sábado, 19 de setembro de 2015

Em duelo de Vitórias, só o de Setúbal jogou

Arnold bisou e foi o homem do jogo
Depois da pesada derrota na Madeira, diante do Marítimo (2-5), Quim Machado não foi de modas e fez cinco alterações no onze, mexendo pela primeira vez no meio-campo e ataque. O que aparentava ser um 4x4x2 clássico, com Dani e Rúben Semedo no duplo pivot, nem ficou muito percetível, uma vez que logo no primeiro minuto Fábio Pacheco foi expulso e o jogador emprestado pelo Sporting recuou para central.

O lance que ditou a expulsão de Fábio Pacheco e a grande penalidade madrugadora assinalada a favor do V. Guimarães (convertida em golo por Henrique Dourado) e a boa resposta do Vitória sadino ilustram bem o que foi o jogo: apenas os de Setúbal jogaram.


Os minhotos, mesmo apanhando-se em vantagem numérica e no marcador bem cedo, foram sempre uma equipa lenta, previsível e com falta de objetividade, concentração e garra. Consequentemente, raramente criaram (na verdadeira aceção do verbo criar) ocasiões de golo. A exceção foi um remate de Josué ao poste, aos 7 minutos.

A apatia vimaranense espelha-se até nos dois golos que marcou. O primeiro através de um penalty construído por um mau passe de Suk e talvez alguma falta de frieza de Fábio Pacheco. O segundo no autogolo de Rúben Semedo, numa jogada que aparentemente nem ia levar muito perigo. Ou seja, mais por demérito e infelicidade dos de Quim Machado do que por mérito dos de Armando Evangelista.

Entre ambos os tentos dos de Guimarães, uma grande exibição da equipa da casa, que não acusou psicologicamente a dupla penalização ao minuto inaugural. A formação do Bonfim (disposta em 4x4x1) mostrou crença e espírito de sacrifício, com muitos jogadores a terem de se desdobrar dentro de campo e a terem de atuar em posições que não são as suas e para as quais não iam preparados. Falo, por exemplo, de Costinha, extremo improvisado médio-centro – improvisado é mesmo o termo correto, uma vez que não se pode considerar sequer adaptado – e de André Claro, que ora era extremo-esquerdo, ora era segundo avançado, numa missão de grande desgaste.

Onze do Vitória durante 76 minutos
Apesar dos elogios que têm de ser feitos a praticamente todos os jogadores sadinos, foi Arnold o homem do jogo. Dá para perceber que não é um grande prodígio do ponto de vista técnico, mas o próprio está ciente das suas limitações e, especialmente das suas potencialidades: grande velocidade e bom remate. Foi com essas armas que o congolês foi à luta, e foi com elas que disparou dois tiros certeiros na baliza de Douglas.

Voltou a faltar aos setubalenses a estrelinha que os nortenhos continuam a ter. Os primeiros voltam a ceder um empate caseiro a dois golos depois de terem estado em vantagem; os segundos beneficiam novamente de um tento na própria baliza para somar pontos. Frente ao Tondela foram três, no Bonfim um.

Se a uns os dois pontos perdidos e novo encontro sem ganhar em casa acaba por ser atenuado pela exibição em desvantagem numérica, a outros a felicidade e os pontos vão disfarçando um futebol pobre. Nas contas dos de Setúbal, irão fazer falta estes pontos perdidos no Bonfim? E para os de Guimarães, a necessitar de chicotada psicológica, até quando os pontos vão sobreviver apesar da pobreza exibicional?



Ficha de jogo


I Liga – 3.ª jornada

Estádio do Bonfim, em Setúbal


Vitória (4x4x2): Ricardo; William Alves, Frederico Venâncio c, Fábio Pacheco e Ruca; Arnold (Vasco Costa, 82), Rúben Semedo, Dani e Costinha (Paulo Tavares, 77); Suk e André Claro (André Horta, 77)

Suplentes não utilizados: Raeder (GR), François, Miguel Lourenço e Uli Dávila

Treinador: Quim Machado

Disciplina: Cartão amarelo a Suk (12’), Arnold (42’), Rúben Semedo (70’), Paulo Tavares (90+3’) e William Alves (90+4’); cartão vermelho direto a Fábio Pacheco (1’)


Vit. Guimarães (4x2x3x1): Douglas c; Bruno Gaspar, Josué, João Afonso e Breno (Arrondel, 36); Bouba Saré e Tozé; Tomané, Montoya (Ricardo Gomes, 68) e Ricardo Valente (Licá, 54); Henrique Dourado

