exemplo, estejam no patamar em que estão. Contudo, Alfa Semedo ainda não tem a tal “maturidade na tomada de decisão”, pelo que ainda não consegue traduzir toda a sua qualidade técnica em ações eficientes, que permitam à equipa reter a bola e progredir no terreno, consoante as necessidades. Evoluir nesse aspeto e manter a concentração durante os 90 minutos são as missões que, quando cumpridas, certamente o catapultarão para um papel de destaque num clube de maior dimensão, neste caso o Benfica. O potencial está bem patente.


Estampa física é uma das principais armas

Por outro lado, no que concerne aos momentos defensivos, vai igualmente revelando características muito interessantes quando se pensa num ‘6’ de clube grande. Tem agilidade, velocidade e estampa física acima da média (1,90 m), é forte nos duelos (aéreos e à flor da relva) e rápido a recuperar a posição, algo fundamental nas transições ataque-defesa.

A capacidade atlética do futebolista nascido em Bissau faz a diferença nas bolas paradas, tanto defensivas como ofensivas. Exemplo disso é o número de golos que tem valido por época: apontou três em 2017/18, na estreia na I Liga; marcou quatro da temporada anterior; e, há dois anos, apontou dez pelos juniores do Benfica. “O físico que ele tem é uma ajuda muito grande para o futebol moderno, até porque poucos a têm até a um nível alto. É um privilegiado nesse aspeto”, considera Vasco Matos.

Chamavam-lhe Pogba guineense mas agora é Matic que faz lembrar

Percebendo que tinha aqui um diamante ainda longe de estar completamente lapidado, mas ainda assim cada vez menos em estado bruto, as águias bateram a concorrência de clubes como Marselha, Celta de Vigo e Club Brugge e avançaram para a contratação do médio que ajudaram a formar, por cinco temporadas.

Aquando da sua passagem pelo Vilafranquense, os companheiros chamavam-lhe ‘Pogba guineense’, até porque na altura era um ‘8’ com capacidade de chegada área. Contudo, em Moreira de Cónegos recuou uns metros, para a posição de médio defensivo, e pensando nos ‘6’ que passaram pela Luz nas últimas temporadas, é com o estilo de Matic – curiosamente outro jogador do Manchester United - com que mais se assemelha.

Terá agora a oportunidade de polir arestas a um nível já muito elevado, aprender com Fejsa e, a seu tempo, suceder-lhe.
















3 comentários:

  1. O sonho de singrar no futebol estava ainda a anos de se tornar numa realidade, mas Alfa Semedo deu logo nas vistas assim que chegou a uma recém-criada academia de Bissau. Meses depois de ter passado com distinção nas captações, o jogador, então com 15 anos, participou num torneio em abril de 2013 onde estiveram presentes representantes do Benfica, da Gestifute e de outras empresas de agenciamento.

    Quem o conheceu na Guiné, diz que já se destacava da maioria dos restantes companheiros. Dotado de boas capacidades físicas e técnicas, à semelhança do ‘jogador-tipo’ africano, distinguia-se por algo mais: apresentava boas noções táticas e, jogasse a médio ou no eixo defensivo, assimilava com facilidade os conceitos que lhe eram passados pelos treinadores.

    Alfa vivia com um tio em Bissau. Era um miúdo envergonhado, educado e com uma aparente boa estrutura familiar. Sem grandes luxos mas com a estabilidade que faltava a muitos colegas da mesma idade e com os quais seguia de manhã para os treinos que começavam às 7 de terminavam às 9 da manhã. Havia quem comesse só uma vez por dia; duas a contar com a refeição que lhes era entregue no final de cada sessão: pão, ovo e garrafas de água ou sumos.

    Ainda com 16 anos, e como parte do processo de crescimento, foi colocado na equipa sénior do Balantas de Mansoa, filial do Belenenses que era na altura o campeão nacional.

    Em fevereiro de 2015, depois de alguns meses em Portugal e ultrapassadas burocracias, Alfa Semedo assinou finalmente pelas águias e começou a treinar nos juniores sob a orientação de João Tralhão, numa equipa onde já se destacavam nomes como Rúben Dias, Renato Sanches e José Gomes.

    Alfa, que segundo foi possível saber também chegou a despertar o interesse do Liverpool antes de se mudar para os encarnados, ficou um ano e meio no Seixal, acabando por ser emprestado depois ao Vilafranquense.

    Filipe Coelho, que o treinou entre novembro e o final da época 2016/17, já o tinha debaixo de olho desde que o vira jogar no ano anterior. «Observei-o e chamou-me à atenção na fase final do campeonato de juniores. Ele jogou a avançado e creio que até foi o melhor marcador do Benfica nessa fase», recorda ao Maisfutebol o atual treinador adjunto de Paulo Bento nos chineses do Chongqing Lifan.

