sábado, 28 de novembro de 2015

O impensável pontinho foi festejado no Sado

Arnold foi a grande figura da partida, ao marcar dois golos

Liga | Vitória 2-2 União


Quim Machado tinha pedido paciência aos seus jogadores para desmontar a teia defensiva do União – seis golos sofridos em oito partidas da Liga -, dando a entender que o mais difícil seria inaugurar o marcador. Talvez por isso, quando o 1-0 chegou por intermédio de Arnold, logo aos 13 minutos, o Vitória se mostrou tão pouco preparado para uma situação de vantagem num momento tão precoce do encontro.

Se numa primeira instância a equipa até pareceu galvanizada, circulando a bola de pé para pé (em detrimento das habituais transições) e aparecendo com facilidade no último terço, depois entrou numa fase de alguma sonolência. Os sadinos amoleceram, de forma até presunçosa, visto que os madeirenses pouco ou nenhum perigo conseguiram criar na etapa inicial.


No segundo tempo, já sem o lesionado Vasco Costa – a surpresa do onze, no lugar de Costinha, que entretanto o substituiu -, os setubalenses foram surpreendidos pelo bom arranque dos insulares, à boleia de Amilton. O atacante brasileiro, 26 anos, esteve em grande evidência ao fazer o cruzamento para Danilo Dias no tento da igualdade (49’) e ao apontar o da reviravolta (52’).

Os três pontos que pareciam mais do que assegurados em Setúbal, aparentemente estavam a voar para o Funchal num ápice. O Vitória acusou os golos sofridos e só a entrada do sempre agitador André Horta deu novo ânimo aos sadinos, que sofreram outro revés com a lesão de Suk.

Para o lugar do coreano entrou o jovem luso-marroquino Hassan, 21 anos, filho do antigo goleador do Farense, com o mesmo nome. A missão era ingrata, uma vez que só tinha ainda somado dois minutos na Liga, diante do Moreirense, mas o recém-entrado avançado nunca se inibiu de ir ao choque com os centrais nos cruzamentos, o aspeto em que foi mais solicitado.

«O 2-2 não nos larga», disse Quim Machado após o jogo
E foi já na fase do desespero, quando já vários vitorianos descrentes tinham abandonado as bancadas, que o Vitória alcançou o empate, no minuto 90. A jogada começou com um cruzamento de Ruca e a finalização de Arnold ao segundo poste, mas pelo meio… um subtil desvio de Hassan.

Se terá ou nascido aí uma estrela, os próximos meses da temporada o dirão, mas o que os adeptos do Vitória sabem é que terminaram o encontro a festejar um pontinho que aos 13 minutos era impensável, tal a confiança em somar um (folgado) triunfo.

E apesar do bom início de época dos setubalenses, fica também na retina uma certa alergia ao seu próprio reduto: seis jogos, apenas uma vitória e cinco empates (!), quatro deles 2-2 (!!!). Próxima receção: Sport Lisboa e Benfica.


Ficha de jogo


I Liga – 11.ª jornada

Estádio do Bonfim, em Setúbal (3.597 espectadores)


Vitória (4x4x2): Ricardo; William Alves, Frederico Venâncio c, Rúben Semedo, Ruca; Arnold, Fábio Pacheco, Dani (André Horta, 63), André Claro; Suk (Hassan, 72) e Vasco Costa (Costinha, 41)

Suplentes não utilizados: Raeder (GR), Gorupec, François e Paulo Tavares

Treinador: Quim Machado

Disciplina: Cartão amarelo a Costinha (77) e Arnold (90+3)


União (4x2x3x1): André Moreira; Paulinho, Paulo Monteiro, Diego Galo, Joãozinho; Soares c, Gian; Amilton, Shehu (Tiago Ferreira, 89), Danilo Dias (Breitner, 83); Jhonder Cádiz (Élio Martins, 80)

Suplentes não utilizados: Rafael Alves (GR), Diogo Firmino, Miguel Fidalgo e Chaby

Treinador: Norton de Matos

Disciplina: Cartão amarelo a Gian (43) e Amilton (82)


Árbitro: Manuel Oliveira (AF Porto), assistido por Pedro Ribeiro e Tiago Leandro e com João Matos como 4.º árbitro


Golos


1-0, por Arnold (13). Suk descobre Vasco Costa na área, este tenta o golo, mas André Moreira defende. Vasco Costa retém a bola e assiste Arnold, que à entrada da área remata rasteiro para o fundo das redes.

1-1, por Danilo Dias (49). Amilton cruzou pela direita e encontrou Danilo Dias à boca da baliza, que assim fez o golo do empate.

1-2, por Amilton (52). Danilo Dias desmarca Amilton, que entra facilmente na área sadina e sem grande oposição pica a bola sobre Ricardo.

2-2, por Arnold (90). Cruzamento de Ruca, pela esquerda, sofre um primeiro desvio de Hassan, de cabeça, e a finalização de Arnold, ao segundo poste.