Suplentes não utilizados: Assis (GR), Pedro Henrique, Cafú e João Vigário

Treinador: Armando Evangelista

Disciplina: Cartão amarelo a Bouba Saré (30’), João Afonso (39’), Ricardo Valente (40’), Tomané (41’), Tozé (47’) e Arrondel (48’)


Árbitro: Tiago Martins (AF Lisboa), assistido por André Campos e Paulo Ramos e com Bruno Rebocho como 4.º árbitro


Golos


0-1, por Henrique Dourado (2, g.p.). Suk recebeu a bola a meio-campo, junto à linha lateral e, pressionado por Montoya, foi recuando e atrasou-a para a sua área. No entanto, foi Henrique Dourado que a recebeu e, quando já se isolava, foi derrubado por Fábio Pacheco. Assinalada grande penalidade que o próprio Henrique Dourado converteu em golo, atirando para o lado direito de Ricardo.

1-1, por Arnold (14). Costinha, em missão defensiva, recuperou a bola junto à sua área e deixou-a em Arnold, que recebeu-a ainda no seu meio-campo, desmarcou Suk na direita e correu em velocidade para área, onde haveria de receber o passe do coreano, parar a bola e rematar para o fundo das redes.

2-1, por Arnold (66). Costinha, descaído para o lado direito, cruza para o coração da área, onde aparece Bruno Gaspar a cortar de cabeça mas para uma zona onde estava Arnold que rematou certeiro.

2-2, por Rúben Semedo (73, p.b.). Ricardo Gomes, no lado direito, consegue passar por André Claro e Ruca, ganhou posição e cruzou para o interior da área onde Rúben Semedo, ao primeiro poste, desvia para a própria baliza, tendo a bola ainda batido em Ricardo.


Estatísticas (Vitória-V. Guimarães)


Posse de bola (%): 37-63

Ataques: 24-29

Remates: 9-17

Cantos: 4-4

Faltas cometidas: 20-15

Foras de jogo: 0-3


Apreciação individual


Ricardo: Regressou aos jogos da Liga mais de um ano depois, somando a primeira titularidade da temporada. Não teve um início feliz, ao sofrer um golo de grande penalidade logo aos 2’, embora ainda tenha adivinhado o lado para que a bola foi. Foi traído pelo desvio infeliz de Rúben Semedo no 2-2 (73’). Ainda assim, exibição segura na estreia com a camisola sadina, apesar do pouco trabalho que teve. Um acréscimo de qualidade em relação a Raeder.

William Alves: Não deu grande profundidade ao corredor e defensivamente esteve muitas vezes mal posicionado, sendo bem visível que ainda se está a adaptar a uma nova posição. Parece-me algo duro de rins, talvez precisando de perder algum peso. Para quando a estreia de Gorupec?

Frederico Venâncio: Iniciou um encontro na condição de capitão pela primeira vez em 2015/16. Patrulhou a defesa, sempre com muita segurança e concentração. Vai mostrar ainda mais o que vale quando estiver incorporado numa dupla de centrais com mais rotinas.

Fábio Pacheco: Ainda não se tinha completado um minuto de jogo quando foi expulso por travar Henrique Dourado, que seguia isolado. Pode discutir-se se podia ou não ter tido outra abordagem ao lance, mas numa coisa não há dúvidas: o passe de Suk queimou-o.

Velocidade é a grande arma de Arnold
Ruca: Pela primeira vez com a camisola sadina atuou como lateral-esquerdo, posição na qual se destacou na temporada transata ao serviço do Mafra. Vontade não lhe falta, apesar de algumas debilidades técnicas e dificuldades de adaptação ao ritmo da Liga. Na ausência de Nuno Pinto, foi o responsável pela execução de boa parte das bolas paradas. Foi da sua autoria um livre direto muito bem marcado que obrigou Douglas a grande defesa (39’).

Arnold: Mostrou serviço na primeira vez que foi titular, ao apontar dois golos. No lance do primeiro, desmarcou Suk e desmarcou-se a toda a velocidade para a área, para concluir o lance (14’). No segundo, aproveitou um mau corte de Bruno Gaspar para fuzilar Douglas (66’). Aposta na sua velocidade para ultrapassar os adversários e gerar desequilíbrios, ao ponto de já lhe chamarem Arnold Bolt. Mais: nunca se demitiu de tarefas defensivas, dobrando ou fazendo a cobertura a William Alves.

Dani: Primeira titularidade da época de um dos jogadores com mais anos de casa. Em relação à qualidade de passe de Paulo Tavares, fica a perder. Já do ponto de vista defensivo, creio que é melhor a ocupar os espaços. As faltas que comete são ainda longe da área sadina, cortando potenciais ataques perigosos logo a meio-campo, não arriscando assim cometê-las em zonas onde poderia ver cartão amarelo e originar livres perigosos.