    Depois de uma passagem curta pelo Leixões em 2016, Filipe Coelho regressou ao Vilafranquense, onde tinha estado até seguir para o Casa Pia. A estreia aconteceu a 20 de novembro, na receção ao Paços de Ferreira para a 4.ª eliminatória da Taça de Portugal. A equipa ribatejana venceu por 1-0 com o jogador guineense a titular.

    Até ao final da época, Alfa Semedo foi titular indiscutível no conjunto da Série F do Campeonato de Portugal. «Creio que só falhou um jogo. Começou a jogar a ‘8’ comigo e algumas vezes a ‘6’, mas mais vezes na posição ‘8’. O que saltava logo à vista? Já tinha uma capacidade física acima da média, era um jogador muito focado no treino e com níveis competitivos muito elevados. Via-se que tinha uma margem de progressão enorme e potencial para estar ao nível de uma I divisão, mas talvez não esperasse que ele tivesse uma ascensão tão rápida. Confesso que me surpreendeu o facto de o professor Manuel Machado ter apostado tão cedo num miúdo com 19 anos.»

    Filipe Coelho recorda um rapaz pacato e de ideias fixas: apesar de não ficado no Benfica, estava determinado em provar que o lugar dele era outro.

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  2. «Ele podia estar no CNS, mas sabia que queria sair dali rapidamente. Cheguei a conversar com ele porque podia ter ficado abalado pela forma como saiu do Benfica. Depois de ser o melhor marcador da equipa de juniores, era normal que achasse que podia ficar na equipa B. Mas ele não se deixou abalar minimamente, até porque confiava muitos nas próprias capacidades e sabia que tinha mas do que potencial para chegar à Liga. Fora do treino era um miúdo introvertido, com alguma capacidade de diálogo mas que não se dirigia muito a nós se não interagíssemos com ele. Lembro-me que ele estava a viver no Benfica, no Seixal, e que depois foi para Vila Franca morar sozinho, com a família na Guiné. Parece-me ter bons princípios e nunca criou problemas disciplinares», conta o treinador.

    Nessa época, o Vilafranquense, recém-promovido aos nacionais, fez um campeonato seguro e igualou a melhor prestação da história na Taça de Portugal: só caiu nos oitavos de final diante do V. Guimarães de Pedro Martins, que chegaria ao Jamor. «Ele já não era um desconhecido. Estava muito referenciado e houve muita gente que o observou.»

    O salto aconteceu no verão seguinte. Em julho de 2017 chegou a oficialização no Moreirense com contrato válido até 2021 mas com o Benfica a manter parte do passe. Alfa Semedo foi titular em 27 dos 28 jogos realizados na Liga sob o comando de Manuel Machado, Sérgio Vieira e Petit, os três treinadores com quem trabalhou.

    «Não tenho dúvidas de que o Alfa Semedo vai ser jogador de clube grande. Ainda o vamos aplaudir na seleção portuguesa, é essa a minha convicção, mas não nos podemos esquecer que tem 20 anos e veio do CNS. Ainda não tem maturidade na tomada de decisão. Naquelas ocasiões para limpar a jogada e jogar feio, quis ganhar com o corpo e ficar com a bola», chegou a dizer Sérgio Vieira em janeiro deste ano após um empate com o V. Setúbal em janeiro, no qual o médio se estreou a marcar na Liga.

    Alfa terminou a época de estreia no primeiro escalão como o quinto jogador com mais tempo de jogo em Moreira de Cónegos e foi considerado pelo Maisfutebol a revelação da equipa minhota em 2017/18. «Nunca perdeu o estatuto de imprescindível, pese embora as trocas no banco. Tanto a central como a médio defensivo provou que não foi por acaso que passou pela formação do Benfica», escreveu o jornalista Vítor Maia acerca do jogador que começou a jogar na Guiné como central, posição que o levou a receber a alcunha de Carvalho, numa referência ao defesa internacional português que foi campeão europeu no FC Porto.

    O regresso de Alfa Semedo ao Benfica foi consumado nesta terça-feira. Em declarações à televisão do clube, o jovem médio deixou elogios a Fejsa, dono da posição ‘6’ desde que Nemanja Matic rumou ao Chelsea em janeiro de 2014. «É um grande jogador. Espero aprender com ele e chegar ao patamar dele», disse.

    Para Filipe Coelho, Alfa tem características diferentes do trinco sérvio.

    «É um jogador muito mais vertical, box-to-box, que tem capacidade para progredir com bola e para chegar a zonas de finalização. Não era e, pelo que vi nesta época, continua a não ser um jogador de equilíbrios. Acredito que tem capacidade para vir a afirmar-se no Benfica, mas é preciso tempo e tudo depende da capacidade de se adaptar a uma nova realidade e depois, com trabalho, ganhar espaço e esperar por uma oportunidade», sintetiza.

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  3. Boa noite David.

    Aceito a proposta de parceira e já coloquei o seu blog entre os meus favoritos/indicados.

    Grande abraço direto de Pelotas-RS/Brasil.

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