terça-feira, 30 de abril de 2013

Reportagem | A paixão pela arbitragem

Gosto pela atividade é fomentado no Núcleo do Barreiro




Fundado em 1965, o Núcleo de Confraternização de Árbitros de Futebol no Barreiro, é um importante parceiro para organismos regionais e nacionais relacionados com a modalidade. Todos os anos se concretizam cursos para candidatos que pretendam singrar na arbitragem e todas as sextas-feiras, homens e mulheres do apito se reúnem na sede para discutir lances, confraternizar e fazer testes.

Miguel Jacob, 33 anos, é árbitro da terceira categoria nacional e vice-presidente da direção. Frequentou o curso de candidatos há mais de uma década, não tendo grandes expetativas na altura, mas rapidamente se apaixonou pela atividade. “Depressa fiquei apanhado pelo desafio e pela causa”, confessa. Atualmente, devido a reestruturações no setor, afirma que as suas ambições foram “substancialmente encurtadas” e o objetivo é a continuação nos quadros nacionais.

Miguel Jacob
Tendo um cargo de responsabilidade no NCAFB, lamenta a dificuldade no recrutamento de novos juízes, associando-a à “falta de uma cultura desportiva forte” e ao “estigma associado aos árbitros”. O polémico caso do Apito Dourado relacionou a atividade com a corrupção, no entanto, Jacob defende a figura do homem do apito: “é suscetível falhar como qualquer outro dos envolvidos no jogo falha”.

Quem anda na arbitragem lida frequentemente com insultos dirigidos pelo público e isso pode mexer psicologicamente com quem tem o poder de tomar as decisões. “Com o tempo e experiência é algo que com o qual se aprende a conviver e a superar”, admitindo mesmo que é necessário algum treino mental.

A possível criação de uma academia relacionada com o setor é vista com bons olhos, “que irá permitir melhorar e uniformizar a qualidade da arbitragem em todos os seus domínios”, queixando-se apenas da sua “tardia implementação”.

O presidente da direção do NCAFB é Nuno Roque, de 40 anos, árbitro assistente de primeira categoria nacional. Atua, frequentemente, em jogos da Liga ZON Sagres. Interessou-se pela arbitragem com 17 anos, por influência do pai e, hoje em dia, considera-se “praticamente dependente desta atividade”.

Nuno Roque
À imagem de Miguel Jacob, também defende a profissionalização do setor: “por tudo o que movimenta esta indústria terá que ser dado esse passo a muito breve trecho.” Enquanto tal não acontece, tem de conciliar o seu emprego, vida familiar e arbitragem, gerindo esse facto “com muito sacrifício, utilizando o tempo que deveria ser dedicado ao descanso, para treinar, estudar e arbitrar”. Roque tem a tarefa árdua de lidar com atletas de alta competição, o que lhe exige uma preparação muito complexa. Para além do treino físico e mental, estuda as equipas, e visualiza lances/jogos, no entanto, as rotinas com outros árbitros também são importantes. “É fundamental que os elementos que constituem uma equipa de arbitragem tenham fortes laços de amizade uns com os outros”, acrescenta.

A escolha pela bandeirola em detrimento do apito foi feita de uma forma praticamente aleatória. “Tinha que optar rapidamente por uma das funções e foi quase pelo método da cara ou coroa”, confessa. Na altura, estava nos quadros de árbitro assistentes da segunda categoria nacional e tinha vaga garantida no quadro de observações da primeira categoria distrital como chefe de equipa.

Roque aponta para “concentração, boa condição física, perseverança, capacidade para decidir no limite e de ultrapassar o erro” como as principais qualidades de um bom fiscal de linha, como popularmente se chama a quem desempenha esse papel.

Embora se trate de uma atividade dominada por homens, também existem mulheres a dar cartas na arbitragem. Rita Oliveira, 17 anos, é árbitra desde o final de 2011, e não sente qualquer tipo de descriminação. Apesar de admitir que ainda é uma surpresa para jogadores e treinadores quando aparece para arbitrar, faz uma declaração curiosa: “confesso que gosto muito de liderar vinte e dois homens, nem que seja por alguns minutos”. A paixão pela arbitragem nasceu pelo gosto que já tinha pelo futebol: “Joguei dos cinco aos catorze anos, acabando por abandonar a minha curta carreira quando me lesionei gravemente na virilha”. Dois anos depois, e já recuperada da lesão, interessou-se pela atividade quando o seu professor de educação física lhe mostrou um vídeo de um jogo da equipa que treinava, e quem dirigia essa partida era uma senhora.
Rita Oliveira

Como muitas vezes constitui equipa com dois sujeitos do género masculino, uma das primeiras perguntas que surgem é como fazem no balneário? “É óbvio que não tomamos banho nem nos vestimos juntos”, esclarece, “mas a parte de preencher modelos, ver cartões e discussões de decisões é igual”.

Geralmente, um aspeto menos positivo em ser árbitro é se ser insultado pela tomada de uma decisão que possa gerar controvérsia, mas será assim, também, com senhoras? “O único jogo em que fui insultada do início ao fim foi num campo onde só existiam mulheres. Elas sim, são muito más e não percebem muito do assunto”, assegura. “Já os homens costumam mandar piropos e até arranjar as mais insólitas desculpas para um erro cometido. É curioso, mas é verdade”, acrescenta.

Com os atletas, a relação também é diferente: “num jogo liderado por uma mulher ou até por esta estar apenas na linha existe, muito mais respeito do que numa equipa totalmente masculina”

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