Rúben Semedo: Foi lançado para o meio-campo, mas acabou por ter de fazer 89 minutos (mais a compensação) a central, devido à expulsão de Fábio Pacheco. Impôs-se defensivamente pelo físico, impulsão e bom posicionamento. Mostrou qualidade em sair a jogar, embora não fique isento de maus passes. Não comprometeu e acabou por ser infeliz ao desviar para a própria baliza um cruzamento de Ricardo Gomes (73’).

Costinha: Era para ter atuado como extremo-esquerdo, mas com a equipa reduzida a dez passou para o centro do meio-campo logo no minuto inaugural, em missão de sacrifício. Deu-se bem na zona central, tendo, com bastante garra, recuperado a bola que originou o lance do 1-1 (14’). Voltou a estar na jogada do 2-1, ao fazer o cruzamento mal aliviado por Bruno Gaspar (66’). Cumpriu defensivamente como se jogasse nessa posição há muito tempo e, quando a equipa recuperava o esférico, tentava deixá-lo jogável num companheiro.

Suk leva quatro golos e três assistências em 2015/16
Suk: Passe a queimar para Fábio Pacheco originou a expulsão do central e a grande penalidade que daria o 0-1 (1’). Tentou redimir-se pouco depois (4’), com um remate ao lado. Aos 7’ não voltou a ficar bem na fotografia, ao permitir que Josué, no seu raio de ação, rematasse ao poste. Recuperou o sorriso com a assistência para o 1-1 (14’). Sempre a tentar levar a equipa para a frente.

André Claro: Embora fosse o extremo-esquerdo no sistema de 4x4x1 com que a equipa jogou durante 76 minutos, apareceu muitas vezes no corredor central, como se desdobrasse em segundo avançado. Mais um em missão de sacrifício.

Paulo Tavares: Refrescou o meio-campo e ainda esteve perto de marcar, ao rematar forte para defesa de Douglas (82’).

André Horta: Entrou cheio de vontade, tentando dinamizar o processo ofensivo do Vitória na procura pelo terceiro golo.

Vasco Costa: Estreia absoluta na Liga para o ex-Fafe, ainda que com poucos minutos para se mostrar.


Outras notas


O lateral-esquerdo Nuno Pinto foi expulso frente ao Marítimo e por isso falhou o jogo com o Vitória de Guimarães por castigo.

Lukas Raeder, Paulo Tavares e André Horta sentaram-se pela primeira vez no banco na presente temporada.

3.510 espetadores no Bonfim. Atendendo que a partida foi uma sexta-feira à noite, que a equipa vinha de uma derrota pesada e que até foi a melhor assistência da temporada, creio que se pode falar em boa casa.

Sporting, Schalke, Sevilha, Celta, Rayo Vallecano, Villarreal, Granada, Chievo, Génova, Sassuolo, Nice e Toulouse estiveram no Bonfim a espiar.


‘Opta Vitória’


Ricardo e Vasco Costa foram, respetivamente, 19.º e 20.º jogadores a serem utilizados por Quim Machado nesta temporada.

Suk e Frederico Venâncio (450 minutos) são os únicos totalistas da equipa.

Ruca foi titular nas cinco primeiras jornadas da Liga mas apenas neste encontro jogou pela primeira vez os 90 minutos. Curiosamente, da única vez até há data em que atuou como lateral-esquerdo.

Fábio Pacheco foi o primeiro jogador na Liga a ser expulso por duas vezes nesta temporada. Já tinha acontecido na parte diante da Académica, na 2.ª jornada. Assim sendo, vai falhar a deslocação ao terreno do Nacional, na próxima ronda.

Terceiro jogo no Bonfim na presente temporada, terceiro empate a dois. Já assim tinha sido nas receções a Boavista (1.ª jornada) e Rio Ave (3.ª). Em todas o Vitória esteve a ganhar pelo menos por 2-1.

Um duelo entre Vitórias já não terminava empatado no Bonfim para a Liga desde 17 de agosto de 2009 (0-0).

É preciso recuar 14 anos para ver o Vitória marcar doze (ou mais) golos nas primeiras cinco jornadas da Liga. Foi em 2001/02 e o treinador chamava-se… Jorge Jesus.

Suk somou a terceira assistência na temporada. Como marcou quatro golos, esteve em sete dos 12 remates certeiros do Vitória em 2015/16.










1 comentário:

  1. É sempre bonito fazer blogs e Facebooks com fotografias que são trabalho dos outros!

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