terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O vilão não virou herói, mas não merecia desfecho infeliz

Suk marcou um grande golo mas depois desapareceu

Taça de Portugal | Vitória 1-1 Rio Ave (1-3 nas grandes penalidades)


No espaço de apenas três dias, Ricardo esteve bastante perto de despir a capa de vilão para vestir a de herói. Certamente já não será visto como o mau da fita, isso é ponto assente, mas não conseguiu ser decisivo.

Depois de ter ficado bastante malna fotografia em três dos quatro golos que o Benfica marcou no Bonfim no sábado, o guarda-redes emprestado pelo FC Porto ao Vitória realizou uma exibição extraordinária diante do Rio Ave. Fez, no mínimo, quatro grandes intervenções no decorrer do jogo [ver apreciação individual] e ainda defendeu dois penalties. Injustamente para ele, foram os nortenhos que seguiram em frente na Taça de Portugal.


Mas no filme do encontro não foi apenas o guardião sadino a assumir papel de protagonista. Logo aos 12 minutos, Suk marcou (mais) um belíssimo golo, a confirmar o bom início dos setubalenses, que chegavam ao ataque com facilidade, fosse em futebol apoiado ou em transições.

Mesmo a vencer, os homens de Quim Machado não foram infiéis para com a própria identidade, continuando com uma postura ofensiva, tornando a partida aberta e agradável de se ver. Duas bolas nos postes – Marvin e André Claro – e duas grandes intervenções de Ricardo – Bressan e Heldon – espelharam 45 minutos emocionantes.

Contudo, as coisas começaram a correr mal para os vitorianos logo ao intervalo. Nuno Pinto, que se estava a entender às mil maravilhas com André Claro no corredor esquerdo, teve problemas gástricos e foi substituído por Ruca. Nunca mais esse flanco foi o mesmo, nem pouco mais ou menos. E como se não bastasse, os vila-condenses entraram no segundo tempo praticamente a marcar, por Wakaso (49’), através de um remate forte de fora da área.

Sem a mesma acutilância no jogo exterior e a acusar o golo sofrido, o Vitória passou por uma fase difícil, sem conseguir ligar o seu jogo. Mérito também para o Rio Ave, bastante pressionante e subido no terreno.

Só após a entrada de André Horta, os sadinos conseguiram finalmente suster a pressão e chegar um pouco à frente. No entanto, quando parecia que o pior tinha passado, Rúben Semedo foi expulso com cartão vermelho direto por falta dura sobre Pedro Moreira e deixou a equipa em maus lençóis.
Vasco Costa teve o 2-0 nos pés, ainda na primeira parte

A partir daí (82 minutos), o Vitória praticamente não fez outra coisa que não defender. Compreensível. Afinal, com o desgaste acumulado – jogo frente ao Benfica tinha sido há menosde 72 horas – e menos uma unidade, era nos pontapés da marca de grande penalidade que residia a maior esperança dos verde e brancos.

A expulsão de Marvin ainda deu outro alento para tentar resolver o assunto antes dos penalties, mas com Suk extremamente desgastado e desapoiado, não deu mesmo para mais.

No desempate a partir da marca dos 11 metros, o Rio Ave acabou por ter mais sorte e mérito. Há quem lhe chame lotaria, mas acertar apenas um em quatro sabe a pouco.


Ficha de jogo


Taça de Portugal – Oitavos de final

Estádio do Bonfim, em Setúbal (1.672 espectadores)


Vitória (4x4x2): Ricardo; Gorupec, Frederico Venâncio c, Rúben Semedo e Nuno Pinto (Ruca, int.); Costinha, Dani, Fábio Pacheco e André Claro (William Alves, 100); Suk e Vasco Costa (André Horta, 58)

Suplentes não utilizados: Miguel Lázaro (GR), Hassan, Arnold e Paulo Tavares

Treinador: Quim Machado

Disciplina: Cartão amarelo a André Claro (36), Frederico Venâncio (87) e André Horta (90+2); Cartão vermelho direto a Rúben Semedo (82)


Rio Ave (4x3x3): Cássio; Pedrinho (Ukra, 102), Aníbal Capela, Marcelo c e Edimar; Wakaso, Pedro Moreira (Krovinovic, 90) e Bressan (João Novais, 80); Heldon, Yazalde e Marvin

Suplentes não utilizados: Rui Vieira (GR), Kayembe, André Vilas Boas e Lionn

Treinador: Pedro Martins

Disciplina: Cartão amarelo a Bressan (44), João Novais (90+2) e Marvin (100 e 112); Cartão vermelho por acumulação a Marvin (112)


Árbitro: João Capela (AF Lisboa), assistido por Ricardo Santos e Tiago Rocha, com Rui Soares como 4.º árbitro


Golos


1-0, por Suk (12). André Claro, com um passe longo, encontra Suk desmarcado na direita. O coreano foi fletindo para o centro em velocidade, ultrapassando Aníbal Capela, e viu o seu remate forte de pé esquerdo bater na trave e entrar na baliza de Cássio.