Estatísticas (Vitória – União)


Posse de bola (%): 55-45

Remates: 11-6

Remates perigosos: 6-4

Cantos: 4-3

Faltas cometidas: 21-11

Foras de jogo: 2-1


Apreciação individual


Ricardo: Presença (quase sempre) segura entre os postes, é uma mais-valia em relação a Raeder. Não teve responsabilidade nos golos sofridos e, no momento da procura do empate, mostrou espírito de liderança ao levar a equipa para a frente.

Frederico Venâncio em disputa de bola com Élio Martins
William Alves: Desempenha cada vez com maior à vontade as funções de lateral direito. Defensivamente procurou estar sempre bem posicionado, embora fosse o marcador direto de Danilo Dias, que acabou por ter influência nos dois golos do União (49’ e 52’). Esteve perto de marcar logo aos 7 minutos, ao cabecear por cima na resposta a um livre de Ruca.

Frederico Venâncio: Protagonizou luta interessante Jhonder Cádiz, sempre com puxões de parte a parte. Do quarteto defensivo, foi o que menos errou, reforçando assim o estatuto de capitão.

Rúben Semedo: Com ele em campo, já se sabe: vamos ver qualidade a sair a jogar e cortes que parecem impossíveis, mas também aquelas distrações que colocam os adeptos à beira de um ataque de nervos. Mas sobre isso, já me debrucei aqui: http://davidjosepereira.blogspot.pt/2015/11/concentra-te-ruben.html.

Ruca: Como médio-ala, no máximo dos máximos é mediano. Como lateral, não deixa dúvidas, é de primeiro escalão. Nota-se que até ataca melhor quando tem mais 20 ou 30 metros para embalar, terminando geralmente as suas incursões ofensivas com cruzamentos perigosos. Foi assim que caiu do céu o 2-2 (90’), tendo antes (50’) rematado para boa intervenção de André Moreira. Curiosamente, foi no aspeto defensivo, no qual até se destacava como médio, que mais pecou, deixando fugir Amilton nos lances dos golos unionistas (49’ e 52’).
Na ausência de Nuno Pinto (e de Costinha na primeira parte), assumiu a execução das bolas paradas, mostrando ser especialista. Os seus cantos e livres saem sempre puxados e tensos, o que favorece quem ataca e prejudica quem defende. Na cobrança de um livre lateral, do lado direito, esteve perto de conseguir enganar o guarda-redes do União (37’), mas este socou para canto.

Arnold: Repetiu a façanha da partida diante do V. Guimarães, ao bisar num empate a dois no Bonfim. O remate do primeiro tento foi forte mas certeiro (13’) e a finalização que deu a igualdade final foi plena de oportunismo (90’). Foi sempre dos principais desequilibradores da sua equipa, ora através de drible curto ou de arrancadas.

Fábio Pacheco: Chegou por várias vezes atrasado às disputas de bola no meio-campo, também amoleceu quando a equipa ficou com sono, mas não virou a cara à luta. Ajudou a carregar o piano de um Vitória que praticamente apresentou quatro avançados.

Dani: O que nasce torto tarde ou nunca se endireita e com Dani foi assim, que começou muito mal o jogo, falhando vários passes e adornando em demasia no seu meio-campo defensivo. Foi uma exibição desastrosa e pouco ou nada teve de surpreendente a sua substituição, aos 63 minutos.

André Claro: Começou como extremo esquerdo, posição onde não tem sido utilizado, embora descaia várias vezes para esse flanco. Apareceu muito na zona central, mas quase sempre sem a clarividência e rapidez de execução de outros jogos. Com a saída de Vasco Costa e entrada de Costinha voltou para a frente de ataque.

Suk muito perto daquele que seria o 2-0, aos 42 minutos
Suk: Participou na jogada do primeiro golo (13’), ao colocar a bola na área em Vasco Costa. Em visto lance individual, esteve perto de faturar, mas rematou ao lado, já depois de ter tirado um adversário do caminho (42’). Sempre muito castigado pelos defesas, saiu lesionado, a contas com uma contusão na coxa esquerda, aos 72 minutos.

Vasco Costa: Foi a grande novidade do onze sadino, ao aparecer na posição que era de Costinha. Somou a segunda titularidade da temporada, a primeira na Liga, tendo contribuído com uma assistência para o lance do 1-0 (13’). Saiu lesionado na perna direita e teve de ser substituído ainda no primeiro tempo (41’).

Costinha: Foi suplente pela primeira vez na Liga e o que é certo é que demorou a entrar no jogo, tendo assinado uma das exibições mais apagadas da temporada. Foi amarelado aos 77 minutos ao travar um contra-ataque adversário conduzido pelo diabólico Amilton.

André Horta: Entrou para agitar a equipa e o jogo, numa fase em que o Vitória estava a acusar psicologicamente os dois golos sofridos de rajada. Apareceu um pouco por todo o lado e sempre a alta rotação, dando linhas de passe e fazendo circular a bola com velocidade e até com objetividade.

Hassan: Pela equipa principal apenas tinha estado dois minutos em campo no triunfo em Moreira de Cónegos (2-0) para a Liga, e foi lançado logo com ingrata tarefa de render Suk, o ídolo dos adeptos. Ainda assim, entrou desinibido, batalhou com os defesas nos inúmeros cruzamentos a que foi solicitando, tendo num deles, aos 90’, desviado a bola que Arnold colocou no fundo das redes.



Outras notas


Nuno Pinto falhou o encontro devido a castigo, após ter sido expulso por duplo amarelo no encontro diante do Casa Pia, para a Taça de Portugal (vitória por 1-0 em Pina Manique). É a segunda vez que tal lhe acontece esta temporada, depois de também ter visto o cartão vermelho por acumulação na pesada derrota que o Vitória sofreu no Estádio dos Barreiros (2-5), a 13 de setembro, para a Liga.

Dani não se treinou nos primeiros dias da semana, devido a uma ligeira entorse num pé.

Suk tem mercado na Bundesliga, provavelmente sairá em janeiro e o seu substituto deverá ser Meyong. Aos 35 anos, o avançado camaronês, que ainda pertence aos angolanos do Kabuscorp, prepara-se para viver a sua terceira aventura junto ao Sado. Ontem esteve no Bonfim a assistir ao encontro.

É o segundo jogo em que Ruca atua como lateral-esquerdo. O primeiro foi diante do V. Guimarães (2-2, na 5.ªjornada da Liga) e até assinou uma das suas melhores exibições desde que chegou ao Sado.

O campeão romeno, Steaua Bucareste, está interessado em Nuno Pinto, que alinhou na temporada passada na Roménia, ao serviço do Astra Giurgiu.

O treinador Luís Norton de Matos regressou ao Bonfim na pele de treinador visitante. Na terça-feira recebeu um voto de confiança do presidente do União, Filipe Silva. Atualmente com 61 anos, o técnico orientou o Vitória no início da temporada 2005/06. Demitiu-se após a 15.ª jornada, devido à situação instável que o clube vivia. Ainda assim, deixou a equipa em 3.º lugar no campeonato, com 29 pontos e apenas quatro golos sofridos. Foi aplaudido antes da partida por alguns sócios vitorianos.

Miguel Fidalgo, que chegou ao Vitória na temporada 2011/12, mas que não realizou um único encontro oficial com a camisola verde e branca, a contas com uma contusão lateral externa do joelho esquerdo, regressou ao Bonfim como adversário. Filipe Chaby, natural de Setúbal, já passou pela formação dos sadinos. Ambos não saíram do banco.

Ricardo Campos e Kisley, lesionados, desfalcaram o União. Renny Veja, Edder Farias, Carlos Manuel e Rúben Andrade, todos por opção, foram preteridos por Norton de Matos.

1.900 espectadores já estavam garantidos para este jogo, pois 1.300 bilhetes foram distribuídos pelos participantes da Caminhada do Vitória (dia 15) e os restantes 600 a elementos da Orange The World, um movimento da ONU para erradicar da violência contra as mulheres. Quim Machado tinha pedido seis mil, mas apresentaram-se no Bonfim apenas 3.597. Ainda assim, a melhor assistência da época, superando as receções a Boavista (3.481), Rio Ave (3.079), V. Guimarães (3.510), Estoril (3.018), Arouca (3.069).

Miguel Lourenço e Nuno Pinto estiveram na Loja do Vitória antes do encontro a distribuir autógrafos.

Torino, Atalanta, Kansas City, Atlético Madrid, Sporting, Benfica e Belenenses estiveram em Setúbal a espiar.


Números


Vitória somou mais um ponto na luta pela permanência
Frederico Venâncio mantém-se como o único totalista da equipa: 990 minutos.

André Horta é o suplentes que Quim Machado mais vezes lançou em campo (6 jogos).

Os quatro anteriores confrontos entre Vitória e União, todos para a Liga 2, também terminaram empatados (1995/96 e 2003/04). Este foi o primeiro jogo oficial entre as duas equipas em mais de onze anos.

Contabilizando apenas as nove partidas entre ambos para a Liga/I Divisão, a vantagem pertence aos madeirenses: quatro vitórias, quatro empates e apenas uma derrota. O único triunfo vitoriano foi precisamente no anterior confronto no principal escalão, a 28 de maio de 1995. Os sadinos golearam por 4-1, no Bonfim, mas as duas equipas acabaram por descer de divisão.

O Vitória não somava 15 ou mais pontos à 11.ª jornada desde 2007/08, com Carlos Carvalhal ao leme. Na temporada passada só conseguiu atingiu 15 pontos à 18.ª.

Os sadinos também não tinham no seu registo 18 ou mais golos à 11.ª jornada desde essa saudosa época 2007/08 (também 18). Na época transata só alcançaram 18 à 25.ª.

Desde 2010/11 que o Vitória não sofria apenas 16 ou menos golos nas primeiras onze jornadas (12).



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