1-1, por Wakaso (49). Rúben Semedo cortou de cabeça um cruzamento na direita de Heldon, mas a bola sobrou para a zona de tiro, onde Wakaso disparou fortíssimo, surpreendendo Ricardo.


Grandes penalidades

0-1, por Ukra. Remate colocado para o lado direito de Ricardo.

Costinha acertou na trave.

Remate fraco de Heldon para defesa fácil de Ricardo.

1-1, por Ruca. Cássio atirou-se para a sua direita, mas a bola foi para o outro lado.

Remate forte de Edimar mas travado pelo braço direito de Ricardo.

Suk não deu muito balanço e acabou por atirar fraco para defesa de Cássio.

1-2, por João Novais. Remate forte para o lado esquerdo de Ricardo, que ainda tocou na bola mas não evitou o golo.

William Alves rematou forte e rasteiro para defesa de Cássio.

1-3, por Yazalde. Bola para um lado, guarda-redes para o outro.



Estatísticas (Vitória-Rio Ave)


Posse de bola (%): 42-58

Remates: 9-33

Remates à baliza: 3-11

Cantos: 3-9

Faltas cometidas: 24-14

Foras de jogo: 1-6



Apreciação individual


Ricardo: Intervenções complicadas a remates de Bressan (17’) e Heldon (55’) e a um cabeceamento do cabo-verdiano (32’). Brilhou ainda de forma mais cintilante com uma grande estirada, a travar um livre de Heldon (89’), e nos dois pontapés da marca de grande penalidade que defendeu, silenciando quem o criticou depois da exibição menos conseguida frente ao Benfica. Foi surpreendido pelo autêntico foguete de Wakaso, no lance da igualdade (49’).

Gorupec: Foi pela primeira vez titular com William Alves disponível, uma vez que o brasileiro estava castigado na visita ao Dragão. Com um corte providencial negou o golo a Yazalde (27’), ainda que defensivamente tivesse dado demasiado espaço a Marvin. Assinou um cruzamento milimétrico para Vasco Costa, que ao primeiro poste falhou o 2-0 (38’). Com a entrada de William Alves, passou a ter mais liberdade para sair no corredor, ainda que nessa altura lhe faltasse frescura física.

Frederico Venâncio: Mostrou algum nervosismo, talvez ainda fruto de um desempenho para esquecer diante do Benfica. Estava no caminho da bola no lance do golo do empate, mas não a conseguiu aliviar e ainda a desviou subtilmente para a própria baliza. Acumulou faltinhas, tendo visto cartão amarelo à enésima falta, aos 87 minutos.

Rúben Semedo: Mostrou a sua agilidade e impulsão nos vários cortes difíceis que efetuou. Infelizmente para ele, mas sem que culpas lhe possam ser apontadas, acabou por fazer a assistência para o golo de Wakaso ao aliviar a bola de cabeça para fora da área (49’). Duplo erro no lance que lhe ditou a expulsão: estava a adornar em demasia na tentativa de sair a jogar e entrou de forma bastante dura sobre Pedro Moreira (82’).

Costinha regressou ao onze e até cumpriu os 120 minutos
Nuno Pinto: Somou alguns bons cruzamentos, entre os quais um que proporcionou a oportunidade a André Claro – com quem se entendeu muito bem no corredor esquerdo - para rematar para defesa de Cássio para a trave (31’). Estava a ser dos melhores em campo até ser substituído, ao intervalo, devido a uma indisposição gástrica.

Costinha: Exibição apagada. Embora tenha cumprido do ponto de vista defensivo, a acompanhar as subidas de Edimar e a fechar o espaço interior quando a equipa ficou reduzida a dez, não conseguiu mostrar a qualidade que tem ofensivamente. Nem os cantos lhe saíram bem… nem o penalty.

Fábio Pacheco: Sempre muito lutador, recuperou muitas bolas a meio-campo e quase sempre entregou, com qualidade, o esférico aos colegas. Baixou para o eixo da defesa após a expulsão de Rúben Semedo (82’) e acabou por se adaptar muito bem à nova posição, acumulando cortes determinantes.

Dani: Discreto, foi cumprindo nas tarefas de cobertura, reduzindo o espaço de manobra a Pedro Moreira e Bressan, dois dos jogadores mais influentes do Rio Ave na prática de um futebol mais apoiado. Quase sempre eficiente no passe.

André Claro: Colocou a bola em Suk com um extraordinário passe longo, na jogada do golo inaugural (14’). Esteve perto de marcar aos 31 minutos, tendo visto o seu remate em esforço ser desviado por Cássio para a trave. Amarelado aos 36’, por agarrar Marvin, que conduzia um contra-ataque. Mostrou bom entendimento com Nuno Pinto no corredor esquerdo, onde até nem está habituado a jogar. No segundo tempo, com Ruca, não houve o mesmo tipo de combinações. Saiu muito desgastado já no prolongamento.

Suk festejou o 10.º golo na presente temporada
Suk: Está a fazer uma grande temporada e confirmou o bom momento de forma com o excelente golo que inaugurou o marcador (14’), de pé esquerdo, que nem é o seu melhor pé. Contudo, apareceu muito pouco após o 1-0. Correu muito para dar profundidade à equipa, mas após a expulsão de Rúben Semedo esteve bastante desapoiado. Confirmou o mito de que normalmente os craques falham as grandes penalidades, ao desperdiçar a sua, na qual optou por não dar muito balanço.

Vasco Costa: Foi uma das novidades do onze, depois de ter dado boas indicações diante do União e do Benfica. Desperdiçou aquele que seria o 2-0, aos 38 minutos, a desviar para fora um excelente cruzamento de Gorupec para o primeiro poste. Não esteve em grande evidência e acabou por ser substituído com alguma naturalidade ainda antes da hora de jogo.

Ruca: Não conseguiu manter a mesma dinâmica de Nuno Pinto a atacar pelo flanco esquerdo. Serve-lhe de consolo ter sido o único sadino a não falhar os penalties.

André Horta: Refrescou a equipa ofensivamente, acrescentando-lhe capacidade de pressionar e de ter a bola. Viu um cartão amarelo desnecessário aos 90+2’, ao pedir explicações de forma pouco simpática a João Novais após este o ter travado em falta.

William Alves: Reforçou o centro da defesa, formando um trio com Fábio Pacheco e Venâncio. Felizmente para o central/lateral brasileiro, a bola saiu num lance em que Marvin passou por ele como bem quis (105’). Falhou a sua grande penalidade, atirando para o meio e logo com um remate denunciado, que Cássio travou.



Outras notas


Para chegar até esta ronda, o Vitória eliminou o Coruchense (CNS) na 3.ª eliminatória (2-0, fora) e o Casa Pia (CNS) na 4.ª (1-0, fora).

Quanto ao Rio Ave, começou por afastar o União FC (AF Coimbra) na 3.ª ronda (3-0, fora) e depois o primodivisionário Paços de Ferreira (2-1, fora).


Ao contrário do que é habitual nos jogos em casa, os sadinos foram para estágio na véspera da partida. O objetivo passou por ter os futebolistas sob vigilância, até porque entre o encontro com o Benfica e este não se cumpriram as recomendadas 72 horas de recuperação.

O Benfica está a ponderar se avança ou não com uma proposta para a contratação de Suk. Dirigentes dos encarnados estiveram à conversa com a empresa que agencia o jogador durante a partida que opôs os sadinos às águias.

No Rio Ave, Wakaso e Marvin regressaram aos eleitos de Pedro Martins após cumprir castigo diante do Arouca. Tarantini, foi o único ausente, por lesão.

West Ham e Southampton estiveram em missão de espionagem no Bonfim.

Nas bancadas estiveram apenas 1.672 espetadores. Foi a pior casa da época no Bonfim, batendo a receção ao Estoril, para a Liga (3.018).



Números


Ricardo terminou o trajeto do Vitória na Taça de Portugal como único totalista: 300 minutos.

Apenas por uma vez Vitória e Rio Ave se tinham encontrado na Taça de Portugal. Foi em 2013/14, também nos oitavos de final, mas em Vila do Conde, com os nortenhos a vencerem por 1-0. Em todas as competições, o histórico é favorável aos sadinos em confrontos no Bonfim: 25 jogos, 17 triunfos, seis empates e duas derrotas.

O guarda-redes sadino Ricardo era o único da equipa que tinha uma Taça de Portugal no currículo. Conquistou-a em 2011/12, ao serviço da Académica.

O Vitória não chega aos quartos de final da Taça de Portugal desde 2010/11.

Os vitorianos falharam a 30.ª presença em quartos de final (em 72 presenças na Taça). Em 19 ocasiões chegaram às meias e em dez à final, tendo conquistado a prova por três vezes (1964/65, 1966/67 e 2004/05).



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